Após o avanço das vacinas contra o SARS-CoV-2 e a grande aderência da população, detectou-se uma incidência maior de casos de miocardite após a administração da segunda dose da vacina anti-RNA mensageiro, principalmente em pacientes jovens do sexo masculino, entre 14 e 30 anos.
Foi descoberta recentemente a presença de anticorpos contra antagonistas de receptores da interleucina 1 (IL-1RA ) em adultos com infecção grave por covid-19 e em crianças com síndrome inflamatória multissistêmica. Um estudo publicado recentemente no The New England Journal of Medicine buscou avaliar a relação entre casos de miocardite e a presença de anticorpos IL-1RA.
Métodos
Foi avaliada a presença de anticorpos anti IL-1RA e progranulina que inibem de forma significante o fator de crescimento de necrose tumoral em 69 pacientes, entre 14 e 79 anos, que tiveram suspeita de miocardite após vacinação contra a covid-19.
Resultados
Nesse estudo, 61 pacientes com suspeita de miocardite foram encaminhados para biópsia e 40 pacientes obtiveram confirmação da doença. Dentre esses pacientes, 75% dos pacientes menores de 21 anos apresentavam anticorpos anti IL-1RA comparado com 11% dos pacientes mais velhos. Dos 21 pacientes que não obtiveram confirmação de miocardite pela biópsia, não foram encontrados anticorpos anti IL-1RA.
Os pacientes com biópsia positiva e presença de anticorpos anti IL-1RA apresentaram sintomas precoces e medianos da infecção logo após a segunda dose da vacina contra covid-19 e os pacientes com biópsia positiva, mas com ausência de anticorpos anti IL-1RA tiveram sintomas mais severos e mais tardios.
Informações colhidas anteriormente de pacientes com covid-19 severa, não evidenciaram reação cruzada entre os anticorpos anti IL-1RA e partículas virais como a proteína spike, o que fala contra a existência de uma mimetização molecular entre vacina e vírus.
Durante a infecção por miocardite, ainda nesse estudo, evidenciou-se que 15 pacientes com presença de anticorpos anti IL-1RA apresentavam 236 pg/ml de IL-1RA livre, 33 pacientes sem anticorpos com presença de 1.736 pg/ml de IL-1RA livre e 1.599 pg/ml de IL-1RA livre nos 21 pacientes que não obtiveram biópsia positiva.
E os níveis de IL-1RA no plasma estavam diretamente relacionados a presença de marcadores de lesão cardíaca (troponina,CK, CKMB,entre outros), a infiltração do tecido cardíaco por células inflamatórias e também a inflamação sistêmica. Também foi evidenciado que em pacientes com anticorpos anti IL-1RA existe uma correlação negativa entre níveis plasmáticos de IL-1RA e marcadores de lesão cardíaca.
Considerações
Evidências recentes apontam para uma hiperfosforilização transitória da IL-1RA que precede a interrupção da tolerância imunológica em pacientes com covid-19 severa. Em amostras de plasma, a presença de anticorpo IL-1RA coincide com a presença de bandas fracas de IL-1RA livres, porém com um sistema imune complexo com a presença de IL-1RA atípicas, principalmente em pacientes soropositivos para os anticorpos anti IL-1RA.
Essas formas atípicas da IL-1RA, com a hiperfosforilização, transformavam-se em treonina em uma posição atípica e eram encontradas em pacientes com covid-19 grave e crianças com síndrome inflamatória multisistêmica.
Mensagem prática
Finalizando, o estudo em questão demonstrou que pacientes jovens do sexo masculino e com miocardite confirmada por biópsia após a segunda dose da vacina contra covid-19 anti-RNA mensageiro apresentaram anticorpos anti IL-1RA e formas de IL-1RA hiperfosforiladas. Esses anticorpos diminuem a atividade da IL-1RA, reduzindo, consequentemente, a sua circulação, e estão associados diretamente à presença de biomarcadores de lesão cardíaca e inflamação sistêmica.
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.