O escore de cálcio coronariano (CAC) é uma ferramenta de estratificação de risco cardiovascular cada vez mais relevante na prática clínica do endocrinologista, especialmente no manejo de pacientes com diabetes tipo 2 e outras condições de risco intermediário para doença aterosclerótica. Calculado por meio de tomografia computadorizada sem contraste, o CAC quantifica a carga de calcificação nas artérias coronárias utilizando o método de Agatston.
O conhecimento do CAC permite refinar a avaliação de risco além dos tradicionais escores clínicos, como o ASCVD Risk Score, influenciando decisões sobre o início ou intensificação de terapias preventivas.
##Interpretação
A interpretação clínica do CAC deve seguir critérios bem estabelecidos:
- CAC = 0: Ausência de calcificação. Indica risco muito baixo de eventos cardiovasculares nos próximos 5 a 10 anos.
- CAC entre 1 e 99: Presença de calcificação leve. Representa risco levemente aumentado.
- CAC entre 100 e 399: Calcificação moderada, associada a risco significativamente elevado.
- CAC ≥ 400: Calcificação extensa, sugerindo alto risco e possível doença coronariana obstrutiva.
##Condutas baseadas no CAC
O CAC é particularmente útil para reclassificar pacientes inicialmente classificados como de risco intermediário (risco estimado de 7,5% a 20% para eventos cardiovasculares em 10 anos).
- Se CAC = 0:
O paciente pode ser reclassificado para baixo risco. Na ausência de fatores de risco majorados (como diabetes, tabagismo ativo ou história familiar de DAC precoce), é razoável postergar o início de estatinas, focando em intervenção intensiva sobre estilo de vida. - Se CAC entre 1 e 99:
Em pacientes acima de 55 anos, recomenda-se considerar o início de estatinas para prevenção primária. Em adultos mais jovens, a decisão deve ser compartilhada, ponderando os benefícios da farmacoterapia frente ao risco absoluto. - Se CAC ≥ 100:
O paciente deve ser reclassificado como de alto risco cardiovascular. A recomendação é iniciar estatinas em dose moderada a alta intensidade (a depender da diretriz), independentemente dos níveis basais de LDL-colesterol.
Para o endocrinologista, é fundamental reconhecer que:
- Em pacientes com diabetes mellitus, um CAC > 10 já indica alto risco cardiovascular, mesmo que o paciente tenha perfil de risco intermediário em modelos tradicionais.
#Limitações e cuidados
Embora o CAC seja altamente específico para aterosclerose, há limitações importantes:
- Não detecta placas moles não calcificadas, que podem ser instáveis.
- Não avalia diretamente a gravidade de estenoses.
- Pode subestimar o risco em pacientes jovens
Além disso, o CAC não substitui o bom julgamento clínico, especialmente em situações de risco muito alto onde a conduta terapêutica já é claramente indicada independentemente do escore.
O escore de cálcio coronariano é uma ferramenta objetiva, acessível e altamente útil para o endocrinologista. Sua correta interpretação permite reclassificar riscos, evitar terapias desnecessárias em alguns casos e justificar intervenções mais intensivas em outros. Saber utilizar o CAC na prática clínica contribui para uma abordagem de medicina preventiva mais precisa, baseada em evidências, e, sobretudo, personalizada para cada paciente.
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