O hipogonadismo relacionado à idade envolve declínio progressivo da testosterona, impactando libido, função sexual e risco de doenças metabólicas, cardiovasculares e osteoporóticas.
O papel dos minerais (ferro, zinco, cobre, fósforo, cálcio) na regulação hormonal é reconhecido, mas pouco claro devido a estudos anteriores limitados.
Recente revisão publicada no Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism (JCEM) traz novas informações sobre o tema.
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Principais achados
- Ferro como modulador central
- Relação positiva entre ferro sérico e testosterona total (TT) em homens de meia-idade (35–49 anos).
- Identificada relação não linear em “J”, com ponto de inflexão em 12,18 µmol/L: abaixo desse valor não houve benefício; acima, níveis mais altos de ferro associaram-se a maior testosterona.
- MR (Mendelian randomization) confirmou efeito causal, embora enfraquecido quando ajustado para fatores metabólicos (lipídios, glicemia).
- Outros minerais
- Associações dos valores séricos de fósforo, cobre, zinco e cálcio perderam significância após ajustes multivariados.
- Sugere que apenas o ferro exerce papel robusto e consistente na função gonadal em homens de meia-idade.
- Efeito modulador da idade
- Jovens (<35 anos): associações fracas ou mediadas por fatores comportamentais (ex.: álcool).
- Meia-idade (35–49): janela crítica em que ferro auxilia na síntese de testosterona.
- Idosos (≥50): presença de inflamação crônica, estresse oxidativo e comorbidades máscara ou inverte os efeitos benéficos do ferro.
- Mecanismos biológicos propostos
- Ferro atua como cofator em enzimas esteroidogênicas (CYP11A1/CYP17A1), no transporte de colesterol (StAR) e no metabolismo redox mitocondrial.
- Excesso de ferro pode induzir estresse oxidativo (reação de Fenton), prejudicando células de Leydig.
- Descoberta de um metabólito derivado da degradação da bilirrubina (C16H18N2O5) que medeia negativamente a relação ferro-testosterona (−68% do efeito), indicando possível via tóxica de regulação.
Impacto clínico potencial
- Ferro como alvo terapêutico:
- Suplementação personalizada para casos que apresentem deficiência pode representar estratégia para retardar o declínio da testosterona em homens de meia-idade, desde que dentro de uma “janela terapêutica segura”.
- A avaliação do status metabólico (glicemia, lipídios, inflamação) é essencial antes de intervir, pois condições como hiperglicemia podem inverter o efeito benéfico em efeito tóxico.
- Estratégias combinadas:
- Suplementação de ferro poderia ser associada a antioxidantes (ex.: N-acetilcisteína) para reduzir riscos de estresse oxidativo.
- Abordagem de precisão:
- A idade deve ser considerada um modificador fundamental na relação minerais-hormônios (o benefício foi restrito a pacientes de meia idade)
- Propõe-se um modelo de nutrição de precisão e prevenção personalizada no manejo do hipogonadismo masculino.
Em resumo: o artigo identifica o ferro como regulador crítico da testosterona em homens de meia-idade, com potencial para intervenções nutricionais individualizadas, mas alerta para riscos em excesso e necessidade de considerar o contexto metabólico e inflamatório.
Autoria

Luciano de França Albuquerque
Graduação em medicina pela Universidade Federal do Vale do São Francisco • Residência em Clínica Médica pelo Hospital Regional de Juazeiro – BA • Residência em Endocrinologia e Metabologia pelo Hospital das Clínicas da UFPE • Título de Especialista pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia • Médico Endocrinologista no Hospital Esperança Recife e Hospital Eduardo Campos da Pessoa Idosa
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