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Endocrinologia5 setembro 2025

Orientações sobre prescrição de inibidores de SGLT2 e efeitos geniturinários

Estudo avaliou a prevalência de incontinência urinária em adultos com diabetes tipo 2 indicados para SGLT2i
Por Paulo Melo

Os inibidores do cotransportador sódio-glicose tipo 2 (SGLT2i) deixaram de ser terapias de segunda linha para se tornarem recomendações de primeira escolha, segundo as novas diretrizes da American Diabetes Association (ADA) e da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), principalmente em pacientes com diabetes tipo 2 (DM2) e doença cardiovascular aterosclerótica, insuficiência cardíaca, doença renal crônica e sobrepeso/obesidade. 

O mecanismo de ação dessa medicação é o aumento da glicosúria, que resulta em aumento da diurese osmótica. Esse processo, embora esteja diretamente relacionado aos benefícios cardiorrenais já bem estabelecidos da classe, pode, por outro lado, intensificar sintomas urinários e favorecer a ocorrência de infecções geniturinárias. Tais efeitos adversos estão entre as principais causas de descontinuação do tratamento. 

Diante da hipótese de que pacientes idosos, em uso de SGLT2i, poderiam apresentar maior risco de infecções geniturinárias pela combinação de glicosúria e perda urinária frequente, o estudo teve como objetivo estimar a prevalência de incontinência urinária em adultos norte-americanos com diabetes tipo 2 e mais de 55 anos que atendiam aos critérios da ADA para uso de SGLT2i, comparando subgrupos por idade e sexo, e avaliando potenciais implicações para prática clínica e segurança terapêutica 

Metodologia: 

O estudo foi uma análise transversal baseada em dados do National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES, 2013–2020), representativos da população não institucionalizada dos Estados Unidos. Foram incluídos participantes acima de 55 anos com diagnóstico de DM2, excluindo-se aqueles com provável diabetes tipo 1 (diagnóstico < 30 anos e uso precoce de insulina), além de indivíduos com dados laboratoriais ou clínicos ausentes. A amostra final contemplou 1.726 participantes. 

As indicações para o uso de SGLT2i seguiram as recomendações da ADA 2024. O uso específico dessa classe é indicado para pacientes com insuficiência cardíaca ou doença renal crônica. Já nos casos de doença cardiovascular estabelecida ou de alto risco cardiovascular, além dos SGLT2i, os análogos do GLP-1 também são considerados alternativas terapêuticas recomendadas. A incontinência urinária foi definida por autorrelato de perdas “algumas vezes por semana” ou “diariamente/noite”. A análise utilizou ponderações estatísticas do NHANES para gerar estimativas nacionais. 

Resultados encontrados e discussão: 

A população estudada (n = 1.726) representou aproximadamente 16 milhões de adultos dos EUA com DM2, idade média de 67,8 anos, IMC médio de 32,2 kg/m², sendo 44,4% do sexo feminino. Do total, 19,6% tinham indicação específica para SGLT2i, cerca de 3,1 milhões de pessoas, e 50,9% para SGLT2i ou GLP-1RA, o que corresponde aproximadamente 8,2 milhões. Entre os candidatos a SGLT2i, a prevalência de incontinência urinária frequente foi de 32,4%, afetando quase metade das mulheres (48,4%) e cerca de 19% dos homens. 

Esses achados reforçam o risco potencial de agravamento dos sintomas urinários após início da terapia, sobretudo em mulheres idosas, grupo em que a incontinência foi mais prevalente. O dado encontrado é de grande relevância, pois mulheres já apresentam maior vulnerabilidade às infecções genitais e pacientes com maior tempo de exposição à hiperglicemia parecem mais suscetíveis aos efeitos urinários adversos. 

Apesar de não haver recomendação oficial de exclusão de pacientes com incontinência do uso de SGLT2i, os resultados apontam para a necessidade de abordagem individualizada, com aconselhamento e monitoramento rigoroso após a introdução da medicação. O estudo abre espaço para futuras pesquisas sobre a interação entre incontinência, risco de infecções geniturinárias e adesão à terapia, além de destacar a falta de evidências que considerem o risco dos efeitos colaterais por sexo e idade. 

Conclusão: 

Este estudo evidencia que quase metade das mulheres e cerca de um quinto dos homens norte-americanos acima de 55 anos com indicação para SGLT2i apresentam incontinência urinária frequente autorrelatada. Embora isso não configure contraindicação absoluta, a presença desse sintoma deve servir como alerta para os médicos ao prescreverem esses medicamentos. No contexto brasileiro, a Dapagliflozina já está disponível no SUS para casos de diabetes tipo 2 com critérios definidos, o que amplia a aplicabilidade prática desses achados. 

Portanto, recomenda-se que os médicos ao prescrevem a medicação adotem uma postura proativa ao investigar sintomas urinários, orientar pacientes quanto ao aumento esperado da diurese e reforçar medidas preventivas para infecções geniturinárias, como higiene adequada e acompanhamento precoce de sinais de complicações. Essa estratégia pode melhorar a adesão, reduzir descontinuações e otimizar os benefícios cardiorrenais dos SGLT2i na população com indicação de uso. 

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