A astenia é um sintoma clínico caracterizado por sensação de cansaço, falta de energia e redução da vitalidade, que não melhora com o repouso. Trata-se de uma condição subjetiva, frequentemente descrita pelo paciente como “fraqueza generalizada” ou “fadiga persistente”, mas sem déficit de força muscular objetiva.
Do ponto de vista fisiopatológico, a astenia pode resultar de disfunções metabólicas, inflamatórias, neurológicas ou psíquicas, sendo, portanto, um achado inespecífico, porém de grande relevância diagnóstica.
Diferença entre astenia, fadiga e fraqueza muscular
Embora os termos sejam frequentemente usados como sinônimos, é essencial distingui-los:
- Astenia/Fadiga: descrevem a sensação de cansaço ou exaustão que não se relaciona diretamente ao esforço físico e não melhora com o descanso.
- Fraqueza muscular: corresponde à diminuição objetiva da força muscular, evidenciada no exame físico, e geralmente associada a doenças neuromusculares ou metabólicas.
A diferenciação entre esses conceitos é fundamental para direcionar a anamnese e os exames complementares adequados.
Astenia na prática clínica
A sensação de cansaço ou exaustão é um dos principais motivos de consulta na atenção primária no dia a dia da prática clínica. Esse sintoma precisa de uma abordagem ampla e pode ser observado em várias doenças clínicas, psiquiátricas ou relacionada ao estilo de vida. Também é comum a coexistência de mais de uma causa, tornando a avaliação multifatorial importante para compreensão de alguns quadros.
A observação das características que envolvem a astenia em si ou outros sintomas semelhantes de fraqueza também ajuda a definir as causas de origem mais comum. Para direcionar o raciocínio e decidir pela investigação das causas com exames simples ou avaliações mais complexas, avalie se o início foi rápido ou lento, se há fatores agravantes, como está a qualidade do sono e se há algum sintoma de alarme.
Tipos de astenia
A classificação da astenia auxilia na definição etiológica e na conduta terapêutica:
- Astenia física: predominância de sensação de cansaço corporal e redução da resistência física.
- Astenia psíquica: relacionada a sobrecarga emocional, depressão, ansiedade ou esgotamento mental.
- Astenia crônica: persistente por mais de seis meses, frequentemente associada à síndrome da fadiga crônica ou doenças sistêmicas.
- Astenia secundária: ocorre como manifestação associada a doenças de base, como câncer, insuficiência cardíaca, DPOC, hipotireoidismo, doenças infecciosas ou autoimunes.
O que é a astenia de primavera?
A chamada “astenia de primavera” não constitui uma entidade nosológica reconhecida, mas sim uma expressão popular para descrever fadiga e sonolência transitórias associadas às mudanças sazonais, especialmente na transição para a primavera.
Acredita-se que fatores como alterações no ritmo circadiano, temperatura, exposição solar e flutuações hormonais possam influenciar o quadro.
O que causa a astenia?
As causas de astenia são multifatoriais e, quando um paciente chega ao consultório relatando esse tipo de sintoma, o médico deve investigar causas além da fadiga inespecífica.
As causas mais comuns estão relacionadas a doenças orgânicas e muitas delas podem ter um manejo simples. As causas psíquicas devem ser consideradas frequentemente e podem vir acompanhadas de sintomas como sono não reparador, irritabilidade ou sensação de sobrecarga emocional. Outra causa comum são os fatores biopsicossociais, que precisam sempre de uma avaliação multidimensional para compreensão do quadro.
As principais causas de astenia podem ser agrupadas em três grandes eixos etiológicos:
Doenças orgânicas:
- Endócrinas, como o hipotireoidismo, que pode apresentar sintomas de fadiga persistente na maioria dos casos dos casos, ganho de peso, alterações cognitivas e distúrbios menstruais; a insuficiência adrenal, em que a astenia pode ser acompanhada por perda de peso, hipotensão postural, hiperpigmentação, hiponatremia e hiperpotassemia; e diabetes mellitus em que a fadiga pode ser associada a sintomas de hiperglicemia, complicações microvasculares e infecções recorrentes.
- Cardiovasculares, como insuficiência cardíaca e cardiomiopatias. Nessas causas, podem existir sintomas como dispneia aos esforços, ortopneia, edema periférico, intolerância ao exercício, palpitações e sinais de congestão ou baixo débito.
- Respiratórias, como DPOC, em que a astenia pode resultar do aumento do trabalho respiratório, disfunção muscular periférica, inflamação sistêmica, desnutrição e uso de corticosteroides sistêmicos; e apneia do sono, especialmente em pacientes obesos e idosos, com fadiga diurna e redução do desempenho funcional.
- Hematológicas, como anemias em que a redução da capacidade de transporte de oxigênio, pode levar à fadiga, intolerância ao exercício, dispneia e diminuição da qualidade de vida; e neoplasias hematológicas nas quais pode haver alteração do metabolismo do ferro, contribuindo para o quadro de astenia.
- Neurológicas, como esclerose múltipla, miastenia gravis e doenças neurodegenerativas. A astenia em doenças neurológicas pode afetar a motivação, atenção e cognição (central) ou gerar fraqueza muscular (periférica).
- Neoplásicas e infecciosas, como câncer, HIV, tuberculose e hepatites virais. Nesses casos, os principais mecanismos que levam a astenia estão relacionados a anemia, caquexia, inflamação sistêmica, efeitos do tratamento, depressão e distúrbios nutricionais.
Condições psíquicas:
- Depressão, transtornos ansiosos, burnout e distúrbios do sono.
Fatores biopsicossociais:
- Estresse crônico, alimentação inadequada, sedentarismo e uso de fármacos (antidepressivos, ansiolíticos, betabloqueadores).
Sintomas associados à astenia
Além da sensação de cansaço persistente, a astenia pode cursar com outros sintomas inespecíficos, como:
- Fraqueza generalizada;
- Dificuldade de concentração e lentificação cognitiva;
- Labilidade emocional;
- Dores musculares e cefaleia;
- Alterações do apetite e distúrbios do sono;
- Redução da libido e desinteresse pelas atividades diárias.
Essas manifestações variam conforme a etiologia subjacente e o perfil biopsicossocial do paciente.
Diagnóstico
O diagnóstico de astenia é essencialmente clínico, baseado em uma anamnese detalhada e exame físico minucioso.
É indispensável investigar o contexto temporal, a intensidade e os fatores desencadeantes do sintoma. Durante a anamnese, procure levantar informações detalhadas como início, duração e fatores de piora e melhora dos sintomas. Avalie se há outros sintomas associados, como perda de peso, febre, alterações do humor, sangramento, sintomas urinários ou gastrointestinais. Também questione o paciente sobre os hábitos diários, quantidade e a qualidade do sono, nível de atividade ao longo do dia e estado nutricional.
No exame físico, não deixe de incluir a avaliação cardiopulmonar, neurológica e da pele.
Exames complementares são indicados conforme a hipótese clínica, podendo incluir:
- Hemograma completo;
- Função tireoidiana (TSH, T4 livre);
- Glicemia, eletrólitos e função renal;
- Marcadores inflamatórios e provas hepáticas;
- Sorologias ou exames de imagem, quando houver suspeita de doença orgânica específica.
📎 Para saber mais sobre a importância da anamnese na prática clínica, acesse:
Anamnese: o que é, importância e como utilizá-la na rotina médica
Tratamento e manejo da astenia
O manejo da astenia deve ser direcionado à causa de base identificada.
Entre as medidas gerais e específicas, destacam-se:
- Tratamento das doenças subjacentes, quando presentes (ex.: reposição hormonal no hipotireoidismo, controle glicêmico no diabetes).
- Intervenção psicoterápica e farmacológica em casos de depressão ou ansiedade.
- Higiene do sono, prática regular de atividade física e alimentação equilibrada, que auxiliam na melhora da energia e disposição.
- Suporte multidisciplinar, com acompanhamento médico, psicológico e, quando indicado, fisioterápico ou nutricional.
Quando buscar ajuda médica
A avaliação médica é recomendada sempre que a sensação de cansaço for persistente (superior a algumas semanas), interferir nas atividades diárias ou estiver acompanhada de sinais de alarme, como:
- Perda de peso inexplicada;
- Febre prolongada;
- Dor precordial;
- Dispneia;
- Alterações cognitivas ou motoras.
A investigação precoce é fundamental para descartar doenças orgânicas graves e instituir tratamento adequado.
Este conteúdo foi produzido com o suporte de ferramentas de inteligência artificial (WB Assist e ChatGPT) e revisado pelo editor-médico.
WB Assist
Conteúdos do WB relacionados:
- Lorazepam
- Glicogenose Tipo V
Fadiga em Cuidados Paliativos
- Fadiga
Autoria

Leandro Lima
Editor de Clínica Médica da Afya ⦁ Residência em Clínica Médica (2016) e Gastroenterologia (2018) pelo Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC-UFMG) ⦁ Residência em Endoscopia digestiva pelo HU-UFJF (2019) ⦁ Preceptor do Serviço de Medicina Interna do HU-UFJF (2019) ⦁ Graduação em Medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.