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Clínica Médica21 janeiro 2025

Teste do Microbioma Intestinal

O teste do microbioma tem um grande apelo comercial na atualidade, mas não conta com indicações claras de realização
Por Leandro Lima

A publicidade em saúde, direcionada aos profissionais e paciente, naturalmente, coloca em destaque as novidades mercadológicas. 

Alguns laboratórios brasileiros, seguindo a tendência de outras regiões do globo, têm oferecido um teste intitulado “Microbioma Intestinal”.  

O tema da microbiota intestinal é dotado de grande apelo nas mídias sociais, especialmente por quem busca a otimização das condições de saúde. Entretanto, as suas “benesses” nem sempre encontram o respaldo na Medicina Baseada em Evidências, podendo fomentar ilusões, gastos desnecessários e iatrogenias.  

Os conhecimentos relativos à microbiota intestinal, de forma inegável, galgaram considerável avanço nos últimos anos, e alguns dos frutos dessa linha de pesquisa já são palpáveis na prática cotidiana: 

  • O emprego da rifaximina na encefalopatia hepática e síndrome do intestino irritável com predomínio de diarreia; 
  • A utilização de probióticos na diarreia infecciosa ou associada a antibióticos, bem como coadjuvantes em regimes de erradicação do Helicobacter pylori; 
  • O transplante de microbiota fecal como opção eficaz na infecção recorrente por Clostridioides difficile. 

Trata-se, portanto, de uma área pungente e promissora da Medicina. Entretanto, o uso de exames laboratoriais fecais, destinados à elucidação do perfil da microbiota intestinal com o intuito de proposição terapêutica, não é amparado na literatura médica. As técnicas empregadas, entretanto, encontram-se em aperfeiçoamento e já permitem a coleta de uma miríade de dados potencialmente úteis em um futuro próximo.  

Diante dessas questões, um consenso internacional sobre a aplicabilidade do teste de microbioma na prática clínica, baseado na opinião de especialistas, foi publicado em dezembro de 2024 por Serena Porcari e colaboradores no prestigiado periódico The Lancet Gastroenterology and Hepatology 

Os principais pontos enfatizados em relação ao “Teste do Microbioma” foram os seguintes:  

  • Não há indicações claras para a sua realização; 
  • Não há validação para o emprego no seguimento clínico de quaisquer patologias; 
  • Existem limitações notáveis em sua interpretabilidade e aplicabilidade. 

O consenso recomendou ainda que, uma vez realizados esses testes, alguns critérios devem ser atendidos. 

Leia mais: O papel do microbioma intestinal nas doenças oculares

Critérios a serem atendidos pelo “Teste do Microbioma” 

  1. Coleta de informações básicas, como a idade, sexo, índice de massa corporal (IMC), hábitos dietéticos, exposição ao tabagismo e etilismo, tempo de trânsito intestinal, comorbidades e medicamentos em uso. 
  1. Processamento padrão das amostras fecais, respeitando-se os tempos para as análises e o armazenamento a -80°C.  
  1. As técnicas recomendadas são o sequenciamento de amplicons baseadas em RNA ribossômico 16S ou o sequenciamento genômico total. Os testes de reação de cadeia de polimerase (PCR) multiplex e culturas bacterianas, por sua vez, não foram considerados testes representativos do microbioma. 
  1. Os resultados devem incluir as métricas referentes à diversidade alfa (medida da complexidade e variedade de um mesmo ecossistema) e beta (medida ecológica de similaridade da composição entre duas comunidades), seguir o perfil taxonômico completo da microbiota e demonstrar a comparação com as amostras de indivíduos saudáveis por meio de gráficos elucidativos.  
  1. Foi desencorajado a descrição de qualquer orientação terapêutica no laudo. 

microbioma

Conclusão e Mensagens práticas 

  • O teste do microbioma tem um grande apelo comercial na atualidade, mas não conta com indicações claras de realização e nem permite a tomada de condutas com o respaldo da Medicina Baseada em Evidências.  
  • As informações coletadas, entretanto, se organizadas e analisadas de forma correta, podem trazer dados relevantes sobre a microbiota fecal em um futuro próximo, com aplicabilidade potencial na predição do curso evolutivo e tratamento de condições específicas.   

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Referências bibliográficas

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