No primeiro dia do Congresso Brasileiro de Obesidade e Síndrome Metabólica (CBOSM), tivemos a primeira aula abordou a proposta da nova diretriz de tratamento farmacológico da Obesidade 2025.
Alguns dos principais especialistas na área, abordaram as várias vertentes do tema. Dr. Bruno Halpern abriu a palestra mostrando as recomendações iniciais, reforçando que a mudança do estilo de vida (com prática regular de atividade e acompanhamento nutricional) deve vir antes e de forma concomitante ao tratamento farmacológico, visto que o tratamento combinado pode potencializar a perda de peso.
Acompanhamento nutricional
O acompanhamento nutricional deve estabelecer um padrão alimentar que promova saúde metabólica e redução de riscos de deficiências nutricionais. A atividade física, por sua vez, melhora a saúde muscular e cardiovascular, além auxílio na manutenção do peso perdido, devendo ser estimulada de acordo com as preferências individuais do paciente visando maior adesão.
A indicação de tratamento farmacológico continua sendo indicada para pacientes com IMC igual ou superior a 27 kg/m2 em conjunto com mudanças de estilo de vida.
Para quem é direcionado o tratamento farmacológico?
Uma das recomendações é de que indivíduos com aumento da relação cintura/altura ou circunferência abdominal e complicações relacionadas à adiposidade, independentemente do valor de IMC, devem ter o tratamento farmacológico considerado em associação com mudanças do estilo de vida.
Sendo assim, Dr. Bruno traz a polêmica sobre o diagnóstico de obesidade. Alguns estudos recentes fazem a proposta de além de IMC igual a superior a 30kg/m2, os pacientes com IMC igual ou superior a 25kg/m2, sinais de aumento de gordura e alguma das complicações relacionadas à adiposidade também deveriam ter o diagnóstico de Obesidade.
Outro ponto de destaque é sobre o tratamento farmacológico que vai muito além de apenas a perda ponderal. Ele é importante para melhora e remissão de doenças, redução de risco cardiometabólico e melhora na qualidade de vida. A perda de peso de pelo menos 10% deve ser considerada sempre levando em consideração o IMC inicial e trajetória de peso, objetivos individuais baseados em sintomas, sempre balanceando os benefícios e danos de perdas adicionais.
Alguns conceitos importantes e relativamente novos foram ressaltados: o de Obesidade controlada que é quando há perda de peso maior ou igual a 10% do peso máximo atingido na vida (PMAV) e Obesidade reduzida quando há uma perda de 5 a 10% do PMAV em indivíduos com IMC entre 30 e 39 kg/m2. Naqueles com IMC entre 40 e 50 kg/m2, considera-se Obesidade controlada perda de peso maior que 15% e obesidade reduzida perda de peso entre 10 e 15 % do PMAV.
Evidências científicas sugerem que redução de 10% do peso corporal, reduz risco cardiovascular/mortalidade, fibrose, melhora a fertilidade e reduz risco de Diabetes Mellitus tipo 2 (Dm2).
Em relação ao tratamento farmacológico o Dr João Eduardo Salles mostrou as diferenças entre as principais medicações. As medicações consideradas de primeira linha são: semaglutida, tirzepatida e liraglutida. Na impossibilidade do uso de alguma dessas, pode-se utilizar alguma outra medicação aprovada para Obesidade.
Tratamentos farmacológicos
A tirzepatida e a semaglutida são as medicações mais promissoras e de alta eficácia, porém, ainda, de custo elevado. Reduzem a pressão arterial e níveis glicêmicos, apresentando como efeitos colaterais náuseas, vômitos, diarreia, constipação e eritema no local de aplicação. Já a liraglutida é de eficácia moderada, com as mesmas particularidades das medicações anteriores.
A combinação de bupropiona e naltrexona é de eficácia moderada, custo médio, eficaz também na cessação do tabagismo e etilismo e melhora do perfil lipídico. Como efeitos colaterais também pode gerar náuseas, vômitos, cefaleia e alterações psiquiátricas.
De medicações de baixo custo e eficácia moderada, temos a sibutramina e o orlistate. Ambas melhoram perfil glicêmico e lipídico, porém de efeitos colaterais, o orlistate pode dar esteatorréia e a sibutramima boca seca, insônia, cefaleia, elevação de frequência cardíaca e pressão arterial.
Mais importante do que a escolha medicamentosa, é interessante saber que podemos associar medicações como forma de otimização do tratamento, desde que não sejam associadas medicações que agem no mesmo perfil alimentar.
A primeira parte da aula encerrou com o Dr. Marcio Mancini. Ele ressalta que o tratamento farmacológico é essencial para manter o peso perdido do paciente.
Aborda também sobre o uso de medicamentos off label. Eles podem ser considerados na impossibilidade do uso das medicações clássicas e desde que haja ensaios clínicos randomizados e/ou metanálises de elevada qualidade para tal indicação a exemplo do topiramato e da lisdexanfetamina.
Considerações e mensagem prática
Por último, porém não menos importante nos dias de hoje, foi reforçado que o uso de fórmulas magistrais ou manipulações contendo diuréticos, hormônios ou medicações em doses e vias de administração diferentes das já comprovadas em estudos clínicos bem embalados não é recomendado para o tratamento de obesidade.
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