Logotipo Afya
Anúncio
Clínica Médica6 janeiro 2025

Atualize seus conhecimentos sobre colite por inibidores de checkpoint

Os inibidores checkpoint (ICPs) representam um grande avanço no tratamento oncológico, mas estão atrelados a eventos adversos de grande morbidade.  
Por Leandro Lima

Os eventos adversos gastrointestinais relacionados aos inibidores checkpoint (ICPs) são uma importante interface entre a oncologia e a gastroenterologia.  

Atualmente, os ICPs têm sido empregados em um número crescente de malignidades, como os cânceres de mama, colorretal, bexiga, linfoma Hodgkin e melanoma, entre outros, ampliando as possibilidades terapêuticas nesses cenários.  

Os ICPs tornam mais eficaz a resposta imunológica antitumoral ao atuarem como anticorpos direcionados aos seguintes alvos: 

  • Antígeno 4 associado aos linfócitos T citotóxicos (CTLA-4);  
  • Receptor de morte celular programa 1 (PD-1);  
  • Ligante de morte celular programada 1 (PD-L1).  

Os efeitos adversos imunomediados dos ICPs, entretanto, geram morbidade significativa, tendo o trato gastrointestinal (TGI) como o segundo principal sítio, logo após o envolvimento cutâneo. A distribuição de acometimento no TGI, por sua vez, não é uniforme, conforme ilustrado na tabela abaixo.  

Epidemiologia dos efeitos adversos gastrointestinais dos ICPs 

Comuns 

Menos comuns 

Infrequentes 

Raros 

  • Intestino grosso 
  • Fígado 
  • Pâncreas 
  • Esôfago 
  • Estômago 
  • Mucosite 
  • Diverticulite 
  • Apendicite 
  • Doença celíaca 
  • Perfuração intestinal 
  • Gastroparesia 

Entre todos os eventos adversos gastrointestinais mencionados, a colite imunomediada (CIM) é o principal por sua maior prevalência, gravidade e corpo de literatura a ela dedicada.  

 

A colite imunomediada 

O principal sintoma da CIM é a diarreia, acometendo quase 40% de todos os usuários de imunoterapia. Cerca de 10% dos pacientes expostos aos ICPs desenvolvem a colite, caracterizada por dor abdominal em cólica, febre e disenteria, com a presença de sangue e muco nas fezes.  

Os principais fatores de risco, além da imunoterapia combinada (anti-CTLA-4 + anti-PD-1/L1), incluem a exposição a outros fármacos, como: 

  • Inibidores da tirosina quinase (imatinibe e nilotinibe, entre outros); 
  • Inibidores da bomba protônica; 
  • AINEs; 
  • Antibióticos.  

Outras condições basais que amplificam o risco são a obesidade e histórico pregresso de doença inflamatória intestinal.  

Graduando os sintomas 

A gradação dos sintomas deve ser realizada com o sistema CTCAE (Common Terminology Criteria for Adverse Events), embora o prognóstico seja melhor definido a partir de dados endoscópicos e anatomopatológicos. 

Gradação da Diarreia pelo sistema CTCAE 

Grau 

Características 

1 

Aumento do número de evacuações diárias (NED) < 4 em relação ao basal ou aumento leve do débito de ostomia. 

2 

Aumento do NED entre 4 e 6 em relação ao basal ou aumento moderado do débito de ostomia, limitando as atividades instrumentais de vida diária. 

3 

Aumento do NED ≥ 7 em relação ao basal ou aumento importante do débito de ostomia, indicação de internação e/ou limitação do autocuidado. 

4 

Consequências ameaçadoras à vida, com indicação de intervenção urgente. 

5 

Morte. 

 

Gradação da Enterocolite pelo sistema CTCAE 
Grau Características 
1 Assintomático. 
2 Dor abdominal, muco ou sangue nas fezes.  
3 Dor abdominal intensa ou persistente, febre, íleo ou sinais de irritação peritoneal. 
4 Consequências ameaçadoras à vida, com indicação de intervenção urgente. 
5 Morte. 

Principais diagnósticos diferenciais 

 

O diagnóstico diferencial da CIM contempla as coinfecções, como Clostridioides difficile, Giardia duodenalis, EBV e CMV, frequentemente atreladas a maior gravidade clínica. É importante considerar a dosagem de toxina A e B e GDH, bem como incluir a pesquisa de CMV à imuno-histoquímica.  

 

A condução clínica 

Os sintomas de grau 1 devem ser manejados com medidas conservadoras: modificações dietéticas, uso de analgésicos e antidiarreicos, a exemplo da loperamida.  

Os sintomas de grau 2 ou superior, associados ao aumento de lactoferrina ou calprotectina fecal, exigem a avaliação endoscópica. Nesse quesito, como o envolvimento do cólon esquerdo está presente em 98% dos casos, a retossigmoidoscopia flexível, com biópsias seriadas, costumeiramente é suficiente. Nesses casos, recomenda-se também a corticoterapia.  

A evidência mais robusta é para a prednisona, na dose de  0,5 a 1 mg/kg/dia, evitando-se doses diárias superiores a 60 mg/dia. A redução gradual deve se dar ao longo de 4 a 6 semanas a partir da regressão dos sintomas para o grau 1. A budesonida, por sua vez, é uma alternativa aos corticoides sistêmicos, embora a evidência seja mais limitada.  

A internação hospitalar deve ser indicada nos pacientes com sintomas de grau 3 ou superior.  

Na ausência de resposta satisfatória à corticoterapia em 72 horas, bem como na presença de preditores endoscópicos de alto risco (úlceras com profundidade < 2 mm, extensão > 1 cm ou processo inflamatório difuso), deve-se considerar a terapia imunossupressora com infliximabe ou vedolizumabe. 

A resposta clínica é mais rápida com infliximabe, embora o vedolizumabe se associe a menor duração da corticoterapia e a menor taxa de hospitalizações.  

A refratariedade à terapia imunossupressora deve motivar a troca de agente ou a discussão sobre transplante de microbiota fecal (TMF), uma estratégia promissora tanto na primeira linha de tratamento como medida de resgate.  

As complicações e o papel do cirurgião do aparelho digestivo 

As complicações são raras, mas potencialmente graves, a exemplo de distúrbios hidroeletrolíticos, megacólon tóxico, obstrução e perfuração intestinal. Diante de evolução desfavorável, é fundamental o acompanhamento conjunto por cirurgião do aparelho digestivo.  

A colectomia subtotal pode se fazer necessária em casos de perfuração ou megacólon tóxico e a ileostomia pode ser considerada no manejo sintomático de colite aguda grave.  

Prognóstico 

A despeito da morbidade da fase aguda, o prognóstico é bom, com 90% de remissão livre da corticoide após a administração de infliximabe ou vedolizumabe. Nos casos de doença refratária, a taxa de sucesso do TMF é de 85%.  

Aproximadamente metade dos pacientes pode ter a imunoterapia retomada, com taxa de recorrência entre 17% e 36%, sendo mais provável com a reintrodução de agentes anti-CTLA-4.  

Um dado interessante é o de que a CIM é um fator de melhor prognóstico da doença oncológica de base.  

Conclusão e mensagens práticas 

  • Os inibidores checkpoint (ICPs) representam um grande avanço no tratamento oncológico, mas estão atrelados a eventos adversos de grande morbidade.  
  • A colite imunomediada se destaca por ser o evento adverso gastrointestinal mais prevalente, grave e estudado relacionado aos ICPs. 
  • A abordagem terapêutica passa por tratamento sintomático (antidiarreicos), corticoterapia e terapia imunossupressora, com destaque para o infliximabe e vedolizumabe. 

 

Como você avalia este conteúdo?

Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.

Compartilhar artigo

Referências bibliográficas

Newsletter

Aproveite o benefício de manter-se atualizado sem esforço.

Anúncio

Leia também em Clínica Médica