A Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) atualizou recentemente suas diretrizes e incluiu, pela primeira vez, um capítulo exclusivo sobre vacinação no diabetes. O documento reflete a crescente evidência de que pessoas com diabetes apresentam vulnerabilidade aumentada a diversas doenças infecciosas e seus desfechos mais graves. A inclusão deste capítulo sinaliza um avanço importante na abordagem multidisciplinar do cuidado, equiparando a revisão do calendário vacinal à relevância de exames oftalmológicos, podológicos e laboratoriais no acompanhamento de rotina.
A resposta vacinal em pessoas com diabetes pode ser menos robusta, especialmente quando há controle glicêmico inadequado, mas ainda assim é suficiente para reduzir complicações graves e mortalidade. O controle glicêmico ótimo, por outro lado, tende a gerar resposta imune comparável à de indivíduos sem diabetes, reforçando a importância de manter hemoglobina glicada abaixo de 7% como parte da estratégia de imunização.
O documento enfatiza que a vacinação no diabetes não é apenas prevenção de doenças infecciosas, mas também parte de uma estratégia de proteção cardiovascular e de preservação da funcionalidade a longo prazo. Infecções respiratórias, por exemplo, estão associadas ao aumento do risco de eventos aterotrombóticos agudos, exacerbação de doenças crônicas, declínio funcional e piora de condições metabólicas. Ao prevenir essas infecções, a vacinação contribui para reduzir internações e mortalidade, além de melhorar a qualidade de vida.
Recomendações específicas sobre vacinas:
- Influenza
Indicar vacinação anual a partir dos 6 meses de idade. Em indivíduos com 60 anos ou mais, preferir vacinas de alta dose ou com adjuvantes. A imunização reduz hospitalizações, mortalidade geral e cardiovascular, além de prevenir complicações metabólicas.
- COVID-19
Indicar vacinação anual com formulações atualizadas (mRNA ou subunidade proteica) para todas as faixas etárias a partir de 6 meses. Pessoas com diabetes apresentam risco duas vezes maior de mortalidade e maior chance de formas graves, especialmente com controle glicêmico inadequado.
- Pneumocócicas
Para adultos não vacinados, preferir a vacina conjugada 20-valente (VPC20) em dose única. Alternativamente, VPC15 ou VPC13 seguidas de VPP23, com reforço de VPP23 após cinco anos. A imunização reduz risco de pneumonia e doença pneumocócica invasiva.
- Herpes Zoster
Recomendar a vacina recombinante inativada a partir dos 50 anos, em duas doses com intervalo de 2 a 6 meses. Indicar independentemente de histórico prévio da doença ou vacinação anterior. Protege contra neuralgia pós-herpética e outras complicações.
- Hepatite B
Vacinar todas as pessoas com diabetes, independentemente da idade. Utilizar esquema de 3 doses (0, 1 e 6 meses) e considerar sorologia pós-vacinal em grupos de maior risco de não resposta. A vacinação previne surtos associados ao compartilhamento de dispositivos de monitoramento glicêmico.
- Vírus Sincicial Respiratório (VSR)
Indicar uma dose única para pessoas com 60 anos ou mais e diabetes, utilizando qualquer vacina licenciada. Previne doença grave do trato respiratório inferior e suas complicações.
A atualização do calendário vacinal deve ser encarada como parte essencial da prática clínica, com igual prioridade às demais medidas de prevenção e controle da doença.
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