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Endocrinologia14 outubro 2025

Papel dos micronutrientes no hipogonadismo masculino

Recente revisão publicada no JCEM traz novas informações sobre o papel dos micronutrientes no hipogonadismo, destacando o ferro como um fator importante.

O hipogonadismo relacionado à idade envolve declínio progressivo da testosterona, impactando libido, função sexual e risco de doenças metabólicas, cardiovasculares e osteoporóticas. 

O papel dos minerais (ferro, zinco, cobre, fósforo, cálcio) na regulação hormonal é reconhecido, mas pouco claro devido a estudos anteriores limitados. 

Recente revisão publicada no Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism (JCEM) traz novas informações sobre o tema. 

Veja também: Quando usar clomifeno no hipogonadismo masculino?

hipogonadismo masculino

Principais achados 

  1. Ferro como modulador central 
  • Relação positiva entre ferro sérico e testosterona total (TT) em homens de meia-idade (35–49 anos). 
  • Identificada relação não linear em “J”, com ponto de inflexão em 12,18 µmol/L: abaixo desse valor não houve benefício; acima, níveis mais altos de ferro associaram-se a maior testosterona. 
  • MR (Mendelian randomization) confirmou efeito causal, embora enfraquecido quando ajustado para fatores metabólicos (lipídios, glicemia). 
  1. Outros minerais 
  • Associações dos valores séricos de fósforo, cobre, zinco e cálcio perderam significância após ajustes multivariados. 
  • Sugere que apenas o ferro exerce papel robusto e consistente na função gonadal em homens de meia-idade. 
  1. Efeito modulador da idade 
  • Jovens (<35 anos): associações fracas ou mediadas por fatores comportamentais (ex.: álcool). 
  • Meia-idade (35–49): janela crítica em que ferro auxilia na síntese de testosterona. 
  • Idosos (≥50): presença de inflamação crônica, estresse oxidativo e comorbidades máscara ou inverte os efeitos benéficos do ferro. 
  1. Mecanismos biológicos propostos 
  • Ferro atua como cofator em enzimas esteroidogênicas (CYP11A1/CYP17A1), no transporte de colesterol (StAR) e no metabolismo redox mitocondrial. 
  • Excesso de ferro pode induzir estresse oxidativo (reação de Fenton), prejudicando células de Leydig. 
  • Descoberta de um metabólito derivado da degradação da bilirrubina (C16H18N2O5) que medeia negativamente a relação ferro-testosterona (−68% do efeito), indicando possível via tóxica de regulação. 

Impacto clínico potencial 

  • Ferro como alvo terapêutico: 
  • Suplementação personalizada para casos que apresentem deficiência pode representar estratégia para retardar o declínio da testosterona em homens de meia-idade, desde que dentro de uma “janela terapêutica segura”. 
  • A avaliação do status metabólico (glicemia, lipídios, inflamação) é essencial antes de intervir, pois condições como hiperglicemia podem inverter o efeito benéfico em efeito tóxico. 
  • Estratégias combinadas: 
  • Suplementação de ferro poderia ser associada a antioxidantes (ex.: N-acetilcisteína) para reduzir riscos de estresse oxidativo. 
  • Abordagem de precisão: 
  • A idade deve ser considerada um modificador fundamental na relação minerais-hormônios (o benefício foi restrito a pacientes de meia idade) 
  • Propõe-se um modelo de nutrição de precisão e prevenção personalizada no manejo do hipogonadismo masculino. 

Em resumo: o artigo identifica o ferro como regulador crítico da testosterona em homens de meia-idade, com potencial para intervenções nutricionais individualizadas, mas alerta para riscos em excesso e necessidade de considerar o contexto metabólico e inflamatório. 

Autoria

Foto de Luciano de França Albuquerque

Luciano de França Albuquerque

Graduação em medicina pela Universidade Federal do Vale do São Francisco • Residência em Clínica Médica pelo Hospital Regional de Juazeiro – BA • Residência em Endocrinologia e Metabologia pelo Hospital das Clínicas da UFPE • Título de Especialista pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia • Médico Endocrinologista no Hospital Esperança Recife e Hospital Eduardo Campos da Pessoa Idosa

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Referências bibliográficas

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