Gestantes com diabetes tipo 1 (DM1) apresentam altas taxas de eventos adversos na gravidez, incluindo anomalias congênitas, pré-eclâmpsia, partos prematuros e internações em terapia intensiva neonatal. A hiperglicemia é um fator de risco modificável para esses desfechos. O maior risco de hipoglicemia grave no início da gravidez e o aumento da resistência à insulina no terceiro trimestre levam a desafios para atingir a faixa específica de glicose de 63 a 140 mg/dL.
Pacientes com DM1 que dependem do manejo padrão com insulinoterapia intensiva estão fora dessa faixa cerca de 50% do tempo. Novos sistemas de insulinoterapia em circuito fechado (CLID) conectam um monitor contínuo de glicose a uma bomba inteligente de insulina. Esses modelos já demonstraram superioridades em pacientes com DM1 porém ainda não existiam dados sobre o manejo na gestação.
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Métodos do estudo
Em um ensaio aberto realizado no Canadá e na Austrália, pesquisadores randomizaram 91 gestantes com DM1 (com <14 semanas de gestação) para um sistema CLID ou para cuidados padrão. O cuidado “padrão” incluía um monitor contínuo de glicose, além de uma bomba de insulina ou múltiplas injeções diárias de insulina. Pacientes que usaram CLID passaram significativamente mais tempo na faixa alvo durante as semanas 16 a 34 da gravidez do que pacientes em tratamento padrão (65% vs. 50%), mesmo após considerar as disparidades no início do tratamento.
Resultados
Os grupos apresentaram taxas semelhantes de eventos de hipoglicemia leve ou moderada. Em análises exploratórias, o uso dos CLID levou a uma menor frequência de pré-eclâmpsia (14% vs 25%) e de recém-nascidos grandes para a idade gestacional (54 vs 61%).
Os dados apontam que mulheres com DM1 em uso de CLID passaram, em média, três horas a mais por dia dentro do alvo glicêmico. Além disso, essa abordagem levou a menor tempo abaixo de 63mg/dl e menor tempo acima de 140 mg/dl, menor glicemia média e menor variabilidade glicêmica.
Conclusão e mensagem prática
Esses achados foram consistentes, independentemente da HbA1c e do modo de uso de insulina, antes da entrada no estudo. Mas implementar um sistema CLID traz suas dificuldades próprias, principalmente no que se refere a disponibilidade de pessoal treinado para configuração do dispositivo, gerenciamento de alarmes e problemas técnicos, além do custo envolvido. Um investimento inicial para facilitar a adoção do CLID é necessário para colher os evidentes benefícios a longo prazo.
Autoria

Luciano de França Albuquerque
Graduação em medicina pela Universidade Federal do Vale do São Francisco • Residência em Clínica Médica pelo Hospital Regional de Juazeiro – BA • Residência em Endocrinologia e Metabologia pelo Hospital das Clínicas da UFPE • Título de Especialista pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia • Médico Endocrinologista no Hospital Esperança Recife e Hospital Eduardo Campos da Pessoa Idosa
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