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Dermatologia17 setembro 2025

Bicalutamida no tratamento da alopecia androgenética feminina 

A bicalutamida é um antiandrógeno seletivo periférico, que recentemente demonstrou potencial no tratamento da alopecia androgenética feminina  
Por Isabela Dupin

A alopecia androgenética feminina é uma condição frequente que compromete significativamente a qualidade de vida dos nossos pacientes. Seu manejo envolve terapias antiandrogênicas, como espironolactona e finasterida. Entretanto, a resposta nem sempre é satisfatória, especialmente em mulheres com condições hiperandrogênicas. Nesse cenário, a bicalutamida tem emergido como uma alternativa terapêutica.  

A publicação do artigo “Efficacy and safety of bicalutamide in female hair loss: A review of the literature” de Perez et al., na edição de junho de 2025 do JAAD Reviews, apresenta uma revisão abrangente que nos permite avaliar a eficácia e o perfil de segurança da bicalutamida, um antiandrógeno seletivo periférico, aprovado pela FDA para câncer de próstata metastático, mas que recentemente demonstrou potencial no tratamento da alopecia androgenética feminina.  

A revisão identificou nove artigos que descreveram o uso da bicalutamida, seja como monoterapia ou terapia combinada, em um total de 494 pacientes do sexo feminino. Destas, 476 (96%) foram diagnosticadas com alopecia androgenética feminina. A relevância deste artigo reside em sua capacidade de nos fornecer uma visão clara de um novo agente terapêutico, especialmente para pacientes que podem não responder ou tolerar outras opções antiandrogênicas.  

Qual a aplicabilidade prática dos achados?  

Os achados desta revisão oferecem informações valiosas para a prática clínica:  

  • Eficácia notável na alopecia androgenética feminina: A bicalutamida demonstrou uma redução média na gravidade da perda capilar de 17% a 28,9% em pacientes com alopecia androgenética feminina que utilizaram a medicação oral por 24 semanas ou mais. Esta melhora é medida pela escala de gravidade de Sinclair. 
  • Superioridade comparativa: Em um estudo comparativo direto com 120 pacientes com alopecia androgenética feminina, a bicalutamida 50 mg foi significativamente mais eficaz do que a espironolactona 100 mg na redução da gravidade da alopecia. 
  • Perfil de segurança favorável: Eventos adversos foram relatados em 11,9% (59 de 494) das pacientes. Os mais comuns incluíram transaminite (4,9%), edema periférico ou periorbital (2,0%), queixas gastrointestinais (1,2%) e irregularidades menstruais (0,8%). É importante notar que, comparativamente, os eventos adversos ocorreram em 19,2% das pacientes que usaram espironolactona nos estudos incluídos. A transaminite, quando ocorreu, geralmente resolveu-se espontaneamente ou com redução da dose. 
  • Indicação em casos específicos: A bicalutamida pode ser particularmente benéfica para pacientes com condições hiperandrogênicas coexistentes, como a síndrome dos ovários policísticos (SOP), ou para aquelas que tiveram respostas inadequadas às doses máximas de espironolactona, finasterida ou dutasterida. 
  • Limitações em outras alopecias: Embora tenha havido relatos promissores em casos de alopecia cicatricial central centrífuga (CCCA) e alopecia fibrosante em padrão de distribuição androgenética (FAPD), a evidência para essas condições é limitada por pequenos tamanhos de amostra e uso de terapias concomitantes, não permitindo conclusões definitivas sobre a eficácia da bicalutamida isoladamente. Para alopecia persistente induzida por quimioterapia, a bicalutamida em combinação com minoxidil oral demonstrou melhora, mas o benefício sinérgico da bicalutamida isoladamente não foi determinado, visto que o minoxidil oral sozinho também foi eficaz.

Leia também: Você conhece a FAPD (Alopecia fibrosante em padrão de distribuição androgenética)?

Como implementar esses conhecimentos na prática clínica?  

A incorporação da bicalutamida no arsenal terapêutico para a alopecia androgenética feminina pode ser feita de maneira segura, seguindo essas orientações práticas:  

  1. Considere a bicalutamida para pacientes com alopecia androgenética feminina que se encaixam em uma das seguintes categorias:
    • Pacientes com condições hiperandrogênicas subjacentes (por exemplo, síndrome de ovários policísticos, hirsutismo) que reduzem a eficácia de outras terapias antiandrogênicas. 
    • Pacientes que atingiram as doses máximas recomendadas de espironolactona ou inibidores da 5-alfa-redutase (finasterida/dutasterida) com resultados clínicos abaixo dos esperados. 
    • Pacientes que apresentaram intolerância a finasterida/dutasterida ou espironolactona devido aos seus efeitos colaterais. 
  2. A dose inicial recomendada no artigo é de 10 a 12,5 mg/dia. As doses estudadas variaram entre 10-50 mg via oral.  
  3. Dada a rara ocorrência de transaminite, o monitoramento hepático é recomendado.  
    • Testes de função hepática (TGO/TGP) basais antes de iniciar a terapia. 
    • Monitorar 4 semanas após o início do tratamento. 
    • Se for necessário aumentar a dose (em incrementos de 10-12,5 mg), monitorar os exames a cada 4-12 semanas após cada aumento. 
    • Uma vez atingida a dose desejada, o monitoramento pode ser feito a cada 3-6 meses durante a duração da terapia. 
  4. Considere a terapia combinada. A bicalutamida é frequentemente utilizada como terapia adjuvante (97% dos casos nos estudos incluídos), mas também pode ser usada como monoterapia (2,8%). Pode ser combinada com outros tratamentos tópicos ou antiandrogênicos, otimizando os resultados.

Considerações finais  

Em conclusão, a bicalutamida oral emerge como uma terapia eficaz para pacientes com alopecia androgenética feminina, com um perfil de segurança favorável quando monitorada adequadamente.

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