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Endocrinologia8 dezembro 2025

Guideline 2025: Manejo do hipoparatireoidismo crônico em adultos

Nova guideline da Sociedade Europeia de Endocrinologia atualiza diagnóstico, manejo e tratamento do hipoparatireoidismo crônico em adultos.

O hipoparatireoidismo é uma condição endócrina caracterizada por baixos níveis de cálcio e paratôrmonio (PTH) baixos ou inapropriadamente normais. Trata-se de uma desordem rara, cujo manejo clínico constitui grande desafio na área médica.  

Sua prevalência gira em torno de 6,4 a 38 casos/100.000 sendo a maioria deles decorrente de pós-operatório de cirurgias cervicais a exemplo da tireoide e das paratireoides. 

Recentemente, foi publicado um guideline revisado pela Sociedade Europeia de Endocrinologia para diagnóstico e manejo terapêutico do hipoparatireoidismo (hipoPT) crônico em adultos.  

Vamos discorrer sobre as principais recomendações. 

Guideline hipoparatireoidismo crônico 2025

Quanto ao diagnóstico: 

guideline recomenda que o diagnóstico de hipoparatireoidismo crônico seja feito em pacientes com hipocalcemia persistente e níveis de PTH baixos ou inapropriadamente normais. Além disso, testes genéticos devem ser realizados quando a causa cirúrgica ou demais causas mais óbvias sejam excluídas. 

guideline define como hipoPT cirúrgico persistente quando ele ocorre por mais de 12 meses depois da cirurgia, diferente do guideline de 2015 que definia acima de 6 meses. 

As principais comorbidades que estão associadas ao hipoPT crônico são: declínio de função renal, nefrolitíase, nefrocalcinose; aumento de infecções, desordens neuropsiquiátricas como ansiedade e depressão; fadiga muscular; dores articulares; aumento do risco cardiovascular como arritmias, insuficiência cardíaca e ICC e catarata. 

Quanto aos alvos do manejo: 

Para o manejo clínico do HipoPT crônico, é recomendado que o paciente seja absorvido em centro médico experiente e focado no bem-estar do paciente, visando melhorar sua qualidade de vida, minimizar os sintomas da hipocalcemia, otimizar o prognóstico e manter os níveis de cálcio no limite inferior da normalidade. Sendo assim, é importante orientar e educar os pacientes para reconhecer os sinais e sintomas de hipo ou hipercalcemia. 

As principais metas do manejo clínico são: calciúria de 24h normal, níveis de fosfato e magnésio dentro dos valores de referência e níveis de vitamina D (25-OH-Vitamina D)> 30ng/mL. 

Quanto ao tratamento: 

É recomendado o tratamento para todos os pacientes com HipoPT  crônico que apresentem sintomas de hipocalcemia e/ou cálcio ajustado pela albumina < 8mg/dL ou cálcio iônico < 1mmol/L. 

Mesmo para os pacientes assintomáticos, o tratamento também é recomendado para pacientes com cálcio ajustado pela albumina entre 8 mg/dL e o limite inferior de referência ou cálcio iônico entre 1mmol/L e o limite inferior de referência. 

É recomendado que os pacientes recebam análogos de vitamina D ativa sempre que possível (alfacalcidol 0,5-4g/dia ou calcitriol – 0,25-2ug/dia). Caso não seja possível, utilizar doses suprafisiológicas de colecalciferol (800-2000I/dia). Tais medidas visam reduzir os sintomas de hipocalcemia e manter os níveis séricos de cálcio dentro dos limites recomendados. 

De modo análogo, a ingesta de cálcio diária também deve ser adequada para 800-1000mg/dia. Os suplementos de cálcio são recomendados quando a ingesta diária dietética é insuficiente ou os níveis de cálcio não atingiram os valores recomendados com o tratamento apenas com vitamina D. 

A suplementação com cálcio elementar deve ser feita com 500mg/dia ou mais, fracionados em pequenas doses ao longo do dia. O carbonato de cálcio é o mais utilizado por ser mais rentável, porém necessita de acidez gástrica para ser bem absorvido. Já citrato malato de cálcio pode ser utilizado em situações de acloridria e está associado a menor risco de nefrolitíase. 

A recomendação de reposição de PTH deve ser feita para pacientes com hipoPT crônico com persistência dos sintomas apesar do tratamento otimizado com suplementação de vitamina D e cálcio. As principais indicações são: flutuações nos níveis séricos de cálcio ou hipocalcemia sintomática, prejuízo na qualidade de vida atribuída ao hipoPT crônico, redução da função renal (TFG < 60mL/min/1,73m2), hipercalciúria (300mg/24h para homens ou 250/mg/24h para mulheres) e/ou hiperfosfatemia. Em casos de hipercalciúria, é recomendado que medidas sejam adotadas para reduzir o cálcio na urina a exemplo dos diuréicos tiazídicos.  Caso a reposição de PTH seja iniciada, é recomendada uma reavaliação após 6-12 meses. 

Quanto à monitorização: 

 Quanto ao monitoramento, o guideline recomenda dosagem de PTH pelo menos 1x ao ano, dosagem de cálcio ajustada pelos níveis de albumina, cálcio iônico, fósforo, magnésio, creatinina e cálculo de taxa de filtração glomerular a cada 3-6 meses, bem como monitoramento dos sinais e sintomas de hipo e hipercalcemia. 

Para cada alteração no tratamento, é recomendado uma reavaliação a cada 1-2 semanas. O guideline também sugere a dosagem de calciúria de 24h 1x a cada 1-2 anos. Exames de imagem não são recomendados de forma rotineira a não ser que haja suspeita de nefrolitíase, nefrocalcinose ou declínio de função renal. 

Por fim, o guideline alerta para rastreio de comorbidades, bem como o risco de fraturas de forma similar à população geral. 

Autoria

Foto de Juliane Braziliano

Juliane Braziliano

Médica graduada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Residência de Endocrinologia e Metabologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Residência de Clínica Médica pelo Hospital Federal dos Servidores do Estado (HFSE). Editora-médica de Endocrinologia do Portal Afya.

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