A esteato-hepatite associada à disfunção metabólica (MASH) é uma forma grave — e cada vez mais prevalente — de doença hepática crônica, que se associa a desfechos nefastos tanto hepáticos, com o incremento do risco evolutivo para cirrose e carcinoma hepatocelular (CHC), quanto cardiovasculares.
O estudo ESSENCE, publicado em maio de 2025 no NEJM, destacou-se por sua natureza multicêntrica, com a participação de 37 países, contemplando sobretudo a América do Norte, Europa e Ásia.
Métodos
Trata-se de RCT de fase 3 e duplo cego que avaliou a eficácia e segurança da semaglutida, um agonista do GLP-1, entre pacientes adultos (≥ 18 anos) com MASH e fibrose hepática documentada por biópsias realizadas antes (com inclusão apenas de fibrose em estágio 2 e 3) e após a intervenção.
Posologia da Semaglutida |
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Os principais critérios de exclusão foram etiologias de hepatopatia distintas de MASH; consumo alcoólico > 20 ou 30 gramas/dia entre mulheres e homens, respectivamente; descompensações agudas ou MELD > 12 pontos; aumento de transaminases > 5 vezes ou taxa de filtração glomerular < 30 mL/min/1,73m², HbA1C > 9,5%; e histórico de pancreatite.
A análise interina por intenção de tratamento englobou 800 entre 1.200 pacientes randomizados entre maio/2021 e abril/2023, alocados em uma taxa de 2:1 (oportunizando uma intervenção promissora para um maior número de pacientes do estudo) e acompanhados por um período de 72 semanas:
- Grupo semaglutida: 534;
- Grupo placebo: 266.
A mediana de idade foi de 56 anos, IMC de 34,6 e a maioria dos pacientes foi constituída por mulheres (57,1%), caucasianos (67,5%) e diabéticos (55,9%)
Os desfechos primários, analisados sob a égide de um poder estatístico de 90% para detectar uma diferença de risco de 35%, foram os seguintes:
- Resolução da esteato-hepatite sem piora da fibrose;
- Regressão da fibrose sem agravamento da inflamação hepática.
Resultados
Os principais resultados foram destacados na sequência:
|
Semaglutida |
vs |
Placebo |
Diferença entre os grupos (IC 95%) |
Resolução da inflamação |
62,9% |
34,3% |
21,1 a 36,2% (P < 0,001) | |
Melhora da fibrose |
36,8% |
22,4% |
7,5 a 21,3% (P < 0,001) | |
Desfechos combinados |
32,7% |
16,1% |
10,2 a 22,8% (P < 0,001) | |
Perda ponderal média |
10,5% |
2% |
7,4 a 9,6% (P < 0,001) |
Em relação à segurança, os eventos adversos foram majoritariamente gastrointestinais, como náuseas e diarreia, não levando à descontinuação do tratamento na maioria dos casos. A taxa de eventos graves foi semelhante entre os grupos (13,4%) e 83,5% dos alocados ao grupo semaglutida foram capazes de permanecer na dose alvo (2,4 mg/semana) até a semana 72.
As principais limitações que destacamos foi a subrepresentação da população preta e a não utilização de biomarcadores relativos ao consumo de álcool.
Conclusão e mensagens práticas
- A semaglutida tem se consolidado como uma intervenção promissora, em termos de melhora histológica hepática, entre indivíduos com MASH e fibrose moderada a avançada (F2-F3).
- Os resultados tratados na presente sinopse foram interinos, de forma que o estudo segue em andamento, com planejamento de seguimento por cerca de 5 anos, com o intuito de analisar desfechos brutos, como a sobrevida livre de cirrose.
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