A obesidade é uma condição crônica cuja incidência e prevalência vem aumentando significativamente em todo o mundo. Além das conhecidas consequências a longo prazo, a gestação é mais uma das situações que merece destaque pelo impacto que o excesso de peso materno pode trazer.
Recentemente, foi publicada uma revisão no New England Journal of Medicine (NEJM) a respeito da obesidade na gestação, suas consequências e condutas que podem ser tomadas. Abordando especificamente o manejo da obesidade na gestação, o que fazer?
Cuidados pré-parto
Toda mulher em idade fértil, que tenha desejo de engravidar, deve ser aconselhada sobre os benefícios trazidos pela perda de peso para a gestação, bem como a subfertilidade que pode acometer mulheres com obesidade. Aquelas que apresentam comorbidades devem ser encaminhadas para especialistas para cuidado e tratamento.
A cirurgia bariátrica é uma opção de tratamento importante para obesidade grau III ou grau II com comorbidades, mas é importante lembrar que o Colégio Americano de Ginecologia e Obstetrícia (ACOG) recomenda aguardar 12 a 18 meses após a cirurgia para engravidar.
O IMC deve ser acompanhado durante toda a gestação. Aconselhamento sobre plano alimentar, atividade física e velocidade de ganho de peso materno devem ser tópicos abordados em todas as visitas pré natais. O ganho de peso materno é algo que merece atenção especial, uma vez que dados dos EUA mostram que apenas 32% das gestantes com obesidade ganham a quantidade de peso recomendado para o IMC e o risco de que estas gestantes ganhem peso além do recomendado é cerca de 2-3x maior que gestantes em outras faixas de IMC.
A recomendação de ganho de peso para gestantes com obesidade (IMC maior ou igual a 30 kg/m²) é de 5 a 9 kg ao longo de toda a gestação, sendo no primeiro trimestre um ganho de 0,2 a 2 kg e no segundo e terceiro trimestres, uma média de ganho de 0,2 kg/semana.
Pelo risco aumentado de comorbidades, as gestantes devem ser rastreadas para diabetes gestacional (prática que é indicada em todas as gestantes no Brasil), hipertensão, depressão, proteinúria e apneia do sono. Todas devem ser submetidas a ultrassonografia para datação, avaliação morfológica e acompanhamento do crescimento fetal.
Existe a possibilidade de se recomendar o uso de AAS 75 mg/d para prevenção de pré-eclâmpsia em gestantes com IMC maior que 35. O ACOG recomenda também avaliação de bem estar fetal a partir das 34 semanas se IMC maior que 40kg/m² e a partir das 37 semanas se IMC acima de 35.
Cuidados durante e após o parto
Obesidade em si não é uma indicação de cesárea ou de indução de parto. É importante lembrar do maior risco de trombose e, portanto, é necessário uso de compressão pneumática antes e depois de um parto cesárea. Opções farmacológicas também devem ser consideradas, sobretudo em gestantes com obesidade grau III.
O estímulo precoce ao aleitamento materno deve ser realizado, sobretudo após parto cesárea. Além disso, é importante o aconselhamento sobre os riscos da obesidade para a mãe e para o filho. Após o término do aleitamento materno, opções medicamentosas podem ser empregadas para o tratamento daquelas que apresentarem indicação.
Mensagem final
A obesidade deve ser encarada de forma séria tanto antes como durante a gestação, uma vez que é uma condição onde há aumento de morbidade e mortalidade materno-fetal. Existem formas de manejar e tratar essa condição, sobretudo antes da gestação.
Mudanças no padrão alimentar devem ser asseguradas a fim de reduzir o ganho de peso excessivo durante a gestação e como método de prevenção de diabetes gestacional e outras condições.
Em se tratando de uma condição que trará consequências a longo prazo para a mãe, vale lembrar que os cuidados e mudanças devem ser sustentáveis, de forma que a gestação seja uma janela de oportunidade onde as mães, mais motivadas, aprendam e cultivem hábitos saudáveis e que possam impactar não só no ganho de peso adequado durante a gestação, mas também na perda de peso após.
Este conteúdo foi produzido em co-autoria com Ênio Luis Damaso:
Doutor em Ciências Médicas pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) ⦁ Professor no Curso de Medicina da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo (FOB-USP) ⦁ Professor no Curso de Medicina do Centro Universitário Estácio de Ribeirão Preto
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