Está sendo realizado de 08 a 11 de outubro, em Olinda/PE, o 18° Congresso Brasileiro de Clínica Médica e o 8º Congresso Internacional de Medicina de Urgência e Emergência, além do 1º Simpósio Brasileiro de Doenças Autoimunes.
Na Mesa Hemorragia digestiva: a estabilização na urgência salvando vidas, o Dr. Eduardo Sampaio Siqueira, de Recife/PE, discutiu sob a óptica do médico endoscopista. A hemorragia digestiva alta (HDA), é uma condição que acomete 50 para cada 100.000 adultos/ano.
A imprecisão da literatura quanto ao timing ideal para a realização da endoscopia digestiva alta (HDA) é uma fonte frequente de conflitos entre os endoscopistas e os clínicos (“se o paciente estiver estável, o exame pode esperar; caso o contrário, o paciente deve ser estabilizado antes da endoscopia”).
Nesse aspecto, uma zona de convergência é clara: a primeira medida na HDA deve ser a estabilização clínica e ressuscitação hemodinâmica, viabilizando condições seguras para a EDA. Logo, o manejo deve ser centrado no ABCDE, com garantia de 2 bons acessos venosos periféricos (16 ou 18G), expansão volêmica com cristaloides, tipagem sanguínea, prova cruzada e alvo restritivo de hemoglobina de 7 g/dL. O nível seguro de plaquetas para a hemostasia endoscópica é superior a 50.000/mm³ e a intervenção dedicada à normalização do RNI entre hepatopatas já não está indicada há tempos.
As medidas farmacológicas incluem inibidores de bomba protônica (Omeprazol 40 mg EV 12/12h), vasoconstritores esplâncnicos na suspeita de HDA varicosa (Terlipressina 2 mg EV 4/4h) e Eritromicina 250 mg 30-120 min antes da EDA, para melhorar a visibilidade. A reversão de anticoagulantes deve ser considerada em sangramentos ameaçadores à vida por meio do emprego de antídotos: complexo protrombínico ativado (varfarina), idarucizumab (dabigatrana) e andexanet alfa (rivaroxabana e apixabana).
Em termos de cronológicos, a EDA pode ser subdividida em:
- Precoce: Primeiras 24h da HDA, recomendada em casos não graves, com escore de Glasgow Blatchford (EGB) < 12;
- Muito precoce: Primeiras 12h da HDA, recomendada na suspeita de HDA varicosa ou HDA grave, com EGB ≥ 12);
- Urgente: Primeiras 6h da HDA, recomendada nos casos em que não se consegue a adequada ressuscitação hemodinâmica por sangramento ativo/persistente presumido ou contraindicação à suspensão de anticoagulantes.
Conclusão e Mensagens práticas
A endoscopia digestiva alta (EDA) é fundamental no diagnóstico e tratamento da hemorragia digestiva alta (HDA). Entretanto, deve ser precedida por adequada estabilização clínica. A realização ultraprecoce da EDA, prescindindo da etapa supracitada, condiciona risco aumentado de mortalidade e é desencorajada. Dessa forma, na maioria das vezes, o endoscopista tem razão quando argumenta que o exame pode esperar, desde que respeitadas as janelas temporais de 6, 12 ou 24h, conforme as situações especificadas no corpo do texto.
Autoria

Leandro Lima
Editor de Clínica Médica da Afya ⦁ Residência em Clínica Médica (2016) e Gastroenterologia (2018) pelo Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC-UFMG) ⦁ Residência em Endoscopia digestiva pelo HU-UFJF (2019) ⦁ Preceptor do Serviço de Medicina Interna do HU-UFJF (2019) ⦁ Graduação em Medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
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