A linfo-histiocitose hemofagocítica (LHH) é uma síndrome caracterizada por resposta hiperinflamatória e que deve ser prontamente reconhecida, com o propósito de oportunizar o tratamento em tempo hábil para pacientes sob o risco de rápida deterioração clínica, falência multiorgânica e óbito.
Classificação
Linfo-histioicitose hemofagocítica (LHH) | ||
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Primária |
Secundária |
Etiologia |
Genética | Adquirida:
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Predominância | Lactentes (3-6 meses) |
Adultos |
Incidência | 1:50.000 |
6: 1.000.000 |
Muitos confundem a LHH com a síndrome de ativação macrofágica (SAM) – nesse aspecto, enfatizamos que a SAM está contida no universo da LHH, mas se restringe aos casos cujo gatilho é autoimune, a exemplo do lupus eritematoso sistêmico (LES).
Fisiopatologia
A resposta hiperinflamatória característica da LHH é defectiva, ou seja, ineficaz em eliminar células nocivas, além de demonstrar uma tendência à perpetuação, condicionando a lesão tecidual.
Diante de gatilhos infecciosos, por exemplo, os macrófagos, ainda que ativados, não contam com a capacidade das células T CD8+ citotóxicas em eliminar as células infectadas, mesmo com a sua expansão e produção crescente de interferon-gama (IFN-γ).
Os níveis elevados de IFN-γ, contudo, retroalimentam o estímulo aos macrófagos e a atividade de células TCD8+, com secreção de citocinas pró-inflamatórias (IL-1b, IL-6, IL-10, IL-18 e TNF-alfa).
A tempestade citocínica é promovida por esse círculo vicioso de ativação imunológica, que gera lesão orgânica e tecidual progressivas.
Leia mais: Quando pensar em síndrome hemofagocítica em um paciente com SIRS?
Diagnóstico
O diagnóstico precoce é fundamental para viabilizar que o tratamento seja ofertado em tempo hábil, reduzindo a morbimortalidade e as complicações.
Os critérios diagnósticos propostos no ensaio LHH, em 2004, exigiam o preenchimento de cinco dos oito critérios:
- Febre (≥38,3°C);
- Esplenomegalia;
- Redução de ao menos 2 das 3 séries sanguíneas:
- Hemoglobina < 9 g/dL ou < 10 g/dL (lactentes < 4 semanas);
- Plaquetopenia < 100.000/mm³;
- Neutropenia < 1.000/mm³).
4. Hipertrigliceridemia (> 265 mg/dL) ou hipofibrinogenemia (< 150 mg/dL);
5. Hemofagocitose na medula óssea, baço, linfonodos ou fígado (sistema retículo-endotelial);
6. Hiperferritinemia (> 500 ng/mL);
7. Atividade ausente ou reduzida de células NK;
8. Elevação do receptor solúvel da IL-2 (sCD25).
Em 2014, os critérios foram revisados com a proposição do HScore, que estima a probabilidade de LHH:
- Pontuação ≥ 250: Elevada probabilidade (99%);
- Pontuação ≤ 90: Baixa probabilidade (<1%).
Tratamento
O tratamento envolve três grandes pilares:
- Controle da hiperinflamação (corticoide, imunoglobulina e/ou etoposide);
- Identificação e tratamento do gatilho (principalmente na LHH secundária: infecções, autoimunidades e malignidades);
- Avaliação para o transplante de células-tronco hematopoiéticas (LHH primária).
Na LHH primária é proposta uma terapia de resgate pré-transplante, constituída por etoposídeo, dexametasona e ciclosporina. A sobrevida pós-transplante supera os 85% em centros especializados.
Na LHH secundária emprega-se, rotineiramente, os glicocorticóides, com ou sem imunoglobulina intravenosa. Nos casos graves e refratários, particularmente aqueles com envolvimento do SNC e/ou falência orgânica iminente, recomenda-se a pronta adição de etoposídeo. Drogas que ainda podem ser utilizadas em casos mais graves de LHH secundária incluem os inibidores da IL-1 (Anakinra), anticorpo monoclonal anti-IFN-γ (Emapalumab) e inibidores da JAK (ruxolitinibe).
Dicas práticas e mensagens finais
- A linfo-histiocitose hemofagocítica (LHH) é uma condição de hiperinflamação que pode ser primária ou secundária. A síndrome de ativação macrofágica está contida no universo da LHH secundária, mas se restringe aos gatilhos autoimunes.
- Um escore diagnóstico revisado foi proposto no ano de 2024: HScore. Ressaltamos que a hiperferritinemia, embora seja um achado comum, é inespecífica.
- O diagnóstico precoce é fundamental para oportunizar o tratamento imediato e mitigar a morbimortalidade e complicações.
- Os glicocorticoide e a imunoglobulina endovenosa integram o arsenal terapêutico da maioria dos casos, devendo-se considerar o etoposide nos casos graves e refratários.
- Na LHH primária, o tratamento definitivo reside no transplante de células-tronco hematopoiéticas. Já na LHH secundária, o tratamento deve ser direcionado ao gatilho deflagrador, seja ele infeccioso, autoimune ou oncológico.
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