No 18° Congresso Brasileiro da Clínica Médica, realizado em Recife/PE entre 09 e 11 de setembro de 2025, o Dr. Filipe Sarinho, médico alergologista e imunologista e preceptor do HC-UFPE, em mesa presidida pelo Dr. Filipe Portela, relembrou sobre os mecanismos da resposta vacinal, sob o protótipo da inoculação de germes vivos atenuados, e esclareceu sobre os aspectos mais relevantes aos quais o clínico deve se atentar na imunização de pacientes oncológicos e imunossuprimidos.
Imunização em imunossuprimidos
A exposição de padrões moleculares associados a patógenos (PAMPs) ao MHC classe II pelas células apresentadoras da antígenos (APCs) ativa os linfócitos T CD4+, que se diferenciam em células Th1. Estas, por sua vez, estimulam linfócitos T citotóxicos e B, promovendo a formação de plasmócitos e imunoglobulinas específicas, em um processo de resposta adaptativa robusta e duradoura.
Nas vacinas de vírus inativados, por sua vez, a resposta é predominantemente humoral, com menor ativação da imunidade celular, o que confere menor potência e duração da imunidade. Já as vacinas conjugadas, que associam açúcares a epítopos proteicos, dependem menos de linfócitos T, tendo memória imunológica mais curta, exigindo, em geral, reforço a cada 5 anos.
O palestrante reforçou que as vacinas de vírus vivos atenuados requerem grande cautela em pacientes imunodeprimidos, já que podem desencadear a própria doença que pretendem prevenir e se associar a eventos adversos mais graves. A decisão de aplicá-las deve ser individualizada, considerando o risco de exposição e o grau e tipo de imunossupressão.
Nos pacientes oncológicos, a vacinação deve idealmente ocorrer antes do início do tratamento, com antecedência de 2 a 4 semanas. No entanto, reconhece-se que na prática clínica nem sempre é possível esperar. Um exemplo citado foi o da vacina Shingrix®, cujo esquema padrão de duas doses intervaladas em 2 meses pode ser ajustado, reduzindo o intervalo para cerca de um mês ou, em situações especiais, aplicando-se apenas uma dose.
Um ponto de destaque foi a conduta frente à depleção de células B, como nos casos de uso de rituximabe, terapias CAR-T ou transplante de medula óssea. Após estabilização da condição de base, recomenda-se revacinar:
- 6 meses após o uso de rituximabe;
- 2 anos após o transplante de medula óssea ou CAR-T.
Além disso, é fundamental atualizar o cartão vacinal dos contactantes domiciliares, evitando a transmissão de agentes infecciosos potencialmente graves aos pacientes imunodeprimidos.
Por fim, reforçou-se que vacinas de vírus vivos devem ser evitadas em:
- Pacientes onco-hematológicos com CD4 < 200 células/mm³;
- Receptores de transplante de órgãos sólidos;
- Transplantados de medula óssea;
- Pacientes em terapia CAR-T.
Conclusão e mensagens práticas
A imunização de pacientes oncológicos exige abordagem criteriosa e individualizada, equilibrando segurança e eficácia. A antecipação das vacinas antes da imunossupressão e a atualização vacinal dos contactantes domiciliares são pilares fundamentais para garantir proteção adequada.
Confira a cobertura completa do Congresso Brasileiro de Clínica Médica 2025!
Autoria

Leandro Lima
Editor de Clínica Médica da Afya ⦁ Residência em Clínica Médica (2016) e Gastroenterologia (2018) pelo Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC-UFMG) ⦁ Residência em Endoscopia digestiva pelo HU-UFJF (2019) ⦁ Preceptor do Serviço de Medicina Interna do HU-UFJF (2019) ⦁ Graduação em Medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
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