A ectasia vascular antral gástrica (GAVE) frequentemente é lembrada por seu fenótipo: o famoso “estômago em melancia”, pela bandas hiperêmicas lineares com distribuição radial a partir do piloro que lembram a aparência externa do fruto em analogia.
A expressão clínica típica da entidade é a anemia ferropênica, secundária às perdas sanguíneas crônicas e insidiosas pelo trato gastrointestinal. Eventualmente, pode se associar a sangramentos perceptíveis, apresentando-se com aspecto de melena ou hematêmese.
A GAVE geralmente está associada a condições sistêmicas, como:
- Hipertensão portal clinicamente significativa;
- Doenças reumatológicas, como a esclerose sistêmica;
- Doença renal crônica avançada;
- E doenças cardiovasculares.
Trazemos aqui uma sinopse de uma revisão sistemática e meta-análise, conduzida por Archit Garg e colaboradores e publicada em fevereiro de 2025 no período Gastrointestinal Endoscopy, uma revista com fator de impacto de 6,7.
A coagulação por plasma de argônio (CPA), uma terapia não contato, é considerada o tratamento endoscópico de primeira linha para a GAVE. Mais recentemente, entretanto, o uso de ligadura endoscópica por bandas elásticas (LE), amplamente lembradas no tratamento das varizes esofágicas, foi também reconhecido enquanto abordagem alternativa na GAVE.
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O objetivo do estudo foi a comparação entre eficácia e a segurança da CPA vs. LE no tratamento da GAVE.
Foi realizada uma pesquisa em amplas bases de dados (PubMed, EMBASE, Google Scholar, LILACS, SCOPUS e Web of Science), incluindo coortes retrospectivas e estudos randomizados prospectivos, com submissão dos resultados à revisão sistemática e meta-análise.
Ao todo foram contemplados 10 estudos, com N = 476, idade média de 56 anos e proporção semelhante entre homens e mulheres.
Os principais resultados foram os seguintes:
Desfechos |
Ligadura elástica |
Argônio |
RR |
Erradicação da GAVE | 88,6% |
57,9% | 1,52 (IC 95%: 1,16 a 2,02; I²=72%; p<0,001) |
Ressangramento | 6,6% | 39,7% | 0,21 (IC 95%: 0,09 a 0,44; I²=0%; p< 0,001) |
Recorrência da GAVE | 7,3% | 38,5% | 0,22 (IC 95%: 0,109 a 0,446; I²= 0%; p<0,01) |
Transfusões (1 ano) | 1,24 (11 meses) | 3,098 | I²= 98% e 99%, respectivamente |
Internações | 0,67 | 1,673 | I²= 99% para ambos os dados |
Eventos adversos |
16,8% |
9,3% | 2,11 (IC 95%: 0,8-5,46; 58%; p =0,1) |
Os dados obtidos demonstram superioridade da ligadura elástica em relação à coagulação com plasma de argônio no tratamento da GAVE. Entretanto, destacamos a grande heterogeneidade entre os estudos, o que limita a interpretação dos resultados, sobretudo os referentes ao impacto em demanda transfusional e internações.
Em relação aos eventos adversos, a maior prevalência no grupo de ligadura elástica era esperada, sobretudo por se tratar de um procedimento que envolve uma maior profundidade da mucosa, em relação ao argônio, que é uma terapia dedicada somente à superfície. Ressalta-se, contudo, que os eventos adversos foram considerados minor, não levando a internações nem descontinuação do tratamento, sendo o mais comum a dor abdominal.
Conclusão e mensagens práticas
A ligadura elástica demonstrou maior eficácia na erradicação de ectasia vascular antral gástrica (GAVE) em relação à coagulação com plasma de argônio. Houve ainda menor taxa de ressangramento, demanda transfusional e internações em relação ao argônio. Dessa forma, os dados apontam para a necessidade de reavaliar os protocolos endoscópicos de tratamento dessa entidade, considerando-se a ligadura no tratamento de primeira linha da GAVE.
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