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Endocrinologia18 novembro 2025

Combinar resistência e aeróbico potencializa o controle glicêmico no diabetes?

Nova metanálise está de acordo com as diretrizes atuais da ADA e da Sociedade Brasileira de Diabetes?
Por Paulo Melo

O diabetes mellitus tipo 2 (DM2) é a doença endocrinológica mais prevalente no mundo e representa um dos maiores desafios de saúde pública em razão das suas múltiplas complicações, com projeções de atingir mais de 1 bilhão de pessoas até 2050. Sua fisiopatologia é marcada pela resistência à ação da insulina e pela falência progressiva das células beta pancreáticas em sua secreção.  

O exercício físico tem papel terapêutico central no DM2, sendo capaz de melhorar a captação de glicose e reduzir a resistência insulínica. Os efeitos podem variar a depender da modalidade praticada. O treinamento aeróbico atua predominantemente por aumento da translocação do transportador GLUT4 no músculo esquelético e pela biogênese mitocondrial via AMPK-PGC1α, enquanto o treinamento resistido (musculação) favorece a hipertrofia muscular e favorece a sinalização insulínica via IRS-1/PI3K/Akt. 

O estudo em questão avaliou o grupo controle e oito modalidades de exercício: resistência (RT), treino com bola de ginástica (BT), resistência + caminhada (RT+Walk), resistência + corrida (RT+Running), resistência + ciclismo (RT+Bicycle), ciclismo isolado, corrida isolada e Tai Chi. 

O objetivo da metanálise foi comparar a eficácia dessas nove intervenções na sensibilidade à insulina em pacientes diabéticos, tendo como desfecho primário a variação da glicemia de jejum e como desfechos secundários a redução do índice HOMA-IR, buscando identificar quais modalidades apresentam maior benefício metabólico. 

 

Metodologia 

A metanálise foi conduzida segundo o protocolo PRISMA e registrada na base PROSPERO. Os autores realizaram busca sistemática em cinco bases de pesquisa (PubMed, Embase, Cochrane, Web of Science e CNKI) com estudos no período de 2004 a 2022. Apenas ensaios clínicos randomizados com grupo placebo ou controle foram incluídos, totalizando 21 estudos e 1.140 participantes. Estudos com dados incompletos, sem randomização ou não clínicos foram excluídos. A análise considerou estudos publicados em periódicos de bom impacto e realizados em países da América, Europa e Ásia, refletindo ampla diversidade populacional. 

A qualidade metodológica avaliou uma predominância de baixo a moderado risco de viés, principalmente pela impossibilidade de cegamento, o que já é esperado pela intervenção realizada. Aplicando o protocolo AMSTAR-2, a revisão é classificada como alta qualidade, sem falhas críticas e com boa consistência entre os estudos, embora limitada pela heterogeneidade moderada e pela falta de padronização na duração das sessões. 

 

Resultados e discussão

 O ciclismo apresentou o maior impacto na redução da glicemia de jejum, enquanto o treino resistido (RT) mostrou melhor desempenho na melhora da insulina de jejum e o treino combinado (RT+Running) teve a melhor classificação para o HOMA-IR. Esses achados reforçam a importância da associação dos exercícios que integrem componentes aeróbicos e resistidos (força). 

Do ponto de vista fisiopatológico, os bons resultados do treinamento de musculação são coerentes, pois a resistência insulínica no diabetes tipo 2 se concentra principalmente no tecido muscular, e a contração ativa do músculo promove a captação direta de glicose independente da ação insulínica. Além disso, o aumento da massa muscular amplia a reserva de glicogênio e melhora a resposta pós-receptor, reduzindo a glicemia. O ciclismo destacou-se pela ativação de fibras musculares tipo I, mais sensíveis à insulina, e pela segurança em pacientes com excesso de peso ou limitações articulares. 

Esses resultados estão de acordo com as diretrizes atuais da American Diabetes Association (ADA) e da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), que defendem o exercício físico como pilar não farmacológico essencial. Para a prática clínica, os resultados baseados em evidências robustas reforçam a necessidade de individualizar a prescrição, privilegiando exercícios que envolvam grandes grupos musculares e possam ser mantidos de forma regular e progressiva. 

Conclusão

Esta metanálise demonstra que exercícios resistidos, ciclismo e treinos combinados são eficazes para melhorar a glicemia e a sensibilidade insulínica em pacientes com diabetes, com efeitos robustos e consistentes. 

A SBD recomenda para pessoas com diagnóstico de DM2 a prática de exercícios combinados. Musculação em pelo menos um ciclo de 10 a 15 repetições de cinco ou mais exercícios de força, duas a três sessões semanais em dias alternados, associado a no mínimo 150 minutos semanais de atividade aeróbica moderada (como caminhada rápida, corrida ou ciclismo). O ponto crucial, e talvez o grande desafio, é transformar essas evidências em adesão. Afinal, o melhor exercício é aquele que o paciente realmente consegue manter a longo prazo. 

Autoria

Foto de Paulo Melo

Paulo Melo

Graduação em Medicina pela Universidade Federal do Ceará. Residência Médica em Clínica Médica pela Universidade Federal do Piauí e Residência Médica em Endocrinologia e Metabologia pela Santa Casa de Belo Horizonte. Possui título de especialista pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. É mestrando e professor da área de endocrinologia na Afya Educação Médica.

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