Em 2023, Criado e colaboradores publicaram nos Anais Brasileiros de Dermatologia um artigo de revisão sobre prurigo. Nele foram englobados os principais tipos de prurigo, as doenças associadas, sua bases imunológica, diagnóstico e tratamento. Devido à vasta sinonímia e descrição de quadros que se sobrepõe na literatura, o tema e a sua revisão são assuntos difíceis.
Mas o que é o prurigo?
O prurigo é uma condição reativa hiperplásica da pele caracterizada por pápulas, placas e/ou nódulos com escoriação central, isolados ou múltiplos, e pruriginosos. Pode-se notar o “sinal da borboleta” no dorso, indicando uma área poupada onde as mãos não alcançam.
Ele pode ser classificado temporalmente em agudo/subagudo e crônico, de acordo com sua forma clínica ou, ainda, pelo agente causador/doença associada.
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Como se comporta o prurigo agudo?
O prurigo é dito agudo quando tem duração < 6 semanas, podendo ter surtos de reagudização. É mais frequente em crianças entre 2 e 7 anos e principalmente nos atópicos. É composto por pápulas eritematosas, pruriginosas, com vesícula central e também pode cursar com bolhas e crostas. Geralmente ocorre pela picada de artrópodes e não requer exames complementares extensos. Tratamento é feito com anti-histamínico não sedante de dia e sedante de noite, cuidados antissépticos diários, corte das unhas para evitar superinfecção bacteriana e corticoide tópico.
Como se comporta o prurigo crônico?
O prurigo é dito crônico quando a duração é ≥ 6 semanas. É mais comum entre 50-60 anos e nos afro-americanos.
As lesões podem ser nodulares, papulares, em placas, umbilicadas (predominam lesões ulceradas) ou lineares. As morfologias podem estar presentes simultaneamente e podem mudar ao longo da evolução. Nele há um ciclo prurido-coçadura com sensibilização neuronal e perpetuação do quadro. Envolve resposta Th2, interleucina (IL) 4, IL5, IL13, IL31, mastócitos, mudança no sistema nervoso central e periférico, resposta Th22 e JAK1 e 2.
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É classificada em:
- Com lesões cutâneas de outras dermatoses associadas: Dermatite atópica, líquen plano, escabiose, eczema de contato, farmacodermia, penfigoide bolhoso, dermatite herpetiforme, doença de Grover, linfoma cutâneo etc;
- Sem lesões cutâneas de outras dermatoses: Pode ter relação com doenças internas ou sistêmicas, como doenças infecto-parasitárias (parasitoses gastrointestinais, infecção por HIV), doenças metabólicas (insuficiência renal crônica, doenças colestáticas hepáticas, hiper ou hipotireoidismo), fármacos, doenças psiquiátricas (condições psicóticas ou neuróticas), causas neuropáticas (prurido braquirradial, neuralgia pós herpética), estase venosa ou, ainda, de origem indeterminada
O diagnóstico é clínico, baseado na história e exame físico e podendo ser corroborado pela biópsia da pele. Exames laboratoriais e radiológicos auxiliam a identificar uma doença subjacente. Entre exames básicos estão: hemograma, eletrólitos, VHS, PCR, glicemia de jejum, hemoglobina glicada, ferro, ferritina, LDH, TSH, T4 livre, função renal, hepatograma. Conforme a suspeita clínica, pode-se solicitar eletroforese de proteínas séricas e urinárias, imunofixação (se suspeita de gamopatia monoclonal), imunofenotipagem por citometria de fluxo (para neoplasias hematológicas no sangue periférico), triptase sérica (se suspeita de mastocitose), PTH, fósforo, cálcio, vitamina B12 e ácido fólico (se anemia), tomografia de crânio, tórax e abdome, endoscopia, colonoscopia.
O tratamento é desafiador pelo caráter recorrente das lesões, pela presença de doenças associadas e pela limitação das medicações sistêmicas, devido aos seus efeitos colaterais. O artigo propõe a abordagem terapêutica dividida em 5 passos:
- 1º passo: Corticoide tópico e/ou intralesional, inibidores de calcineurina tópicos e fototerapia;
- 2º passo: Capsaicina tópica, Gabapentina, Pregabalina;
- 3º passo: Antidepressivo (Paroxetina, Mirtazapina);
- 4º passo: Imunossupressores (Metotrexato, Ciclosporina);
- 5º passo: Naltrexone, biológicos (Dupilumabe, Nemolizumabe), inibidores da JAK (Upadacitinibe, Baricitinibe, Tofacitinibe, Abrocitinibe).
Portanto, é importante saber diagnosticar prurigo, quando investigar causas associadas e tratar corretamente essa doença responsável por altas taxas de depressão e ansiedade, distúrbio no sono e alto impacto na qualidade de vida.
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