As terapias com base em agentes incretínicos, como semaglutida e tirzepatida, representam um avanço significativo no tratamento da obesidade, promovendo importante redução de peso e melhora de comorbidades metabólicas. Contudo, essas medicações estão associadas a efeitos adversos que necessitam de manejo adequado para garantir adesão e segurança a longo prazo.
Este texto resume pontos práticos de uma publicação recente do JAMA, com ênfase em condutas para a prática clínica.
- Efeitos gastrointestinais
Náusea, diarreia, vômitos, constipação e dispepsia são os eventos adversos mais frequentes. Ocorrem geralmente nas primeiras 48 horas após início da medicação ou escalonamento da dose. A maioria é de intensidade leve a moderada, mas pode levar à descontinuação em até 10% dos casos em estudos clínicos.
Medidas recomendadas:
- Iniciar na menor dose (semaglutida 0,25 mg; tirzepatida 2,5 mg) e realizar escalonamento gradual;
- Individualizar a titulação conforme tolerabilidade, priorizando manutenção da dose eficaz em vez de atingir obrigatoriamente a dose máxima;
- Orientar refeições fracionadas, mastigação lenta, redução de alimentos ricos em gordura, álcool e bebidas gaseificadas;
- Em casos sintomáticos: considerar ondansetrona para náuseas e vômitos, bloqueadores H2 ou inibidores de bomba de prótons para dispepsia, e medidas para constipação (hidratação, fibras, psyllium, laxativos osmóticos ou estimulantes);
- Persistência de sintomas pode indicar necessidade de redução da dose, manutenção por período prolongado antes do próximo aumento ou troca de classe.
- Perda de peso excessiva e sarcopenia
Semaglutida e tirzepatida podem promover reduções médias de 15% e 21% do peso, respectivamente. Perda superior a 5% ao mês ou sinais de fragilidade devem ser avaliados. Idosos apresentam maior risco de sarcopenia, associada à perda de massa magra e declínio funcional.
Orientações práticas:
- Monitorar peso, circunferência abdominal, composição corporal (quando disponível), força muscular (teste de sentar-levantar, dinamometria);
- Garantir ingestão proteica mínima de 1,3 g/kg/dia;
- Prescrever exercícios resistidos pelo menos duas vezes por semana;
- Avaliar necessidade de intervenção nutricional especializada ou ajuste da terapia.
- Interrupção e retomada do tratamento
Suspensões podem ocorrer devido a procedimentos com anestesia geral, indisponibilidade do fármaco ou intolerância. Se duas ou mais doses forem omitidas, recomenda-se reinício em dose inferior e escalonamento gradual, visando reduzir risco de eventos gastrointestinais.
- Cuidados com estilo de vida
A redução do apetite induzida pela medicação pode levar à ingestão calórica insuficiente e deficiência nutricional. Recomenda-se acompanhamento nutricional, priorizando qualidade da dieta, com inclusão de proteínas magras, vegetais, frutas, cereais integrais e gorduras saudáveis. Orientar atividade física aeróbica e resistida para preservação de massa magra e saúde óssea.
Avaliar periodicamente parâmetros metabólicos e ajustar medicações para diabetes ou hipertensão a cada 3 meses, considerando melhora glicêmica e redução da pressão arterial durante o uso de incretínicos.
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