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Dermatologia17 julho 2025

Caso clínico: Paciente com lesões anulares pelo tronco. Qual o diagnóstico?

Paciente com placas eritematosas anulares com bordas eritematosas e com escamas na sua porção interna, múltiplas, no tronco anterior.
Por Mariana Santino

Paciente de 25 anos refere surgimento de lesões pruriginosas pelo tronco e em menor quantidade nos membros superiores e inferiores, com crescimento progressivo e centrífugo, com duração há 1 semana. Refere quadro prévio há 1 ano e melhora espontânea.

Ao exame, placas eritematosas anulares com bordas eritematosas e com escamas na sua porção interna, múltiplas, no tronco anterior (Figura) e em menor quantidade nos braços e coxas.

 

Foi realizado tratamento empírico com clotrimazol creme e terbinafina oral por 2 semanas e sem melhora das lesões.

Caso clínico: Paciente com lesões anulares pelo tronco. Qual o diagnóstico?

Imagem de pexels

Você sabe o diagnóstico?

Realizada biópsia de uma das lesões que identificou espongiose leve na epiderme, paraceratose focal, infiltrado linfohistiocitário perivascular “em manguito” na derme superficial e coloração PAS negativo. Compatível com eritema anular centrífugo.

Na história patológica pregressa, referiu diagnóstico recente de mononucleose infecciosa por Epstein Barr que foi aventado como possível fator desencadeante.

Leia também: As 5 doenças dermatológicas que todo clínico deve conhecer

Qual a clínica dessa dermatose e como tratar?

O eritema anular centrífugo é uma doença inflamatória cutânea rara e representa um dos tipos de eritemas figurados. Alguns acreditam que representa mais um padrão clínico reativo do que propriamente uma entidade clínica patológica.

Caracteriza-se por pápulas eritematosas urticariformes que crescem centrifugamente de forma lenta e com clareamento central, formando placas eritematosas policíclicas, arciformes ou anulares, com ou sem escamas, única ou múltiplas, podendo chegar a mais de 10 cm de diâmetro. Mais comumente ocorre no tronco e extremidades. As lesões individualmente duram vários dias a semanas e podem melhorar individualmente até mesmo espontaneamente, enquanto novas lesões continuam a surgir, especialmente se tiver doença associada.

O subtipo superficial pode ter escamas na borda interna da margem de avanço, pode ter também vesículas e prurido associado. Na histopatologia tem espongiose, paraceratose focal, microvesiculação, infiltrado linfohistiocitário perivascular superficial. Já o subtipo profundo é geralmente não pruriginoso e a borda da lesão é mais eritematosa, infiltrada e elevada, sem escamas. Na histopatologia, não há alterações epidérmicas e o infiltrado mononuclear predomina na derme média e profunda.

Pode acontecer em qualquer idade com pico em adultos de idade média e sem preferência entre homens e mulheres.

O quadro clínico pode ser idiopático ou associado com fatores desencadeantes como:

  • Infecção: fungos (Pitirosporum spp., dermatófitos, Candida spp.), bactérias (infecção dentária, tuberculose, estreptococcus), vírus (Epstein barr, molusco contagioso) e parasitas intestinais;
  • Alimentos: queijo contaminado, tomate;
  • Medicamento: Hidroxicloroquina, estrogênio, penicilina, Hidroclorotiazida, etc;
  • Doenças inflamatórias ou autoimunes: Lúpus eritematoso, IgA linear, anemia hemolítica, doença de Crohn;
  • Tumor (chamado de eritema anular centrífugo paraneoplásico): Malignidade linfoproliferativa como linfoma ou leucemia, além de câncer de próstata, câncer de pulmão, carcinoma de nasofaringe, etc;

O diagnóstico é clínico e corroborado pela histopatologia.

Sempre que possível, identificar fator desencadeante envolvido e tratá-lo. O screening de câncer é indicado de acordo com a idade e sem esquecer de questionar sobre febre, perda de peso e sudorese noturna para excluir eritema anular centrífugo paraneoplásico.

Corticoide tópico e anti-histamínico são as medicações mais utilizadas. Uso de corticoide sistêmico, inibidor de calcineurina tópico, análogo da vitamina D tópico, eritromicina, metronidazol, azitromicina e fluconazol já foram reportados.

Saiba mais: Prurigo: da definição ao tratamento 

Quais são os diagnósticos diferenciais?

Lesões anulares podem se apresentar em uma variedade de doenças: tinea corporis, psoríase, eritema multiforme, líquen plano, eczema numular, pitiríase rósea, urticaria, lúpus cutâneo subagudo, sífilis secundária, hanseníase tuberculoide, granuloma anular etc. Além disso, também há as outras entidades clínicas do eritema figurado: erythema gyratum repens (lesões concêntricas de crescimento rápido e relacionadas com neoplasia), eritema migrans (manifestação precoce de doença da Lyme e com história de picada de carrapato) e eritema marginatum (manifestação da febre reumática aguda).

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Referências bibliográficas

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