A obesidade e o sobrepeso são condições muito prevalentes, afetando cerca de 43% da população global e associando-se a diversas comorbidades, como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e câncer. Nesse contexto, a abordagem da dieta é essencial para o manejo do peso. Contudo, a adesão de longo prazo a métodos tradicionais, como a restrição calórica contínua, permanece um desafio. Recentemente, estratégias dietéticas focadas no tempo de alimentação, como o jejum intermitente, a restrição do número de refeições e a distribuição calórica ao longo do dia, têm ganhado popularidade. Nesse sentido, o estudo “Meal Timing and Anthropometric and Metabolic Outcomes: A Systematic Review and Meta-Analysis“, publicado no JAMA Network Open em novembro de 2024, buscou avaliar a eficácia dessas intervenções em desfechos antropométricos e metabólicos.
O estudo realizou uma revisão sistemática com meta-análise incluindo 29 ensaios clínicos randomizados, com 2485 indivíduos, dos quais 69% eram mulheres, com idade média de 44 anos e índice de massa corporal (IMC) médio de 33 kg/m². Os critérios de inclusão foram adultos com ou sem comorbidades, sem histórico de alterações significativas no peso, gravidez ou cirurgia bariátrica. Os estudos analisaram estratégias como o time-restricted eating (TRE, tempo restrito de alimentação), frequência alimentar reduzida e distribuição calórica ao longo do dia, aplicadas por um tempo maior ou igual a 12 semanas.
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Resultados
Os achados indicaram que o TRE, com janelas de alimentação de 8 horas, promoveu uma redução média de peso de 1,37 kg (IC 95% -1,99 a -0,75 kg). Estratégias de menor frequência alimentar e consumo calórico concentrado no período diurno também resultaram em perda de peso significativa: -1,85 kg (IC 95% -3,55 a -0,13 kg) e -1,75 kg (IC 95% -2,37 a -1,13 kg), respectivamente. Entretanto, os efeitos observados apresentaram alta heterogeneidade e baixa certeza devido a vieses metodológicos e inconsistências nos resultados dos estudos analisados. A revisão mostrou que indivíduos com IMC mais elevado apresentaram maior resposta à intervenção.
Implicações Práticas
Apesar de os efeitos observados nas estratégias de tempo de alimentação sejam promissores, eles ainda são modestos em termos de magnitude, com relevância clínica incerta, segundo os achados do estudo. Comparativamente, estudos anteriores que pesquisaram estratégias de restrição calórica contínua mostraram perdas de peso maiores em períodos similares. Além disso, a heterogeneidade dos métodos entre os estudos revisados, como a falta de padronização no consumo energético, contribuiu, segundo os autores, para limitar a generalização dos resultados.
Resultados de estudos anteriores, como o de Jakubowicz et al. (2013), reforçam que a distribuição calórica priorizando refeições matutinas pode melhorar parâmetros metabólicos, incluindo controle glicêmico e perfil lipídico. No entanto, a longo prazo, a eficácia dessas intervenções ainda depende de adesão sustentada e de suporte dietético individualizado.
O desenho dos estudos analisados destacou uma ausência de rigor no controle sobre a qualidade da dieta e uma dificuldade em garantir adesão às janelas alimentares, questões que refletem desafios na aplicação prática dessas estratégias de tempo de alimentação por médicos e outros profissionais de saúde.
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Conclusões
O estudo demonstra que estratégias de tempo de alimentação, como o TRE, a menor frequência de refeições ou o consumo calórico mais concentrado no início do dia, estiveram associados a uma pequena perda de peso e à melhora da função metabólica. Embora os tamanhos de efeito tenham sido modestos, essas estratégias podem ser viáveis para a redução de peso sustentada a longo prazo, inclusive como uma abordagem complementar, especialmente em populações com IMC elevado. Contudo, a dificuldade relatada na consistência metodológica limita a possibilidade de indicações formais para a aplicação prática imediata desses resultados. Estudos futuros com maior rigor metodológico, padronização de intervenções e acompanhamento prolongado são necessários para avaliar a eficácia e sustentabilidade dessas estratégias.
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