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Clínica Médica6 junho 2020

Podemos usar o sistema ABO na estratificação de risco de Covid-19?

Recente estudo chinês tentou investigar a relação entre a tipagem sanguínea (sistema ABO) e o risco de infecção pelo SARS-CoV-2, causador da Covid-19.

A pandemia de Covid-19, síndrome infecciosa causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), já provocou milhares de óbitos em todo o mundo. Muito se vem estudando sobre a doença, incluindo características clínicas e epidemiológicas que possam representar maior risco de infecção e de complicações relacionadas a ela.

Vários estudos mostram que idade avançada e presença de comorbidades são fatores de risco. No entanto, a associação entre marcadores biológicos e suscetibilidade à Covid-19 é pouca descrita.

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Sistema ABO e Covid-19

Recente estudo chinês tentou investigar a relação entre a tipagem sanguínea (sistema ABO) e o risco de infecção pelo SARS-CoV-2. Os autores coletaram, de forma retrospectiva, informações acerca de características epidemiológicas, manifestações clínicas, condições de base, imagens tomográficas, achados laboratoriais e desfecho de 2.153 pacientes admitidos em três hospitais de Wuhan, durante os meses de fevereiro e março/2020. Os dados foram comparados com os de 3.694 indivíduos saudáveis (controle).

Leia também: Alterações dos leucócitos na Covid-19 e valor prognóstico

No Central Hospital of Wuhan, a proporção de indivíduos infectados foi maior do que a de indivíduos saudáveis no grupo A (39,3% versus 32,3%), enquanto que, no grupo O, tal proporção foi menor (25,7% versus 33,8%). Agregando os dados coletados em outros dois hospitais (Wuhan Jinyintan Hospital e Renmin Hospital of Wuhan University), o mesmo comportamento foi evidenciado: proporção de indivíduos infectados maior do que a de indivíduos saudáveis no grupo A (38,0% versus 32,2%) e menor no grupo O (25,7% versus 33,8%).

Esses achados sugerem que o sistema ABO pode representar um biomarcador para avaliação de risco de Covid-19: grupos A e O associam-se a maior e menor risco, respectivamente. Uma possível explicação para as diferenças observadas seria um efeito dos anticorpos anti-A sobre a enzima conversora da angiotensina 2, que funciona como um receptor para o vírus: os anticorpos (ausentes em indivíduos do tipo sanguíneo A e presentes no indivíduos do tipo O) parecem inibir a enzima.

Mais da autora: Anticoagulação na Covid-19: quais as recomendações mais recentes de guidelines e sociedades?

Conclusões

É importante enfatizar o fato de grande parte das informações sobre a infecção pelo novo coronavírus estar sendo gerada em tempo real. Logo é preciso ter cuidado nas suas interpretações e ter ciência de que novos dados podem ser divulgados. Muitos estudos estão em andamento, e diversas questões ainda necessitam de resposta. Os dados apresentados resultaram de apenas um estudo chinês, e as diversidades entre as populações de diferentes países podem interferir nos achados e na evolução dos doentes. É preciso ter bastante cautela ao analisar estudos de outros países.

Referências bibliográficas:

  • Li, Juyi, et al. “Association between ABO blood groups and risk of SARS‐CoV‐2 pneumonia.” British Journal of Haematology (2020).

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