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Endocrinologia14 novembro 2025

Alimentação com janela restrita: efeito sobre a função resistência insulínica

Estudo mostra que a alimentação com janela restrita melhora função beta, reduz resistência à insulina e peso em adultos com DM2 recente.

A alimentação com janela restrita, ou Time-Restricted Eating (TRE), baseia-se na ingestão alimentar limitada a um período de quatro a oito horas ao longo do dia, seguindo com jejum nos demais horários.  

Trata-se de uma estratégia comportamental promissora para modular o controle glicêmico e a composição corporal, no escopo das intervenções não farmacológicas. 

O ensaio randomizado de Kramer e colaboradores, publicado no The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism, oferece dados diretos e robustos com desfechos fisiológicos padronizados, aprofundando a compreensão do papel do TRE. 

Metodologia 

Trata-se de ensaio randomizado e cruzado, de forma que os pacientes migraram de um grupo de intervenção para outro ao longo do estudo: 6 semanas de RTE com janela alimentar diária de 4 horas e 6 semanas de estilo de vida habitual.  

Foram alocados 39 adultos com DM2 com duração média de 3 anos, hemoglobina glicada (HbA1c) basal média de 6,6% e índice de massa corporal (IMC) médio de 32,4 kg/m².  

O desfecho primário foi a função das células beta, avaliada pelo Índice de Secreção–Sensibilidade de Insulina (ISSI-2) a partir de um teste oral de tolerância à glicose (TOTG), refletindo, de forma robusta e validada, a capacidade compensatória das células beta frente à resistência insulínica. 

Desfechos secundários incluíram HOMA-IR, HbA1c, peso corporal e circunferência da cintura. 

Resultados em números 

Os achados do estudo demonstraram efeitos metabólicos e antropométricos significativos, incluindo um aumento relativo de 14% na função beta (ISSI-2) com TRE em comparação ao período controle (p = 0,03), uma redução de 11,6% na resistência insulínica hepática (HOMA-IR) (p = 0,03), e uma queda estatisticamente significativa de 0,32% na HbA1c com TRE (p < 0,001). Além disso, observou-se uma redução de 3,86% do peso corporal (p<0,001) e uma diminuição de 3,8 centímetros na circunferência da cintura (p=0,003). 

Como interpretar 

A estratégia alimentar não apenas reduziu a resistência à insulina, mas também melhorou a resposta secretória das células beta frente ao estímulo glicêmico, sinalizando um potencial de preservação da função pancreática residual em indivíduos com DM2 de curta duração. 

Limitações relevantes 

A duração curta de seis semanas limita inferências sobre sustentabilidade e aderência a longo prazo.  

A janela rigorosa de 4 horas de alimentação diárias é mais restritiva que rotinas ambulatoriais habituais (8 a 10 horas), reduzindo a reprodutibilidade para além dos protocolos de pesquisa. Além disso, o perfil da amostra, composto por pacientes com DM2 de curta duração, inviabiliza a extrapolação dos dados para casos de hiperglicemia acentuada, uso de insulina ou múltiplas comorbidades. Por fim, a impossibilidade de cegamento, inerente a intervenções dietéticas, pode introduzir viés, e a dependência do TOTG para o desfecho primário exige padronização rigorosa. 

Implicações para o consultório 

A TRE pode ser uma estratégia promissora na prática clínica, que pode ser considerada para adultos motivados, com DM2 recente e HbA1c próxima da meta, sem alto risco de hipoglicemia.  

Para a implementação, é recomendado iniciar progressivamente, por exemplo com janelas de oito a dez horas, e evoluir conforme a tolerância clínica, sempre com acompanhamento estruturado.  

A monitorização deve incluir peso, circunferência abdominal, HbA1c e perfil glicêmico, pois a melhora laboratorial pode indicar a necessidade de ajustar antidiabéticos orais para minimizar o risco de hipoglicemia. 

Mensagem prática 

Em adultos com DM2 de curta duração, a TRE por seis semanas aumentou a função beta em cerca de 14% e reduziu a resistência insulínica. Trata-se, portanto, de uma ferramenta comportamental útil para perfis bem selecionados, embora a janela de 4 horas exija avaliação realista de aderência e seguimento clínico próximo.  

Vale ressaltar que as diretrizes brasileiras (SBEM, SBD e ABESO) reforçam que essa estratégia pode ser considerada como opção de terapia nutricional individualizada, desde que conduzida com supervisão, foco em segurança e monitorização contínua.  

Para o futuro, estudos robustos e de maior duração são necessários para identificar os benefícios e riscos da TRE, permitindo recomendações personalizadas e otimizando a eficácia da intervenção. 

Autoria

Foto de Bruno Anello Mottini Horlle

Bruno Anello Mottini Horlle

Possui graduação em Medicina pela Universidade Estácio de Sá (2019). Tem experiência na área de Medicina, com ênfase em Medicina de Emergência, e Clinica Médica.

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