Um dos assuntos do Portal PEBMED essa semana foi sobre qual benzodiazepínico utilizar para controle de sintomas abstinência após cessar ou diminuir a ingestão de álcool. Por isso, em nossa publicação semanal de conteúdos compartilhados do Whitebook Clinical Decision, vamos ver como diagnosticar a abstinência alcóolica.
Baixe agora gratuitamente o Whitebook e tenha tudo sobre todas as condutas médicas, na palma da mão!
Anamnese
Quadro clínico:
- Início após 6-24 horas sem uso. Caso a síndrome não se complique, os primeiros sintomas tendem a se resolver num período de 24-48 horas.
- Primeiros sintomas: Tremores, ansiedade, insônia, náuseas, vômitos, anorexia, inquietação, irritabilidade, agitação, diaforese, palpitação, cefaleia, fissura pelo álcool, midríase, taquicardia, hipertensão sistólica, hiperreflexia. Em 10% dos pacientes, há sintomas mais severos: febre baixa, taquipneia, tremores e sudorese profusa; 5% dos pacientes não tratados (primeiras 48 horas) têm convulsões (geralmente tônico-clônicas, num intervalo de 12-48 horas de abstinência, e podem recorrer algumas horas após a primeira). Rara progressão para status epilepticus;
- Outros: Alucinose alcoólica (após 12-24 horas de abstinência e se resolve em 24-48 horas. Assemelha-se a alucinações, mas o paciente possui consciência de que não são verdadeiras; não há rebaixamento do sensório); alteração no nível de consciência; desorientação; alterações de humor (irritabilidade, disforia); piloereção; midríase e disartria;
- Delirium tremens é a forma mais grave da abstinência e pode levar ao óbito, sendo por isso considerada uma emergência médica. Caracteriza-se pela flutuação na atenção e cognição, podendo apresentar alucinações visuais, táteis ou auditivas, além de desorientação e hiperatividade autonômica (taquicardia, hipertensão, diaforese, agitação e hipertermia). Os pacientes com este quadro podem ficar agressivos ou manifestar tendências suicidas. Pode ser complicada com distúrbios hidreletrolíticos (desidratação, hipocalemia, hipomagnesemia e hipofosfatemia) e acidose ou alcalose. Inicia-se de 48-96 horas após a última ingestão de álcool e pode durar de 1-5 dias. Fatores de risco para seu desenvolvimento: história de convulsões durante a abstinência; história de consumo prolongado de álcool; ter tido delirium tremens anteriormente; presença de comorbidades clínicas; ter mais que 30 anos e ter consumido álcool pela última vez, há mais de 2 dias).
Marcadores de gravidade: Na presença de delirium por abstinência, faz-se necessária a pesquisa por doenças clínicas relevantes (ex.: insuficiência hepática, pneumonia, sangramento intestinal, traumatismo craniano, hipoglicemia, distúrbios hidreletrolíticos etc.).
Fatores de risco:
- Quantidade e frequência de consumo (a maioria dos pacientes faz uso diário e em grandes quantidades);
- Fadiga;
- Associação com doença clínica;
- Desnutrição;
- Quadro de abstinência prévio;
- Consumo concomitante de sedativos, hipnóticos ou ansiolíticos;
- Depressão.
Evolução: Os sintomas se iniciam quando as concentrações séricas de álcool declinam abruptamente (entre 6-12 horas), depois que o uso foi interrompido ou diminuído. Os sintomas costumam aparecer de forma mais intensa no 2º dia, melhorando a partir do 4º ou 5º dia. Contudo, após a abstinência aguda, surgem sintomas de ansiedade, insônia e disfunção autonômica que podem persistir por até 6 meses em menor intensidade.
Anamnese e exame físico, bem como avaliar padrão de consumo, história de internações prévias, tempo de abstinência anteriormente, tratamento prévio, se houve complicações anteriormente (delirium tremens ou convulsões), faz-se uso de outras substâncias ou medicações, se há outros transtornos mentais etc. Também é importante a realização do exame neurológico (enfoque na avaliação oculomotora para descartar a encefalopatia de Wernicke ).
Avaliar alterações clínicas: gastrite, pancreatite, pneumonia e hepatites.
História clínica/testes:
- AUDIT;
- FAST;
- TWEAK;
- CAGE (quatro perguntas: “sente necessidade de parar de ingerir bebida alcoólica?”; “sente-se incomodado com críticas dos outros aos hábitos de bebida?”; “sente-se mal ou culpado quando bebe?”; “bebe de manhã para melhorar a ressaca ou ficar mais calmo?”). Duas respostas afirmativas = indicação positiva para dependência de álcool;
- Escala Clinical Institute Withdrawal Assessment for Alcohol Scale (CIWA-Ar) – específica para abstinência de álcool, sendo possível encontrá-la em português.
Exames de rotina:
- Hemograma completo;
- Eletrólitos (inclusive potássio, magnésio e fosfato);
- Glicemia;
- Creatinina;
- Função hepática;
- Amilase e Lipase;
- Beta-hCG para mulheres em idade fértil;
- ECG: pacientes com mais de 50 anos e história de problemas cardíacos;
- Neuroimagem: primeira convulsão, mudança no padrão da doença ou suspeita de infecção;
- Radiografia de tórax: doenças ou sintomas respiratórios, alteração ao exame físico ou rebaixamento do estado mental;
- Ultrassonografia ou tomografia de abdome total: dor abdominal + alterações nas funções hepática ou pancreática;
- Punção lombar na suspeita de infecção.
Para diagnóstico diferencial das complicações:
- Exames de imagem: radiografia ou ultrassonografia de tórax, abdome e/ou crânio ou tomografia de crânio;
- Eletroencefalograma : fatores de risco, como epilepsia pré-existente, lesões cerebrais estruturais, drogas que propiciem convulsão;
- Se houver disponibilidade, pesquisa de etanol no sangue, urina ou o teste do “bafômetro”.
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.