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Clínica Médica10 outubro 2025

CBCM 2025: Imunizações em adultos - o que precisamos saber

Uma sessão do evento destacou a importância da imunização em adultos e quais as principais vacinas disponíveis
Por Leandro Lima

Na cobertura do 18° Congresso Brasileiro de Clínica Médica, realizado em Recife/PE, o Dr. Eduardo Jorge, pediatra e representante pernambucano da Sociedade Brasileira de Imunizações, revisitou a história e os princípios que sustentam o Programa Nacional de Imunizações (PNI), criado em 1973, um patrimônio imaterial do Brasil.

técnico realizando imunização em paciente adulto

Imunização

As origens da vacinação com Edward Jenner, em 1796, foram retomadas, destacando-se como cada pandemia na história provocou rupturas no status quo, moldando avanços científicos e sociais, não tendo sido diferente na pandemia da Covid-19, que trouxe grandes desafios e reacendeu inclusive movimentos antivacina.

Nesse sentido, deu destaque ao fenômeno do “gênio não vacinado”, que descreve pessoas que se vangloriam de estar protegidas sem imunização, mas que, na realidade, se beneficiaram, desde a infância, da imunidade coletiva, de rebanho, gerada pela vacinação em massa, uma barreira de proteção que infelizmente tem se fragilizado.

Há um viés de percepção dos pacientes diante das medidas preventivas: enquanto os eventos adversos leves como febre, dor local ou prostração são imediatos e facilmente lembrados e valorizados, os benefícios das vacinas, muitas vezes silenciosos e de longo prazo, tendem a ser subestimados, e sobre esse aspecto a saída é a educação e letramento em saúde dedicado à população geral.

Influenza

Atenção especial é necessária a grupos vulneráveis, especialmente idosos acima de 65 anos, em que ocorre o fenômeno da imunossenescência, com menor resposta vacinal.

Nessa população, a vacina anual deve ser feita preferencialmente na forma de high dose, contendo quatro vezes mais antígeno (60 µg de hemaglutinina), dose também indicada para obesos e imunocomprometidos.

A influenza não é apenas causa de pneumonia ou insuficiência respiratória, mas aumenta em até 8 vezes o risco de AVC e síndrome coronariana aguda.

Vacina pneumocócica

O Streptococcus pneumoniae continua sendo um importante agente etiológico de otites, sinusites e pneumonias, despontando também como principal agente da meningite bacteriana de atualidade, superando o meningococo.

Atualmente, o esquema vacinal sequencial (VPC13/VPC15 seguida em 2 meses pela VPP23) tende a ser substituído gradativamente pela vacina 20-valente (VPC20), que oferece cobertura ampliada em dose única.

Na relação entre crianças e idosos, o efeito de proteção cruzada, pautado no carreamento nasofaríngeo, foi enfatizado: crianças vacinadas reduzem a circulação do pneumococo e, consequentemente, protegem idosos e imunocomprometidos, enquanto a imunização de adultos também reduz a exposição das crianças, em um elo de proteção intergeracional.

Vacina contra herpes zoster

A vacina Shingrix®, disponível no Brasil desde junho de 2022, é uma vacina inativada indicada para todos os indivíduos acima de 50 anos e para imunossuprimidos a partir dos 18 anos.

Além de reduzir de forma significativa a neuralgia pós-herpética, estudos recentes sugerem benefícios cardiovasculares e neurológicos inesperados. Dados de meta-análises e um estudo da European Society of Cardiology (ESC), publicado em agosto de 2025, demonstraram redução de 16% a 18% no risco de AVC e infarto após a vacinação. Um estudo publicado na Nature em 2025 identificou uma redução de 17% na incidência de demência, especialmente do tipo Alzheimer, entre os vacinados, um achado ainda sem causalidade bem estabelecida, mas que reforça o potencial da imunização para além da prevenção infecciosa.

Covid-19 e a era da infodemia

A vacinação contra a Covid-19 segue fortemente recomendada para:

  • Pessoas com mais de 60–65 anos;
  • Imunocomprometidos e imunossuprimidos (com reforço semestral);
  • Profissionais de saúde;
  • Crianças entre 6 meses e 5 anos;
  • Gestantes.

Há possível superioridade das vacinas de RNA mensageiro, tanto em eficácia quanto em resposta imune sustentada. A identificação recente da variante XFG, isolada na França em 2025, associada a aumento de internações hospitalares, serviu como alerta para a necessidade de vigilância contínua e reforça a necessidade de convivência adaptativa com o SARS-CoV-2, à semelhança do que já ocorre com influenza, rinovírus, metapneumovírus e adenovírus.

HPV e vírus sincicial respiratório: novos horizontes da prevenção

Encerrando sua exposição, o Dr. Eduardo Jorge ressaltou a importância de ampliar o alcance das vacinas contra o HPV e o vírus sincicial respiratório (VSR), ambas com impacto expressivo na saúde pública.

A vacina contra o HPV, disponível na rede privada para mulheres entre 9 e 45 anos, foi destacada como uma ferramenta fundamental de prevenção do câncer de colo do útero, doença que ainda mata cerca de 8 mil mulheres por ano no Brasil e ocupa a terceira posição entre os cânceres mais prevalentes no país.

Apesar da elevada eficácia da imunização para o HPV, há um grande trabalho a ser feito para ampliar a conscientização e a adesão vacinal, sobretudo entre adultos jovens, um público ainda subimunizado.

Quanto ao vírus sincicial respiratório, a vacinação em gestantes é uma grande conquista, pois permite a imunização passiva dos recém-nascidos, reduzindo significativamente os casos de bronquiolite, internações e óbitos por infecção respiratória aguda.

A vacinação também é indicada para idosos acima de 60 anos, especialmente aqueles com comorbidades, que apresentam maior risco de complicações. Já entre idosos sem doenças associadas, ponderou que, embora seja uma vacina de dose única, o custo-benefício ainda deve ser cuidadosamente avaliado no contexto atual.

Conclusão e mensagens práticas

Os profissionais de saúde têm papel essencial em educar, esclarecer e combater as fake news. Enquanto as mídias sociais tendem a amplificar temores que exageram os raros efeitos adversos, os inúmeros casos de sucesso raramente ganham visibilidade. Cabe, portanto, à classe médica dar voz a esses bons exemplos, reafirmando que a vacinação é um ato de ciência, solidariedade e prevenção.

Confira a cobertura completa do Congresso Brasileiro de Clínica Médica!

Autoria

Foto de Leandro Lima

Leandro Lima

Editor de Clínica Médica da Afya ⦁ Residência em Clínica Médica (2016) e Gastroenterologia (2018) pelo Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC-UFMG) ⦁ Residência em Endoscopia digestiva pelo HU-UFJF (2019) ⦁ Preceptor do Serviço de Medicina Interna do HU-UFJF (2019) ⦁ Graduação em Medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)

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Referências bibliográficas

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