Anualmente, a American Diabetes Association (ADA) publica atualizações em seu guideline, o “Standards of Care”. Nos últimos anos, o diagnóstico e tratamento do diabetes vem passando por mudanças geradas pelo avanço terapêutico, tanto no diabetes mellitus tipo 2 (DM2) como no DM1. Pela importância do tema e por se tratar da principal sociedade de estudo sobre diabetes no mundo, trazemos os principais destaques do seu novo guideline, o Standards of Care 2025.
Como o objetivo é trazer as principais atualizações, de forma didática, selecionamos os pontos principais onde houve mudanças e novas recomendações que se destacaram.
Standards of Care 2025: As principais atualizações do guideline da ADA 2025
O guideline da ADA é subdivido em algumas sessões sobre diferentes tópicos, como diagnóstico, prevenção e tratamento, por exemplo. Vejamos as principais alterações e novas recomendações de acordo com as sessões.
Seção 3: Prevenção ou Retardo do Diabetes e Comorbidades Associadas
– Recomendação de realização da HbA1c a cada 6 meses e TOTG 75g anual em pacientes com DM1 em fase pré sintomática (antes do estágio 3), além de avaliação anual em indivíduos com pré DM2
– Um dos destaques foi a inclusão da importância da saúde do sono como componente central no manejo de pré-diabetes e diabetes tipo 2, dado que a qualidade e a quantidade do sono influenciam a sensibilidade à insulina e o metabolismo. A atenção ao sono deve alinhar-se a outras abordagens e intervenções de estilo de vida como atividade física e padrões alimentares.
– Dentre as intervenções farmacológicas para retardar o diabetes tipo 2 (DM2), o guideline destaca que, apesar da Endocrine Society recentemente ter sugerido benefícios no uso da vitamina D em situações de pré diabetes, os 3 estudos que demonstraram potenciais benefícios falharam em atingir significância estatística e não há consenso sobre qual dose poderia trazer tal impacto, não sendo uma prática endossada pela ADA, portanto.
Seção 4: Avaliação Médica Abrangente e Avaliação de Comorbidades
Nesta seção, foi reforçado mais uma vez a importância da triagem regular de doenças ósseas e seu tratamento. Destaque para as recomendações de realização de densitometria óssea que, além de indivíduos com mais de 65 anos ou fratura prévia, incluiu a recomendação da solicitação em pacientes com mais de 50 anos com DM e fatores de risco específicos da condição: Eventos frequentes de hipoglicemia, duração do diabetes >10 anos, medicações para diabetes: insulina, tiazolidinedionas, sulfonilureias; A1c >8%, neuropatia periférica ou autonômica, retinopatia, nefropatia; quedas frequentes ou uso de glicocorticoides. A recomendação de tratamento permanece como indivíduos com T score < -2,0, alto risco de fraturas pelo FRAX ou fraturas de fragilidade prévias. Além disso:
– Dentre outras comorbidades, o consenso adicionou um tópico sobre a recomendação do cuidado odontológico anual e orientou a coordenação entre equipes médicas e odontológicas para ajustar medicamentos hipoglicemiantes antes de procedimentos dentários.
– Destaque para o aprofundamento a respeito da discussão da disfunção sexual, incluindo uma avaliação mais detalhada da disfunção erétil em homens e da síndrome geniturinária da menopausa em mulheres.
– Com relação à Doença Hepática Associada à Disfunção Metabólica (MASLD/MASH), foi realizada a atualização da nomenclatura para MASLD (doença hepática gordurosa associada à disfunção metabólica) e MASH (esteatohepatite associada à disfunção metabólica), além das recomendações para estratificação de risco utilizando o índice FIB-4 e evidências sobre o tratamento com agonistas de GLP-1 RAs, pioglitazona e terapias combinadas nesse contexto.
Seção 6: Metas Glicêmicas e Hipoglicemia
Nesta parte do guideline, foi atualizada a subseção sobre crises hiperglicêmicas, adicionando os novos critérios diagnósticos e prevenção ambulatorial da cetoacidose diabética (DKA) e do estado hiperglicêmico hiperosmolar (HHS) (o guideline específico das condições foi discutido também aqui no portal em mais detalhes).
Seção 7: Tecnologia no Diabetes
– A principal alteração nesta seção foi sobre a recomendação do início precoce de ferramentas tecnológicas no diabetes, sobretudo a monitorização contínua de glicose (CGM) e sistemas de administração automatizada de insulina (AID), quando indicadas, desde o diagnóstico, sugerindo o uso de CGMs em todos indivíduos com DM1 ou DM2 em uso de insulina e considerando importante o uso em adultos com diabetes tipo 2 tratados com agentes hipoglicemiantes além da insulina para alcançar e manter metas glicêmicas individualizadas.
Seção 9: Abordagens Farmacológicas para Tratamento Glicêmico
Esta seção foi reorganizada e expandida, agora com duas novas subseções: “Recomendações Adicionais para Todos os Indivíduos com Diabetes” e “Circunstâncias Especiais e Populações”, visando facilitar a aplicação das recomendações conforme o tipo de diabetes e as condições específicas dos pacientes. Vale destacar o que já estava presente no guideline do ano anterior, sobre a recomendação do uso de AID para todos os indivíduos com DM1 capazes de manejo adequado dos dispositivos. Além disso:
– Houve maior ênfase na seleção de medicamentos que proporcionem eficácia suficiente e alcance múltiplos objetivos de tratamento, incluindo melhorias cardiovasculares, renais, de peso e outros resultados relevantes, além de considerar custo, acesso, risco de reações adversas e preferências individuais.
– Recomendação do uso de aGLP-1 para indivíduos com diabetes tipo 2 e doença renal crônica (DRC) para reduzir o risco cardiovascular e a progressão da doença renal (no caso, para progressão renal, apenas a semaglutida SC)
– Tratamento de MASLD/MASH: Recomenda o tratamento de indivíduos com diabetes tipo 2 e MASLD/MASH com aGLP-1, duais GIP/GLP-1 RAs, pioglitazona ou combinações desses, baseado no estágio de risco de doença hepática e necessidade de manejo de peso.
Seção 10: Doença Cardiovascular e Diabetes
– Uso de GLP-1 RAs em Obesos com Insuficiência Cardíaca Preservada: Foi incluída a recomendação do uso de aGLP-1 para reduzir sintomas relacionados à insuficiência cardíaca, limitações físicas e melhorar a função de exercício em indivíduos com diabetes tipo 2, obesidade e insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada.
Seção 11: Doença Renal Crônica e Diabetes
– Uso de GLP-1 RAs em Diabetes Tipo 2 com CKD: Foi acrescentada a recomendação sobre o uso de GLP-1 RAs com benefícios demonstrados em indivíduos com diabetes tipo 2 e doença renal crônica (CKD) para reduzir o risco cardiovascular e a progressão da doença renal.
– Redução de Albuminúria: O guideline especifica a meta de reduzir a albuminúria em ≥30% para retardar a progressão da DRC, através das medidas discutidas como uso de iECA/BRA, iSGLT-2 e/ou finerenona, quando indicados.
Seção 12: Retinopatia, Neuropatia e Cuidado dos Pés
– Triagem para Neuropatia Autonômica: O guideline inclui critérios adicionais para triagem de sintomas e sinais de neuropatia autonômica em pessoas com diabetes a partir do diagnóstico de diabetes tipo 2 e 5 anos após o diagnóstico de diabetes tipo 1 e, pelo menos anualmente a partir de então, sobretudo de outras complicações microvasculares estiverem presentes. A triagem deve incluir na anamnese avaliação sobre: tontura ortostática, síncope, saciedade precoce, disfunção erétil, alterações nos padrões de sudorese ou pele seca e rachada nas extremidades. Os sinais que devem ser avaliados incluem: hipotensão ortostática, taquicardia em repouso ou evidências de ressecamento ou rachaduras na pele periférica. Testes específicos devem ser realizados para conclusão diagnóstica a partir da triagem e exame físico.
– Teste de Toque de Ipswich: Já presente no guideline da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), houve uma atualização para incluir o Ipswich touch test como uma opção para avaliação neurológica em substituição do teste do monofilamento 10g para detecção de sensibilidade protetora/pé de risco.
Seção 16: Cuidados com Diabetes no Hospital
– Houve uma atualização para esclarecimento das metas glicêmicas no ambiente hospitalar, estabelecendo-se uma meta glicêmica de 140–180 mg/dL para a maioria dos indivíduos criticamente enfermos, com possibilidade de metas mais rigorosas se seguras. Já para indivíduos não criticamente enfermos, foi recomendada uma meta glicêmica de 100–180 mg/dL, se alcançável sem hipoglicemia significativa.
Considerações finais
As atualizações do Guideline 2025 da ADA refletem a evolução constante do manejo do diabetes que estamos vivendo nos últimos anos, incorporando as mais recentes evidências científicas e práticas clínicas. As mudanças destacadas enfatizam uma abordagem personalizada, integrada e centrada no paciente, promovendo a qualidade de vida e a prevenção de complicações através de intervenções baseadas em evidências, uso de tecnologias e atenção às disparidades sociais e econômicas.
Estas revisões garantem que os profissionais de saúde estejam equipados com diretrizes atualizadas para fornecer um cuidado abrangente e eficaz, adaptado às necessidades individuais dos pacientes com diabetes em diferentes contextos e estágios da doença. As informações extraídas devem ser sempre contextualizadas para nossa realidade, casando e complementando as recomendações da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD).
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