Associação de sibutramina e topiramato no tratamento da obesidade

Embora a combinação fentermina-topiramato seja amplamente utilizada nos Estados Unidos para tratamento da obesidade, com perda de peso total variando de 8 a 10 kg dependendo da dosagem, ela não está disponível no Brasil. Alternativamente, a combinação off-label de sibutramina e topiramato é comumente usada na prática clínica diária brasileira devido ao seu baixo custo, com algumas semelhanças com o mecanismo de ação da fentermina mais topiramato.  

 Até recentemente, nenhum estudo havia avaliado a eficácia na perda de peso ou o perfil de segurança da combinação sibutramina-topiramato. Mas, foi publicado em julho de 2025 o estudo de coorte retrospectivo SIBAMATE, com o objetivo de avaliar essa terapia combinada em um ambiente clínico real.

Métodos

Foram incluídos 246 pacientes com IMC ≥30 kg/m² ou ≥27 kg/m² com comorbidades, todos acompanhados por no mínimo 3 meses entre 2012 e 2022. A maioria era composta por mulheres jovens, com média de idade de 43 anos e IMC inicial médio de 39,7 kg/m². 

Resultados

A combinação mais usada foi sibutramina 10 mg/dia associada a topiramato 100 mg/dia. Observou-se uma perda de peso média de 10,2 kg aos 36 meses, com mais de 60% dos pacientes mantendo pelo menos 5% de perda e mais de 40% mantendo ≥10% de perda ponderal nesse período. O efeito foi precoce (já evidente com 3 meses de tratamento) e sustentado a longo prazo. Os efeitos adversos mais comuns foram parestesia (28%), déficits cognitivos leves e elevação da pressão arterial.  

A taxa de descontinuação do tratamento foi de 24,4%, sendo os principais motivos hipertensão não controlada (≥145/90 mmHg), parestesia refratária e taquicardia persistente. Apesar disso, o estudo não identificou eventos adversos graves ou irreversíveis, e o perfil de segurança foi considerado aceitável em pacientes bem selecionados, sem contraindicações formais à sibutramina. 

 

Conclusão e mensagem prática

Os autores apontam que a ação complementar das duas drogas, com sibutramina atuando no controle homeostático e topiramato na via hedônica do apetite, pode explicar o efeito sinérgico observado. Em um cenário onde novas terapias para obesidade são altamente eficazes, mas de custo elevado, essa combinação pode representar uma alternativa viável para pacientes com acesso limitado.  

Trata-se, até o momento, do primeiro estudo com avaliação sistemática dessa combinação em vida real, sugerindo que sibutramina associada ao topiramato pode ser eficaz e relativamente segura, especialmente em contextos de recursos limitados. O esquema de 10 mg de sibutramina com 100 mg de topiramato por dia parece ser o mais prescrito e tolerado.