Estudos com roedores relataram que os agonistas do receptor de GLP-1 (GLP-1 RAs) podem causar hiperplasia de células C da tireoide, adenomas e carcinomas, como o câncer medular da tireoide, de maneira dose-dependente e tempo-dependente. No entanto, o nível de expressão do receptor de GLP-1 no tecido tireoidiano é específico da espécie, com níveis mais elevados de expressão do receptor relatados em roedores em comparação com humanos. Além disso, a exposição ao GLP-1RA em estudos com roedores também é administrada em altas doses. Portanto, ainda não está claro se tais descobertas são relevantes para humanos, visto que nenhum risco foi relatado em ensaios clínicos existentes.
Métodos
Um estudo de caso-controle publicado em 2023, baseado em dados do sistema nacional de saúde da França, investigou a possível associação entre o uso GLP-1 RAs e o risco de câncer de tireoide em indivíduos com diabetes tipo 2 (DM2) em terapia de segunda linha. Os resultados apontaram um aumento de 58% no risco de câncer de tireoide entre os usuários com exposição entre 1 e 3 anos, e um aumento de 36% entre aqueles com uso superior a 3 anos. No entanto, críticas metodológicas foram levantadas, destacando limitações no desenho do estudo e o risco de confundidores residuais não mensurados, com recomendações para que novos dados sejam disponibilizados a fim de confirmar ou refutar esses achados.
A iniciativa Large-Scale Evidence Generation and Evaluation Across a Network of Databases for Type 2 Diabetes Mellitus (LEGEND-T2DM) visa gerar evidências confiáveis sobre os efeitos de agentes hipoglicemiantes utilizados no tratamento do DM2, utilizando dados observacionais de saúde, por meio da execução de uma série de estudos observacionais comparativos. Um dos braços dessa iniciativa foi recentemente publicado na Diabetes Care com o objetivo de determinar se pacientes com DM2 que iniciam GLP-1RAs apresentam maior risco de tumores tireoidianos em comparação com pacientes que iniciam outros agentes, incluindo inibidores do cotransportador sódio-glicose 2 (iSGLT2), inibidores da dipeptidil peptidase 4 (iDPP-4) ou sulfonilureias (SU).
Resultados
O número de pacientes incluídos em todos os bancos de dados variou de 316.587 a 460.032 iniciando GLP-1 RAs, 713.801 a 717.792 iniciando iSGLT2, 1.990.074 a 2.055.583 iniciando iDPP-4 e 1.104.270 a 1.119.868 iniciando SU. Não foi observado nenhum aumento estatisticamente significativo no risco de tumores da tireoide entre novos usuários de GLP-1 RAs em comparação com novos usuários de iSGLT2, iDPP-4 ou sulfonilureias, com resultados consistentes em diversas abordagens analíticas.
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Conclusão
Embora existam limitações inerentes a estudos observacionais, a robustez metodológica e o grande número de pacientes reforçam a confiabilidade dos achados. Ao contrastar com estudos anteriores, como o caso-controle francês que sugeriu aumento de risco, esse estudo oferece evidências mais consistentes.
Mensagem prática
Em resumo, os resultados desse estudo trazem um alívio importante para a prática clínica: não foi encontrada evidência de que o uso de agonistas do receptor de GLP-1 aumente o risco de tumores tireoidianos em pessoas com diabetes tipo 2. Isso reforça a segurança desses medicamentos, cada vez mais utilizados por seus benefícios metabólicos e cardiovasculares. No entanto, o acompanhamento contínuo e a vigilância pós-comercialização continuam sendo importantes para garantir a tranquilidade de médicos e pacientes.
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