Em indivíduos com obesidade, a perda de peso pode reduzir fatores de risco e, consequentemente, diminuir a carga de condições crônicas graves, como diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares. Mesmo diante das novas ferramentas farmacológicas disponíveis, a modificação do padrão alimentar, com redução do consumo de calorias, segue como estratégia fundamental no tratamento da obesidade. O jejum intermitente se fundamenta em períodos de jejum ou ingestão restrita de energia alternados com períodos de consumo energético normal ou ad libitum. Embora venha se tornando uma estratégia popular de perda de peso, os efeitos do jejum intermitente na saúde em comparação com uma restrição calórica usual permanecem obscuros.
Neste cenário, uma meta-análise publicada recentemente no British Medical Journal (BMJ), os pesquisadores reuniram dados de 99 ensaios clínicos randomizados e controlados (6600 pacientes, a maioria com sobrepeso ou obesidade e outras comorbidades metabólicas) que compararam restrição energética contínua e dietas ad libitum com uma das três principais modalidades de jejum intermitente: jejum em dias alternados, alimentação com restrição de tempo (janela de alimentação de 8h por dia) e jejum de dia inteiro (2 dias de jejum por semana). Os tempos de acompanhamento variaram de 3 a 52 semanas; os estudos foram analisados como de curto prazo (<24 semanas) ou de longo prazo.
Os resultados mostram que todas as estratégias de jejum intermitente produziram reduções significativas de peso em comparação com dietas ad libitum. Já quando comparado a restrição calórica contínua, o jejum em dias alternados foi a única intervenção com reduções adicionais de peso corporal (−1,29 kg). Importante destacar que essa diferença não atingiu o limiar de relevância clínica pré-estabelecido de pelo menos 2 kg. Os fatores de risco cardiometabólicos melhoraram com todas as estratégias de dieta em comparação com uma dieta irrestrita. Nenhuma estratégia de dieta foi associada a níveis mais baixos de hemoglobina glicosilada ou níveis mais altos de colesterol HDL.
Veja também: Os efeitos do jejum intermitente (JJI) em fatores de risco para doenças cardiovasculares
Ainda assim, alguns ensaios randomizados demonstraram que o jejum em dias alternados pode induzir perdas de peso mais substanciais (cerca de 4-6 kg em 8-12 semanas), acompanhadas por reduções de gordura visceral e melhorias cardiometabólicas, especialmente em adultos com obesidade ou doença hepática gordurosa associada a disfunção metabólica.
As estratégias de jejum intermitente podem ser atraentes para alguns pacientes, porque parecem mais fáceis de sustentar do que dietas continuamente restritivas. No entanto, os estudos com duração inferior a 24 semanas relataram adesão superior a 80%, enquanto ensaios com seguimento superior a 52 semanas mostraram um declínio acentuado na adesão, com níveis abaixo de 22% após um ano. Qualquer intervenção estruturada — incluindo a restrição calórica contínua — pode apresentar benefícios decorrentes não apenas do padrão alimentar, mas também do suporte profissional, planejamento e educação nutricional. A qualidade da dieta durante os dias livres de restrição pode afetar os resultados do jejum em dias alternados; entretanto, essa associação não foi sistematicamente avaliada em ensaios clínicos. São necessários estudos especificamente desenhados para isolar esse componente e entender seu impacto nos desfechos metabólicos. Concluindo, o jejum intermitente se apresenta como mais uma ferramenta útil dentro de um modelo de cuidado que deve ser abrangente e centrado no paciente.
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