Os agonistas do receptor do peptídeo semelhante ao glucagon-1 (GLP-1) pertencem a uma classe de medicamentos em evidente ascensão na atualidade. Inicialmente, os estudos foram realizados para desfecho relacionados ao tratamento do diabetes mellitus, mas em razão da sua importante contribuição na redução do peso corporal, atualmente esse fármaco é utilizado também para o controle da obesidade.
Diante da ampliação do seu na prática clínica, preocupações surgiram em relação aos seus efeitos neuropsiquiátricos, visto que os mais importantes estudos clínicos randomizados avaliaram preferencialmente os desfechos primários cardiovasculares.
Dados da prática clínica e farmacovigilância criaram suspeita para impacto substancialmente negativo na saúde mental dos pacientes em uso de agonistas de GLP-1, mas nada conclusivo até o momento. Nesse intuito, foi realizada uma metanálise dos dados disponíveis na literatura para a avaliação de consequências neuropsiquiátricas, com foco específico em risco de ideação e comportamento suicida nesse grupo de pacientes.
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Metodologia
A metanálise seguiu o PRISMA guideline (Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses), uma ferramenta que ajuda a padronizar a forma como os resultados e métodos de revisões são relatados.
Foram incluídos na pesquisa estudos para relatar quaisquer resultados neuropsiquiátricos, com foco específico em ideação suicida, tentativas de suicídio ou suicídios consumados. Estudos sem grupos de controle, estudos envolvendo populações pediátricas e artigos não revisados por pares foram excluídos. A busca bibliográfica abrangente foi conduzida usando PubMed, Embase e Web of Science para artigos relevantes publicados até 08 de setembro de 2024.
Inicialmente 126 foram estudos selecionados, após criteriosa análise de qualidade restou ao final 11 elegíveis para a análise. A revisão sistemática incluiu 11 estudos de vários países, empregando diferentes delineamentos, incluindo análises de farmacovigilância, estudos de coorte e análises observacionais. As populações dos estudos eram heterogêneas e variaram de pacientes com diabetes mellitus tipo 2, adultos com sobrepeso ou obesidade, além de usuários gerais de agonistas de GLP-1.
Resultados encontrados e discussão
O tamanho das amostras de usuários da classe de medicamentos variou amplamente, de 357 a mais de 690.000, com eventos relacionados ao suicídio variando de 4 a 534 entre os estudos. A maioria dos estudos utilizou base de bancos de dados de farmacovigilância de agências reguladoras, como Food and Drug Administration (FDA).
Ao final da análise, a maioria dos estudos não evidenciou aumento do risco de suicídio, e alguns até sugeriram um risco menor, ou seja, um fator de proteção em comparação com outros medicamentos para o tratamento do diabetes ou placebo.
O risco relativo geral, utilizando um modelo de efeitos aleatórios, foi de 0,568 (IC 95%: 0,077–4,205), indicando ausência de diferença estatisticamente significativa no risco de desfechos suicidas entre os análogos de GLP-1 e outras classes de medicamentos. No entanto, vale a pena citar a importante heterogeneidade e alta variabilidade entre os estudos incluídos, além da considerável incerteza no efeito estimado.
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Conclusão
A presente metanálise corrobora com a segurança do uso dos agonistas do GLP-1 no tratamento do diabetes e da obesidade, colocando essa classe de medicamentos como uma das principais da atualidade. Vale ressaltar que estudos clínicos randomizados para avaliação de desfechos neuropsiquiátricos primários ainda são necessários, porém evidências do mundo real mostram segurança no uso dessas medicações.
A prescrição e avaliação do risco deve ser sempre individualizada, com especial atenção para os pacientes com condições psiquiátricas preexistentes que podem estar em risco elevado de complicações associadas. No entanto, particularmente estudos de coorte, sugeriram que o uso de semaglutida pode estar associado à melhora dos sintomas de depressão grave e à redução da ideação suicida.
Logo, não há nenhuma evidência científica robusta, atualmente disponível, que sustente a associação de agonistas do receptor GLP-1 com risco de ideação e comportamento suicida.
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