Logotipo Afya
Anúncio
Clínica Médica13 março 2018

Usamos o efeito placebo a nosso favor?

A importância da relação médico-paciente são extremamente difundidas na Medicina e sua implicação na prática é indiscutível. Contudo, estudos mostram as bases psiconeurofisiológicas que gerariam efeitos placebo-nocebo através das expectativas, positivas ou negativas dos pacientes.

Tempo de leitura: [rt_reading_time] minutos.

A importância e magnitude da relação médico-paciente são extremamente difundidas na Medicina e sua implicação na prática médica é indiscutível. Contudo, estudos, recentes e outros já não tão recentes assim, e pouco difundidos em nossa prática, mostram as bases psiconeurofisiológicas que gerariam efeitos placebo-nocebo através das expectativas, positivas ou negativas dos pacientes. Além do condicionamento gerado nesses tanto por nossas palavras quanto por nossos atos.

O efeito placebo vai além da sua aplicabilidade, ou melhor, da tentativa de anulação desse efeito nos ensaios clínicos. Sua definição mais ampla abrange a melhora de sintomas ou das funções fisiológicas do organismo em resposta a fatores supostamente inespecíficos e aparentemente inertes¹. Já o efeito nocebo, seria o oposto, em que os mesmos meios levariam a desfechos ruins.

Dentro da nossa perspectiva minimalista, tentando diante da complexidade do efeito placebo-nocebo, estudos dissociam seus mecanismos em psicológicos e neurofisiológicos.

Dentre os efeitos psicológicos está o condicionamento clássico ou pavloviano e a expectativa consciente. O condicionamento clássico ou behaviorista é bem exemplificado por um experimento em que houve uma imunossupressão placebo em crianças com lúpus eritematoso sistêmico². No estudo, a ciclosporina A adicionada a sacarina foi utilizada, após houve administração apenas de sacarina (estímulo gustativo) induzindo também alterações nas IL-2 e INF-gama.

Além disso, um modelo experimental mostrou³ que quando o paciente “sabe” que está sendo tratado, os resultados são melhores do que quando o mesmo “não sabe”. Embora nenhum placebo tenha sido administrado nesse caso, a diferença entre os grupos pode ser representada como tal. No mesmo estudo, houve piores desfechos quando o paciente sabia que o tratamento havia sido suspenso, denotando o efeito nocebo.

Efeito Hawthorne e a eficiência do cuidado médico

Os mecanismos neurofisiológicos têm sido estudados principalmente em relação à dor e a relação com os receptores opioides endógenos, a doença de Parkinson e a dopamina endógena e a depressão maior e o metabolismo da glicose cerebral. Várias vias bioquímicas e neuroanatômicas mostram o efeito da aplicação do placebo na prática médica4.

Com os estudos recentes, mais discussões no ambiente médico e multiprofissional devem ser realizadas para a aplicação em nosso favor do efeito placebo e também para se evitar o efeito nocebo. Somos profissionais que representamos a ponte na terapêutica e, segundo esses estudos e tais efeitos, temos um arsenal ainda pouco conhecido para fazer com que o paciente tenha o máximo de efetividade em seu tratamento, seja ele farmacológico, nutricional, cirúrgico ou comportamental.

A relação médico-paciente e suas nuances, desde o modo como acolhemos o paciente até a maneira como expomos um tratamento específico e suas possibilidades, podem ativar positiva ou negativamente nossa prática médica. Mesmo um tratamento de última geração com todos os trials a favor da sua aplicação e a utilização adequada segundo os mais robustos protocolos podem ser influenciados pela reação psiconeurofisiológica do paciente em relação àquela pílula ou procedimento específico.

Há de se trazer à tona a reflexão: usamos esse “efeito” ainda pouco conhecido e banhado de polêmica a nosso favor? Tentamos ser placebo?

Tenha em mãos informações objetivas e rápidas sobre práticas médicas. Baixe o Whitebook.

Referências:

  1. Teixeira MZ. Bases psiconeurofisiológicas do fenômeno placebo-nocebo: evidências científicas que valorizam a humanização da relação médico-paciente. Rev Assoc Med Bras 2009; 55(1):13-8.
  2. Olness K, Ader R.Conditioning as na adjunct in the pharmacotherapy of lupus erythematous. J Dev Behav Pediatric 1992; 13:124-5.
  3. Colloca L, Lopiano L, Lanotte M, Benedetti F. Overt versus covert treatment for pain, anxiety, and Parkinson´s disease. Lancet Neurol 2004;3(11):679-84.
  4. Fricchione G, Stefano GB. Placebo neural systems: nitric oxide, morphine and dopamine brain reward and motivation circutries. Med Sci Monit 2005; 11(5):MS54-65.
Anúncio

Assine nossa newsletter

Aproveite o benefício de manter-se atualizado sem esforço.

Ao assinar a newsletter, você está de acordo com a Política de Privacidade.

Como você avalia este conteúdo?

Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.

Compartilhar artigo