A Endocrine Society publicou agora, em julho de 2025, o seu mais novo guideline sobre hiperaldosteronismo primário (HP), com atualizações importantes sobre o diagnóstico e tratamento desta condição endócrina, cuja prevalência é atualmente considerada maior do que se pensava antigamente: presente em até 14% dos indivíduos com hipertensão vistos na atenção primária e em até 30% dos casos em centros de referência.
Além disso, o HP está associado a maior risco de complicações cardiovasculares (doença aterosclerótica, insuficiência cardíaca e fibrilação atrial) do que em pacientes com hipertensão primária. Estes dados epidemiológicos, associados ao fato de que o rastreio do hiperaldosteronismo ainda é abaixo do que deveria, motivou os autores do novo guideline a fazerem a primeira recomendação do documento:
O screening para HP deve ser realizado em todos os indivíduos com hipertensão arterial.
Esta é uma mudança em relação ao documento de 2016 que orientava o rastreio apenas em grupos específicos de maior risco. Os autores, entretanto, reconhecem que esta é uma recomendação que tem limitações, uma vez que depende da capacidade do sistema de saúde e da expertise local.
O exame de triagem recomendado persiste sendo a dosagem de aldosterona sérica e de atividade de renina plasmática (ou de renina direta) para cálculo da relação aldosterona/renina (RAR). O potássio sérico deve ser dosado conjuntamente, uma vez que a hipocalemia pode reduzir falsamente os níveis de aldosterona, negativando a RAR. Desta forma, se há hipocalemia e a triagem for negativa, os níveis de potássio devem ser normalizados e o rastreio repetido.
O rastreio é considerando positivo quando:
- A atividade de renina plasmática (ARP) é menor ou igual a 1 ng/ml/h ou a renina direta é menor ou igual a 8,2 Um/L.
- A aldosterona sérica é maior ou igual a 10 ng/dl se medida por imunoensaio ou a 7,5 ng/dl se medida por cromatografia líquida-espectrometria de massa (LC-MS).
- A RAR é acima de 20 (se utilizada a ARP em ng/ml/h) ou acima de 2,5 (se utilizada a renina direta em Um/L). O guideline de 2016 já citava o ponto de corte de 20 para a RAR, mas enfatizava que o ponto de corte de 30 era mais aceito. No entanto, este último ponto de corte não é mais citado no recente documento.
No entanto, os autores enfatizam que nenhum ponto de corte é perfeito, de forma que a interpretação deve levar em consideração a probabilidade pré-teste e os medicamentos potencialmente interferentes:
- Se o screening é negativo, mas a probabilidade pré-teste é moderada a alta (hipocalemia e/ou hipertensão resistente) ou a renina está suprimida mas com aldosterona sérica entre 5 a 10 ng/dl (por imunoensaio), o teste deve ser repetido em um dia diferente.
- Se o screening é negativo, mas o paciente estiver em uso de anti-hipertensivos que possam causar falso-negativo, a medicação deve ser suspensa (se possível) antes da retestagem: 4 semanas antes para antagonistas do receptor de mineralocorticoide e outros diuréticos; 2 semanas antes para inibidores da enzima conversora de angiotensina e bloqueadores do receptor de angiotensina.
- Se o screening é positivo, mas o paciente estiver em uso de anti-hipertensivos que possam causar falso-positivo, como beta-bloqueadores e alfa2-agonistas centrais (clonidina, metildopa), o teste deve ser repetido após 2 semanas de suspensão da medicação. Porém, se os níveis de aldosterona estiverem acima de 15 ng/dl (por imunoensaio), o HP é muito provável a despeito do uso de beta-bloqueador e a repetição pode não ser necessária.
Importante lembrar que a suspensão dos anti-hipertensivos para realização do screening só deve ser realizada se for considerada segura e factível.
Em um segundo texto, destacaremos as recomendações referentes à necessidade de testes confirmatórios, à indicação do cateterismo de veias adrenais e ao tratamento.
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