Nos últimos tempos, houve grande progresso nas medicações para tratamento de diabetes mellitus tipo 2 (Dm2) e Obesidade. Nesse cenário, vem ganhando destaque a tirzepatida. Além dos benefícios glicêmicos e metabólicos, muitos estudos visam avaliar outros possíveis papéis dessa medicação tão promissora.
Recentemente, foi publicado um artigo que visou abordar o efeito da tirzepatida na insuficiência cardíaca (ICC) de pacientes com Dm2 e obesidade. Vamos ver o que o artigo nos trouxe de informações relevantes.

Introdução
A Obesidade é um importante fator patogênico do DM2 com uma prevalência crescente a nível global. Ambas as condições estão associadas a aumento de risco cardiovascular e maior chance de desenvolvimento de ICC.
Sendo assim, a maioria das medicações desenvolvidas para tratamento de DM2 também visam melhorar os desfechos renais e cardiovasculares, visto que esses estão associados à maior morbimortalidade.
A tirzepatida é um duplo agonista de GLP-1e GIP com importante papel na regulação glicêmica e do peso corporal. Alguns estudos envolvendo tal medicação, visam averiguar seus efeitos na regulação lipídica e aterosclerótica. Desse modo, o presente estudo teve como objetivo identificar o efeito da tirzepatida na ICC de pacientes com DM2 e sobrepeso/obesidade pela análise de diferentes subgrupos e comparar com placebo e demais medicações hipoglicemiantes.
Metodologia
Em base de dados eletrônicas, foram procurados artigos envolvendo tirzepatida e ICC até 13 de fevereiro de 2025.
Os critérios de inclusão foram: estudos envolvendo participantes com DM2 ou obesidade submetidos a terapia com tirzepatida (monoterapia ou terapia combinada) e grupo controle recebendo placebo ou outras medicações e com a análise de desfechos relacionados a ICC.
Já os critérios de exclusão foram: estudos que não foram ensaios clínicos, revisões, estudos transversais, relatos de caso, estudos com pacientes com DM1, saudáveis e que não estavam publicados na língua inglesa.
Resultados
Foram incluídos 11 estudos com 13.378 participantes com DM2, obesidade ou sobrepeso que foram acompanhados de 40 a 140 semanas. A idade média dos participantes variou de 44,9 a 63,6 anos e 29,4 a 75,6% dos participantes eram homens. Comparando com placebo e outros medicamentos hipoglicemiantes, a tirzepatida apresentou efeito neutro no risco de ICC, com nível de evidência moderado.
Discussão
Essa foi a primeira meta-análise sistemática que visou abordar o efeito da tirzepatida em desfechos relacionados a ICC em pacientes com Dm2 e obesidade. Os resultados mostraram que quando comparada com placebo e demais drogas hipoglicemiantes, ela não apresentou efeito protetor em relação a ICC nesse perfil de pacientes.
No entanto, como tiveram análises de subgrupos, algumas foram diferentes. Por exemplo, em pacientes com dm2 e sobrepeso/obesidade e idade < 58 anos, a tirzepatida apresentou efeito protetor em relação a ICC. Tal constatação reforça a importância da indicação adequada da medicação. Acredita-se que tal benefício seja maior em pacientes mais jovens devido à melhor função renal e, consequentemente, melhor reserva cardiovascular, o que capacita a tirzepatida a reduzir os desfechos cardiovasculares relacionados a ICC nesse perfil de pacientes.
O presente estudo contou com diversas limitações. A primeira delas é que não ficou muito clara a especificidade da tirzepatida em relação a sua eficácia quanto à diferentes faixas etárias. Além disso, alguns dados importantes não foram coletados tais como presença de hipertensão arterial e/ou doença renal crônica, o que comprometeu a veracidade dos achados. Alguns estudos também tiveram pouco tempo de seguimento, comprometendo a análise dos efeitos de longo prazo da tirzepatida. Por fim, a maior limitação do estudo foi o fato de a ICC não ter sido especificada como desfecho primário ou secundário nos estudos.
Conclusão
A tirzepatida apresentou efeito neutro em desfechos relacionados a ICC de pacientes com DM2 e/ou obesidade. No entanto, em pacientes com < 58anos, ela atingiu uma redução de risco de 60% nos pacientes em monoterapia.
A medicação é segura e eficaz para tratamento de DM2 e obesidade, porém mais estudos são necessários para averiguar as demais possibilidades terapêuticas da tirzepatida.
Autoria

Juliane Braziliano
Médica graduada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Residência de Endocrinologia e Metabologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Residência de Clínica Médica pelo Hospital Federal dos Servidores do Estado (HFSE). Editora-médica de Endocrinologia do Portal Afya.
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