A deficiência de vitamina D é uma questão de saúde global. Nos últimos tempos, a pandemia da Covid-19, um maior tempo dentro de casa ou escritório e presença de comorbidades foram alguns dos fatores que fizeram com que a deficiência dessa vitamina tão importante se alastrasse pelo mundo.
Dada a relevância do assunto, recentemente foi publicado um artigo que visou avaliar a eficácia e segurança de calcifediol uma vez em pacientes com deficiência severa de vitamina D.
Introdução
A deficiência da vitamina D é uma condição bastante frequente no mundo todo. Razões como redução à exposição solar, latitude, pele escura e alguns polimorfismos genéticos são associados a ela. Além disso, algumas doenças disabsortivas como fibrose cística, doença celíaca e doença de Crohn, acabam reduzindo a quantidade de enzimas específicas para a conversão da vitamina D ativa.
Apesar de ainda ser controverso, valores abaixo de 10 ng/mL são considerados deficiência severa de vitamina D. Tais valores podem estar associados a algumas doenças como o raquitismo na infância e ostemalácia e osteoporose nos adultos.
A calcifediol (25-hidroxivitamina-D3, calcidiol) vem sendo estudada e considerada a mais potente para elevar os níveis de vitamina D em pacientes com deficiência severa.
Sendo assim, o presente estudo visou avaliar a eficácia de diferentes doses semanais de calcifediol no tratamento da deficiência severa da vitamina D.
Metodologia
O presente estudo foi randomizado, de 2 coortes, controlado, duplo-cego e multicêntrico de fases 2 e 3, no qual indivíduos foram alocados em grupo placebo, grupo calcifediol 100 µg e grupo calcifediol 125 µg.
Os critérios que inclusão foram homens e mulheres com mais de 18 anos e deficiência severa de vitamina D (<10 ng/mL).
O estudo ocorreu em 7 países europeus (Bulgária, República Tcheca, Espanha, França, Itália, Sérvia e Eslováquia) no período de 28.12.2020 a 25.04.2023. O período de tratamento durou 52 semanas com mais um seguimento de 30 dias.
Os pacientes tiveram então seu nível de vitamina D dosado no início do estudo e no decorrer dele. Nas semanas 16, 24 e 32, aqueles que tiveram níveis inferiores a 10, receberam também colecalciferol como medicação de resgate na dose de 800 ui/dia.
O desfecho primário analisado foi a proporção de pacientes que atingiram valores séricos > 20 ng/mL ou >30 ng/mL de 25-oh-vitamina d na semana 16 de tratamento.
Resultados
Um total de 276 indivíduos com níveis inferiores a 10 ng/mL de vitamina D foram randomizados. Desses, 260 completaram as 16 semanas e 227 completaram o estudo todo por 52 semanas.
55 pacientes receberam placebo, 104 receberam 100 µg de calcifediol e 110 receberam, 125 µg de calcifediol.
A média de idade dos participantes foi de 55,2 anos, 73,6% eram do sexo feminino e 94% brancos. A maioria dos pacientes apresentou IMC superior a 30 kg/m2 e a comorbidade mais prevalente entre todos os participantes foi a hipertensão arterial.
Após a semana 16, 92,3% dos indivíduos tratados com 100 µg de calcifediol; 91,8% dos indivíduos tratados com 125 µg de calcifediol e 7,3% dos indivíduos tratados com placebo atingiram níveis > 20 ng/mL.
Foi comprovado que ambas as doses de calcifediol foram eficazes em atingir níveis > 20 ng/mL, porém pouca diferença entre os grupos foi observada ao se atingir níveis > 30 ng/mL na semana 16.
Além disso, a maioria dos pacientes do grupo calcifediol apresentou resposta sustentada à medicação: 79,8% dos pacientes do grupo de 100 µg de calcifediol atingiram os níveis na semana 16 e 85,3% dos pacientes do grupo de 125 µg de calcifediol atingiram os níveis na semana 4.
Discussão
A vitamina D é essencial para o metabolismo ósseo, mas também atua em outras funções importantes como musculares, neuronais e imunobiológicas.
Apesar de na maioria das vezes, sua deficiência ser assimtomática, quando ocorre hiperparatireoidismo secundário, sintomas como dor óssea, artralgia, mialgia, fadiga e fraqueza podem surgir.
Os resultados do estudo mostraram que ambas as doses de calcifediol foram seguras e eficazes em elevar os níveis de vitamina D, porém pensando-se a longo prazo, a dose de 100 µg de calcifediol parece ser a melhor opção de tratamento por aliar segurança e eficácia na menor dose necessária.
O estudo mostrou melhora da saúde óssea e muscular dos pacientes, além de melhora na qualidade de vida naqueles tratados com calcifediol.
A principal limitação do estudo foi não contar com a comparação com a colecalciferol. Entretanto, o estudo contou com um bom número de pacientes, sendo que mais de 80% deles concluíram o tratamento, além de um bom tempo de seguimento.
Conclusão e mensagem prática
Calcifediol tem se mostrado uma opção segura e eficaz no tratamento da deficiência de vitamina D. No entanto, no presente estudo apenas as doses de 100 e 125 µg de calcifediol semanais foram estudadas e demonstraram ser altamente efetivas em adequar os níveis de vitamina D dos pacientes de um modo rápido e confiável.
A dose de 100 µg de calcifediol demonstrou ser a melhor opção por aliar eficácia de tratamento na menor dose possível.
Ainda assim, são necessários mais estudos que possam avaliar se outras doses de calcifediol são eficazes e quando escolher tal opção em detrimento do colecalciferol.
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