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Endocrinologia28 outubro 2025

Diretriz 2025 da SBD: principais mudanças nas recomendações do manejo do diabetes

Confira a nova diretriz da SBD, com novas recomendações sobre tratamento, manejo de emergências hiperglicêmicas, manejo do diabetes no idoso e na DRC dialítica

A Sociedade Brasileira de Diabetes publicou, recentemente em 2025, atualizações sobre grande parte de seus capítulos de sua diretriz sobre o manejo de pacientes com diabetes. Novas recomendações sobre tratamento, manejo de emergências hiperglicêmicas, manejo do diabetes no idoso e na doença renal crônica dialítica são alguns dos mais importantes, os quais cobrimos aqui no portal em maiores detalhes. 

Contudo, dada a complexidade do manejo de tais pacientes, a SBD também trouxe novas recomendações também para temas que comumente recebem menos atenção, como por exemplo cuidados no perioperatório, programas de controle glicêmico, depressão associada ao diabetes e imunização. Tais temas são também fundamentais no cuidado holístico do indivíduo com DM. 

 Em todos esses tópicos, a diretriz busca alinhar evidência científica, segurança e aplicabilidade clínica, entregando recomendações que impactam diretamente o dia a dia do endocrinologista e das equipes multiprofissionais. Por sua relevância, trazemos os principais destaques contemplados nesses novos capítulos do guideline da SBD 2025. 

Cuidados na aplicação de insulina 

A SBD 2025 destaca a importância da padronização da técnica de aplicação de insulina, apontando que erros aparentemente simples podem comprometer o controle glicêmico e favorecer complicações. O documento orienta a utilização de agulhas de menor calibre, especialmente as de 4 mm, que reduzem o risco de injeção intramuscular e a variabilidade glicêmica, sempre que possível. O rodízio adequado dos sítios é reforçado como medida central, sendo considerado parte do tratamento e não apenas uma recomendação prática. A reutilização de agulhas é contraindicada, não apenas pelo risco de infecção, mas sobretudo pela associação consistente com lipo-hipertrofia, evento que compromete a absorção de insulina e, portanto, a estabilidade da glicemia.
Outro ponto detalhado é a homogeneização da insulina NPH, que deve ser feita com 20 movimentos suaves antes da aplicação, já que falhas nesse processo alteram significativamente o perfil de ação da insulina, seja no uso de ampolas ou no uso de canetas.  

Hiperglicemia hospitalar 

Os capítulos sobre hiperglicemia hospitalar agora contam com a divisão entre pacientes não críticos e críticos. Nestes últimos, a recomendação é manter glicemias entre 140–180 mg/dl, evitando tanto hiperglicemias persistentes quanto metas muito rígidas (<110 mg/dl), que aumentam o risco de hipoglicemia grave. O uso de protocolos padronizados de insulina venosa contínua é valorizado, com monitorização frequente e treinamento de equipe de enfermagem como pontos-chave. 

Nas enfermarias, a diretriz traz como ponto de corte para o diagnóstico de hiperglicemia hospitalar valores acima de 140 mg/dL, sendo que é recomendado iniciar o tratamento caso o paciente apresente níveis acima de 180 mg/dL em 2 ou mais aferições em 24h, nível chamado de hiperglicemia persistente. Os esquemas envolvendo o uso de insulina basal com a adição da insulina prandial como correção (basal plus) ou basal bolus são preferidos de acordo com o controle glicêmico em relação ao uso isolado de insulina regular em sliding scale, que não deve ser utilizado como monoterapia. 

Perioperatório

As novidades concentram-se na suspensão de fármacos antes de procedimentos: 

  • Os iSGLT2 devem ser suspensos de 3 a 4 dias antes da cirurgia, pelo risco de cetoacidose euglicêmica. 
  • Os agonistas de GLP-1 e co-agonistas GLP-1/GIP são os que sofreram a maior mudança na atualização. Os mesmos devem ser suspensos sete dias antes da cirurgia quando de longa duração e um dia antes quando de curta duração, em pacientes em fase de escalonamento/que não atingiram estabilidade terapêutica há pelo menos 12 semanas ou se fatores de risco adicionais para broncoaspiração. O risco central é o atraso do esvaziamento gástrico, com potencial para broncoaspiração no intraoperatório. Além da suspensão quando indicada, é recomendado dieta líquida sem resíduos nas 24h que antecedem o procedimento e, quando disponível, o uso de ultrassom point of care para avaliação de presença de resíduos gástricos antes da cirurgia.
     

Incentivo a programas de controle glicêmico 

Um ponto inovador é a ênfase em programas institucionais, com protocolos escritos, treinamento contínuo e auditoria de resultados. O guideline mostra que hospitais com programas estruturados de controle glicêmico reduzem mortalidade, tempo de internação e complicações infecciosas, estimulando a criação e adoção de protocolos locais com base em evidência. 

Depressão e diabetes 

A diretriz da SBD 2025 traz um capítulo atualizado sobre depressão e diabetes, reconhecendo a condição como uma das comorbidades mais prevalentes e impactantes no DM, com associação direta ao pior controle metabólico, menor adesão ao tratamento e maior risco de complicações. Recomenda-se o rastreamento sistemático, utilizando instrumentos validados como PHQ-9 ou GDS, integrando a avaliação à rotina de acompanhamento.
O manejo deve combinar psicoterapia, preferencialmente terapia cognitivo-comportamental, com tratamento farmacológico quando necessário. Na escolha dos antidepressivos, orienta-se considerar o impacto metabólico: tricíclicos e mirtazapina podem levar a ganho ponderal e piora da resistência insulínica, enquanto ISRS como sertralina e fluoxetina são considerados de melhor perfil. O texto também destaca a importância de integrar equipes de saúde mental ao cuidado do paciente diabético, superando a fragmentação assistencial. 

Imunização 

A diretriz de 2025 traz recomendações detalhadas e atualizadas sobre imunização, considerando o maior risco de infecções e complicações em pessoas com diabetes. É recomendado: 

  • Influenza: anual, para todas as idades a partir de 6 meses. 
  • COVID-19: igualmente indicada a partir dos 6 meses de idade, seguindo o cronograma atualizado do PNI/MS. É enfatizada a importância de reforços em indivíduos com diabetes, dado o maior risco de formas graves. 
  • Vírus sincicial respiratório (VSR): recomendada em dose única para pessoas com diabetes a partir de 60 anos, prevenindo infecções respiratórias baixas, que em diabéticos podem evoluir com mais gravidade. 
  • Herpes-zóster: a vacina recombinante é indicada a partir dos 50 anos, prevenindo tanto o zóster quanto complicações como a neuralgia pós-herpética, condição de impacto significativo na qualidade de vida. 
  • Pneumocócicas: indicadas a partir dos 50 anos, com uso das vacinas conjugadas (VPC) e, em esquemas complementares, da polissacarídica (VPP23), reduzindo a incidência de pneumonia e doença pneumocócica invasiva. 
  • Hepatite B: recomendada para todos os indivíduos com diabetes, independentemente da idade, devendo-se completar o esquema vacinal em soronegativos. 

A atualização da SBD 2025 traz recomendações detalhadas e atualizadas a respeito de diversos aspectos do cuidado em pacientes com diabetes. Por fins didáticos, cobrimos aqui pontos importantes de capítulos que costumam ser menos revisados, porém não deixe de conferir aspectos importantes também sobre o tratamento do DM e seu manejo em condições específicas, também aqui no Portal Afya. 

Autoria

Foto de Luiz Fernando Fonseca Vieira

Luiz Fernando Fonseca Vieira

Endocrinologista pelo HCFMUSP ⦁ Telemedicina no Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE) ⦁ Residência médica em Clínica médica pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) ⦁ Graduação em Medicina pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP) - Faculdade de Medicina de Botucatu

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