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Clínica Médica28 outubro 2025

IScience 2025: Relação entre desreguladores endócrinos e síndrome metabólica

Estudo no iScience 2025 revelou associação entre exposição a desreguladores endócrinos ambientais e maior risco de síndrome metabólica em humanos.

A síndrome metabólica é composta por um conjunto de fatores que aumenta o risco de diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares. São esses a obesidade central, hipertensão, dislipidemia e resistência à insulina. Pesquisas recentes indicam que exposições ambientais a esses compostos, além dos hábitos de vida, podem influenciar no desenvolvimento da síndrome metabólica. Entre esses fatores estão os desreguladores endócrinos ambientais, substâncias químicas encontradas em embalagens plásticas, produtos de limpeza, pesticidas e equipamentos industriais. Esses compostos podem interferir no eixo hormonal, conforme sugere o estudo. Embora existam vários estudos individuais, a relação entre exposição e síndrome metabólica ainda não estava clara. 

Metodologia  

Esta revisão sistemática com metanálise, publicada no iScience em julho de 2025, analisou estudos realizados até dezembro de 2024. A pesquisa foi conduzida utilizando dados da Web of Science, Embase e PubMed, seguindo as diretrizes PRISMA para identificar, selecionar, avaliar e sintetizar estudos. Foram incluídos estudos com humanos que dosaram desreguladores endócrinos em amostras de sangue e urina e avaliaram a síndrome metabólica com base nos critérios padronizados NCEP-ATP III/IDF. Os artigos foram selecionados e os dados extraídos de forma independente. 

As exposições foram categorizadas em quatro classes principais: PFAS, ftalatos, PCBs e OCPs. Quando possível, análises por compostos específicos, como PFNA, PFOA e MECPP, complementaram as classes químicas. O desfecho principal foi a presença de síndrome metabólica, com associações combinadas como odds ratios (OR) com intervalos de confiança de 95%, padronizando unidades sempre que possível. 

A variação entre os estudos, devido a diferenças de população, desenho e métodos de dosagem, foi quantificada para orientar a escolha do modelo estatístico: efeitos fixos foram usados quando a variação era baixa, e efeitos aleatórios quando era mais alta, adotando uma abordagem conservadora. A validade dos resultados foi testada por análises de sensibilidade, removendo estudos com grande peso ou resultados considerados atípicos, e por subgrupos conforme classe, o biomarcador e tipo de estudo. 

Uma metanálise reuniu estudos que monitoraram exposições a desreguladores endócrinos usando amostras biológicas e diagnosticaram síndrome metabólica com critérios padrão. Os resultados indicam que exposições mais elevadas a quatro classes de desreguladores estão associadas a uma maior probabilidade de síndrome metabólica. 

Nos PFAS, o PFNA foi correlacionado com o aumento da circunferência abdominal (OR 1,23; IC95% 1,101,38), e o PFOA com pressão arterial alterada (OR 1,05; 1,011,08). Em ftalatos, metabólitos como o MECPP mostraram maior chance de síndrome metabólica (OR 1,16; 1,041,29). Entre os PCBs, o efeito foi mais significativo (OR 1,47; 1,131,93). Nos pesticidas organoclorados (OCPs), a associação foi a mais robusta (OR 1,97; 1,33–2,90). 

Os estudos incluem coortes e transversais, medidas por tabelas de compostos e populações com perfis diferentes, o que explica parte da heterogeneidade observada. No entanto, a remoção de estudos de grande peso ou atípicos e outros com modelos alternativos manteve o efeito visto nesta análise. As associações não comprovam causalidade; fatores como dieta, ocupação e coexposição podem introduzir viés. No geral, a meta-análise sugere que os compostos desreguladores endócrinos são fatores de risco para a síndrome metabólica. 

Discussão 

Significado clínico 

Este estudo oferece evidências quantitativas de que exposições ambientais podem aumentar o risco de esclerose múltipla (SM). A associação é consistente entre diferentes classes de desreguladores endócrinos, com os maiores índices observados para pesticidas organoclorados e bifenilas policloradas. Embora algumas razões de chances (ORs) apresentem intervalos diferentes, os resultados indicam uma relação positiva entre a exposição e o risco de SM. 

Limitações 

  • – Variação entre estudos: Mesmo utilizando modelos estatísticos (efeitos fixos/aleatórios), há diferenças significativas na medição da exposição e dos desfechos alguns estudos usam biomarcadores (sangue/urina), enquanto outros utilizam questionários; além disso, as populações, janelas de tempo e critérios de SM não são idênticos. Esse desalinhamentopode influenciar as estimativas de forma positiva ou negativa. 
  • Associação não é causalidade: A maioria dos estudos observacionais neste trabalho sugere risco, mas não estabelece uma relação de causa e efeito diretamente. 
  • Exposição: Na prática, as pessoas são expostas a várias classes de desreguladores simultaneamente. Analisar um composto isoladamente pode não refletir a realidade de forma precisa. 

Implicações para a prática médica 

O que os médicos podem aconselhar seus pacientes para minimizar exposições:  

  1. Evitar alimentos ultraprocessados em embalagens plásticas e preferir recipientes de vidro ou aço inoxidável para armazenar alimentos. 
  1. Reduzir o uso de pesticidas domésticos e optar por alimentos orgânicos.
  2. Reduzir o contato com recibos de caixa ou notas impressas termicamente (papel termossensível – rico em bisfenóis) e produtos de limpeza que contenham solventes.
  3. Promover uma dieta balanceada, exercícios regulares e controle de peso para minimizar o impacto desses compostos no corpo.

Conclusão e mensagem prática 

A revisão sistemática do iScience indica que desreguladores endócrinos ambientais estão associados a um risco maior de síndrome metabólica, variando entre as classes desses compostos. Embora o risco aumentado seja moderado para alguns desreguladores endócrinos (PFASs, ftalatos) e mais significativo para outros (PCBs, pesticidas organoclorados), as evidências justificam a preocupação com a exposição a eles. 

Para os médicos, a mensagem prática é clara: recomendar medidas para reduzir a exposição e reforçar estratégias tradicionais de prevenção da síndrome metabólica. Estudos futuros devem investigar exposições combinadas e avaliar intervenções de redução de desreguladores em ensaios longitudinais. 

Autoria

Foto de Bruno Anello Mottini Horlle

Bruno Anello Mottini Horlle

Possui graduação em Medicina pela Universidade Estácio de Sá (2019). Tem experiência na área de Medicina, com ênfase em Medicina de Emergência, e Clinica Médica.

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