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Endocrinologia28 agosto 2025

Efeitos dos análogos de GLP-1 em sintomas psiquiátricos

Artigo visou avaliar a eficácia dos análogos de GLP-1, medicamentos usados para tratamento de obesidade e diabetes mellitus tipo 2, em sintomas psiquiátricos.
Por Juliane Braziliano

Com a popularidade do uso de análogos de GLP-1 para o tratamento de condições metabólicas como obesidade e diabetes mellitus tipo 2, muitos estudos visam avaliar outros possíveis benefícios dessa classe de medicações. 

Recentemente foi publicado um artigo que visou avaliar a eficácia desses medicamentos em sintomas psiquiátricos. Vamos ver o que o artigo nos trouxe de relevante. 

Introdução 

O glucagon peptídeo 1-like (GLP-1) é um hormônio multifuncional secretado primariamente pelas células L do íleo, cólon, reto e regiões específicas do Sistema Nervoso Central (SNC). Em reposta à ingesta dietética, o GLP-1 ativa os seus receptores, levando à redução da secreção de glucagon, aumentando a secreção de insulina, atuando também na supressão do apetite, e no retardo do esvaziamento gástrico, o que contribui para homeostase glicêmica e perda ponderal. 

Alguns estudos sugerem que os análogos de GLP-1 atuam em áreas do SNC, reduzindo neuroinflamação, aumentando neurogênese, melhorando a plasticidade neuronal e modulando neurotransmissores importantes em desordens psiquiátricas. Sendo assim, o seu interesse em condições como ansiedade, depressão, abuso de drogas e déficit cognitivo vem aumentando. 

O presente estudo visou avaliar o efeito dos análogos de GLP-1 em sintomas psiquiátricos, com estudos categorizando tais sintomas como desfechos primários e outros como desfechos secundários. Os estudos de desfechos primários foram projetados pra analisar especificamente os efeitos psiquiátricos das medicações, enquanto os estudos de desfechos secundários são decorrentes de ensaios metabólicos, onde os efeitos psiquiátricos foram incidentais, mas com insights sobre potenciais mecanismos indiretos das medicações após melhora do perfil metabólico. 

Metodologia 

A presente revisão recolheu vários estudos em base de dados eletrônicas até o período de novembro de 2024. Tais estudos avaliaram o uso de análogos de GLP-1 relacionados aos sintomas psiquiátricos, tanto em desfechos primários como em desfechos secundários. 

Resultados 

No total, foram incluídos 26 estudos, sendo cinco analisando os sintomas psiquiátricos como desfechos primários e 21 como desfechos secundários. 

Para estudos com análise dos sintomas psiquiátricos como desfechos primários, foram avaliados os transtornos de uso de substâncias (TUS). Exenatide e dulaglutida mostraram efeitos discretos na redução de desejos e consumo de substâncias como cocaína, álcool e nicotina. 

Para desordens do humor, a dose de 1,8mg/dia de liraglutida melhorou as escalas de depressão e anedonia em pacientes com transtorno depressivo maior ou transtorno bipolar, embora os estudos tivessem uma amostra pequena de pacientes. 

Para os estudos que realizaram a análise como desfecho secundário, os análogos de GLP-1 apresentaram múltiplos efeitos. Para pacientes com DM2, semaglutida e dulaglutida melhoraram a qualidade de vida dos pacientes, reduzindo sintomas de compulsão alimentar. Alguns casos relataram efeitos adversos psiquiátricos decorrentes da medicação tais como ansiedade e depressão. Já para obesidade, a semaglutida foi mais eficaz no controle da compulsão alimentar e na perda ponderal quando comparada à liraglutida. 

Discussão 

A presente revisão sintetiza as evidências dos análogos de GLP-1 em sintomas psiquiátricos, com descobertas em transtornos de uso de substâncias, distúrbios metabólicos e condições psiquiátricas associadas. Para os TUS, ainda há muitas lacunas para serem preenchidas de modo a melhor entender o papel neurobiológico dos análogos de GLP-1. A melhora dos sintomas psiquiátricos em pacientes com doenças metabólicas, pode ser um viés de confundimento, visto que tal melhora pode ser atribuída à redução do peso e melhora do perfil metabólico. 

Conclusão e mensagem prática 

Os análogos de GLP-1 possuem potencial para melhorar sintomas psiquiátricos, especialmente em pacientes com condições metabólicas associadas, porém ainda com resultados controversos. 

Mais estudos são necessários com foco em tipos específicos de pacientes e efeitos de longo prazo para comprovar os reais benefícios extra metabólicos dessa classe medicamentosa. 

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Referências bibliográficas

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