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Endocrinologia29 outubro 2025

As 10 principais atualizações das diretrizes ATA em 2025

Personalização no manejo do carcinoma diferenciado de tireoide foi o principal tema atualizado
Por Paulo Melo

As diretrizes de 2025 da American Thyroid Association (ATA) para o manejo do carcinoma diferenciado de tireoide (CDT) representam um avanço significativo em direção à medicina de precisão. As mudanças envolvem desde a classificação histológica, estratificação de risco, indicações cirúrgicas e de iodo radioativo, até o manejo não cirúrgico de doenças de muito baixo risco e ampliação das terapias-alvo para doença avançada. Após uma década de evidências, a nova diretriz consolida a individualização terapêutica, priorizando o equilíbrio entre eficácia e qualidade de vida. Esses foram os 10 principais pontos com impacto direto na prática clínica. 

atualizações das diretrizes

Abordagem centrada mais personalizada no paciente: 

A ATA 2025 inicia a abordagem com a introdução do modelo de framework DATA como eixo de tomada de decisão contínua, desde o diagnóstico inicial até o curso completo da doença. O modelo favorece decisões compartilhadas, ajustadas ao risco-benefício individual, evitando tratamentos desnecessários em pacientes de baixo risco e intensificando o cuidado nos casos mais agressivos. 

O acrônimo significa: D (Diagnosis – Diagnóstico), A (Assessment of risk/benefit – Avaliação de risco/benefício), T (Treatment decisions – Decisões de Tratamento) e A (Assessment of response – Avaliação da resposta). 

Classificação Histológica: 

Incorpora a 5ª edição da Classificação de Tumores da OMS, que distingue os três principais tipos de CDT: Carcinoma Papilífero (CPT), Folicular (CFT) e Oncocítico (COT), este último, antes chamado carcinoma de células de Hürthle, agora tratado como entidade distinta. Além disso, tivemos a introdução da nova categoria de Carcinoma Tireoidiano de Alto Grau Diferenciado (DHGTC), que inclui o carcinoma de tireoide pouco diferenciado (PDTC) e outras formas agressivas, para melhor estratificação de risco de recorrência e tratamento. 

Reclassificação de NIFTP: 

Em 2015, a Neoplasia Tireoidiana Folicular Não Invasiva com Características Nucleares Semelhantes a CPT (NIFTP) era classificada como câncer. Já na atualização de 2025, a ATA reclassificou e não a considera mais rotineiramente como câncer, em razão do seu potencial muito baixo de malignidade. Assim, tireoidectomia total (TT) e iodo radioativo não são mais recomendados de rotina, evitando diagnósticos excessivos e tratamentos desnecessários. 

Nova Estratificação de Risco: 

O sistema de estadiamento atual é a 8ª edição do AJCC/UICC TNM. Os ajustes relevantes: a idade de corte elevada de 45 para 55 anos, extensão extratireoidiana mínima deixa de ser critério de T3 e envolvimento linfonodal em menores de 55 anos é classificado como estágio I, refletindo o bom prognóstico. Essas modificações reduziram de forma significativa os riscos, levando a menores taxas de sobrediagnóstico e sobretratamento. 

Nova Classificação do Risco de Recorrência: 

Agora são quatro categorias, substituindo as três anteriores. Essa subdivisão refina o prognóstico ao incorporar o número e tamanho de linfonodos, extensão extranodal e invasão vascular. 

 

  • Baixo Risco (<10%): Tumores de baixo volume (até T2) sem extensão extratireoidiana grosseira, doença linfonodal ausente (N0) e ausência de metástases a distância (M0). 
  • Intermediário-Baixo (10–15%): Associado a fatores que elevam o risco ligeiramente acima do baixo, como extensão extratireoidiana microscópica (extensão para músculos do pescoço, mas não grosseira) e multifocalidade (em tumores >1 cm). 
  • Intermediário-Alto (16–30%): Metástases linfonodais clinicamente (cN1) ou patologicamente confirmadas (pN1), especialmente com mais de cinco de linfonodos metastáticos, invasão vascular no carcinoma papilífero, tumores > 4 cm (T3a) e extensão extratireoidiana limitada aos músculos do pescoço (T3b). 
  • Alto (>30%): Metástases a distância (M1), extensão extratireoidiana grosseira (T4a ou T4b), ressecção incompleta com doença macroscópica residual. Além de, Carcinomas Foliculares ou Oncócitos com extensa invasão vascular (geralmente ≥ 4 focos) e histologia de alto grau ou subtipos agressivos (células altas, células colunares, hobnail). 

 

A estratificação de risco é dinâmica e deve ser continuamente reavaliada com base na resposta à terapia após o tratamento inicial e adjuvantes. Pacientes classificados inicialmente como risco intermediário-alto ou alto podem ser reclassificados como baixo risco se alcançarem uma Resposta Excelente ao tratamento inicial. 

Tratamento Cirúrgico: 

A indicação fica mais conservadora, pois consolida a lobectomia como tratamento recomendado para tumores < 2 cm, sem invasão local ou metástase linfonodal. Para tumores entre 2 e 4 cm de baixo risco, a lobectomia também é considerada, embora a TT permaneça uma alternativa válida. A lobectomia minimiza o risco de complicações permanentes, como paralisia do nervo laríngeo recorrente e hipoparatireoidismo, e a necessidade de reposição hormonal. 

Vigilância Ativa ganha ainda mais força: 

A vigilância ativa (VA) é formalmente reconhecida como opção segura para microcarcinomas papilíferos (≤1 cm) de muito baixo risco, enfatizando a tomada de decisão compartilhada com o paciente. A Ablação Percutânea Guiada por Ultrassom, incluindo radiofrequência, surge como alternativa à VA ou à ressecção cirúrgica em casos selecionados, mas ainda com recomendação limitada pelo baixo grau de evidência. 

Menos Iodo Radioativo (RAI) de rotina no baixo risco: 

A ablação de remanescente com RAI não é mais recomendada rotineiramente após TT em pacientes de baixo risco. No entanto, continua a ser considerado nos casos de risco intermediário-baixo e intermediário-alto, sendo recomendado rotineiramente no alto risco e na doença metastática à distância. O preparo com rhTSH (tireotropina humana recombinante) é preferível à suspensão de levotiroxina, por garantir eficácia semelhante e ter menor impacto na qualidade de vida do paciente, pelo hipotireoidismo induzido. 

Acompanhamento e supressão do TSH: 

A supressão de TSH passa a ser menos rigorosa, em pacientes de baixo e intermediário riscos podemos manter os níveis dentro da faixa normal, reduzindo efeitos adversos. Níveis de TSH <0,1 mUI/L ficam reservados no alto risco ou doença persistente. Além disso, os pacientes de baixo risco com resposta excelente sustentada (5–8 anos) podem ter o ultrassom cervical de rotina interrompido e os exames bioquímicos podem ser descontinuados após 10–15 anos, visto a baixa probabilidade de recorrência tardia. 

Terapia Sistêmica para Doença Refratária ao RAI (RAIR): 

Nos casos refratários ao RAI, o uso de painéis genéticos com biomarcadores (NGS) é recomendado para identificar mutações RET, NTRK, ALK, BRAFV600E, entre outras, a fim de guiar a terapia sistêmica. Para pacientes com biomarcadores identificados, os inibidores de quinase específicos, Selpercatinibe (RET) e Larotrectinibe (NTRK), são preferidos em primeira linha, devido à alta taxa de resposta e melhor tolerabilidade em comparação com os inibidores multiquinase (MKI). O Lenvatinibe é o MKI de primeira linha para doença sem mutações-alvo e o Cabozantinibe é terapia de segunda escolha. 

Conclusão: 

A priorização da Lobectomia para tumores pequenos e da Vigilância Ativa são pontos importantes para minimizar a morbidade cirúrgica e a toxicidade do RAI. No acompanhamento, a adoção do modelo de Resposta à Terapia (DATA) permite que a intensidade da vigilância seja reduzida progressivamente, reduzindo os impactos associados ao diagnóstico de câncer no longo prazo. 

Na doença avançada, a oncologia de precisão baseada em biomarcadores garante que o tratamento sistêmico seja mais eficaz e tolerado, sempre com o objetivo de minimizar os impactos na qualidade de vida do paciente. 

As diretrizes ATA 2025 consolidam uma abordagem menos intervencionista e mais personalizada no CDT, dado o entendimento de que a maioria dos casos são indolentes e não se beneficiam de intervenções agressivas. 

Autoria

Foto de Paulo Melo

Paulo Melo

Graduação em Medicina pela Universidade Federal do Ceará. Residência Médica em Clínica Médica pela Universidade Federal do Piauí e Residência Médica em Endocrinologia e Metabologia pela Santa Casa de Belo Horizonte. Possui título de especialista pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. É mestrando e professor da área de endocrinologia na Afya Educação Médica.

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