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Clínica Médica5 setembro 2025

Análise de anticorpos de reação cruzada contra o coronavírus humano e felino

Estudo revela reatividade cruzada entre coronavírus humano e felino, mas sem proteção eficaz contra covid-19.

Investigar a capacidade de estimulação de produção de anticorpos com reatividade cruzada entre diferentes tipos de coronavírus, incluindo humanos e felinos. A investigação se baseou no estudo da região do fusion peptide (FP) da proteína spike do SARS-CoV-2-altamente conservada entre alfa e betacoronavírus. O estudo foi sobre reatividade cruzada de anticorpos em laboratório, e não houve infecção experimental de sangue humano com coronavírus felino.  

Mecanismos principais de imunidade no corpo humano:  

IMUNIDADE HUMORAL: significa que os anticorpos estão envolvidos na destruição do organismo. Se os anticorpos não estiverem envolvidos, o processo não está relacionado à imunidade humoral. As células B plasmáticas produzem anticorpos e, portanto, são a principal célula da imunidade humoral. As células B são um tipo de APC que apresenta antígeno às células T Th2 CD4+ via MHC II. 

As células Th2 ativam as células B para se tornarem células plasmáticas + induzem a troca de classe de isótipo das células B por meio da interação CD40L-CD40 (CD40L na célula Th2; CD40 na célula B). 

Portanto, as células B e as células T Th2 CD4+ são células essenciais na imunidade humoral.  

IMUNIDADE MEDIADA POR CÉLULAS: significa imunidade “mediada por células T” que não envolve anticorpos para matar o organismo. 

  • Células T CD8+ citotóxicas matam células nucleadas que apresentam antígeno intracelular em moléculas do MHC I, nas quais a célula T CD8+ libera granzimas, granulisinas e perforinas, induzindo a apoptose da célula-alvo. Isso não envolve anticorpos e, portanto, é imunidade mediada por células, não humoral. 
  • Células Th1 CD4+ ativam macrófagos através da alça IFN-γ-IL-12 para matar organismos fagocitados. Nenhum anticorpo é produzido em relação a esse processo. 
  • Células T CD8+, Th1 CD4+ e macrófagos são, portanto, parte da imunidade mediada por células. 

As células dendríticas são outro tipo de APC que fazem parte da imunidade humoral e mediada por células, dependendo se a interação MHC II-TCR resulta em uma resposta Th1 (mediada por células) ou Th2 (humoral). 

Resposta imune humana contra o SARs-CoV2 

Aspecto 

Imunidade Celular 🧬 

Imunidade Humoral 💉 

Principal alvo 

Células humanas infectadas pelo vírus 

O próprio vírus circulante (antes de entrar na célula) 

Tipo de linfócito 

Linfócitos T CD8+ (citotóxicos) 

Linfócitos B → plasmócitos 

Ativação via MHC 

MHC I (nas células infectadas) ativa CD8+ 

MHC II (nas APCs) ativa CD4+ → que ajudam os B 

Função principal 

Destruir células infectadas, impedindo replicação viral 

Produzir anticorpos (IgM, IgG, IgA) para neutralizar e eliminar o vírus 

Células auxiliares 

Linfócitos T CD4+ (Th1) → liberam citocinas para reforçar a ação dos CD8+ 

Linfócitos T CD4+ (Th2/TFH) → ajudam na ativação e maturação dos linfócitos B 

Efeito final 

Controle direto da infecção eliminando reservatórios do vírus 

Bloqueio da infecção e eliminação viral extracelular 

Memória 

T CD8+ de memória (resposta rápida em novas infecções) 

B de memória + anticorpos de longa duração (IgG) 

Em suma, APCs apresentam antígenos via MHC II para linfócitos T CD4+, que ativam linfócitos B a produzirem anticorpos (imunidade humoral), enquanto o MHC I ativa linfócitos T CD8+ para eliminar células infectadas (imunidade celular). 

Imunidade celular (T CD8+) = Mata as células infectadas pelo vírus. 

  • Imunidade humoral (B/anticorpos) = neutraliza o vírus livre.
  • As duas trabalham juntas, coordenadas pelos linfócitos T CD4+ auxiliares.

Amostras analisadas 

Foram divididos os grupos entre aqueles que usaram soros humanos (antes e depois da pandemia), os que usaram soros de gatos naturalmente infectados com coronavírus felino (FeCV/FIPV). Foram analisados peptídeos conservados da proteína spike (fusion peptide) em testes de ligação de anticorpos (ELISA, pepscan, ensaios funcionais). 

Não houve exposição de células humanas diretamente ao coronavírus felino. O objetivo foi apenas verificar se anticorpos humanos (mesmo antes da pandemia) reconheciam regiões semelhantes entre coronavírus de diferentes espécies, e se anticorpos felinos reconheciam também regiões homólogas do SARS-CoV-2. 

Detecção de anticorpos cruzados 

Aproximadamente 50% dos soros humanos pré-pandemia apresentaram reatividade cruzada com SARS-CoV-2, embora sem atividade neutralizante significativa. 

A maioria dos pacientes com covid-19 desenvolveu anticorpos cruzados que também reagiram com coronavírus endêmicos como HCoV-OC43 e 229E. Tudo isso justifica o prolongamento da doença dando continuidade à pandemia e à dificuldade em se combater a doença.  

Identificação de epítopo conservado 

Através de pepscan, foi descoberto que um peptídeo específico (chamado PEP3) —  na região N-terminal do FP — é altamente imunogênico em infecções por coronavírus de diferentes espécies. 

Reatividade cruzada em gatos 

Soros de gatos infectados com coronavírus felino (FeCV/FIP) também reconheceram o epítopo PEP3, assim como os homólogos de HCoV-OC43 e 229E. 

Isolamento e funcionalidade dos anticorpos 

  • Anticorpos humanos purificados por afinidade ao PEP3 mostraram vinculação ampla a distintos coronavírus, incluindo SARS-CoV-2, HCoV-OC43, HCoV-229E e FeCV. 
  • Entretanto, sua capacidade de neutralizar o SARS-CoV-2 foi muito fraca e transitória em testes celulares. 

Possíveis funções não neutralizantes 

Embora não neutralizantes, esses anticorpos podem exercer funções efetivas mediadas por Fc (como ADCC ou opsonização), o que pode influenciar a gravidade ou evolução da infecção. 

Poderia, então, a exposição humana ao coronavírus felino ter a capacidade de produzir anticorpos contra o Sars-CoV-2 (humano) a ponto de neutralizar o vírus e auxiliar no combate a doença? 

      No trabalho realizado, a exposição humana ao coronavírus felino (FCoV) não induziu fabricação de anticorpos eficazes contra a doença covid-19, lembrando que não houve exposição de células humanas diretamente ao coronavírus felino. O objetivo foi verificar se anticorpos humanos (mesmo antes da pandemia) reconheciam regiões semelhantes entre coronavírus de diferentes espécies. 

  Portanto, foi observado que, embora anticorpos gerados por infecção em felinos puderam reconhecer a região do SARS-CoV-2 (o FP), eles não conferem neutralização efetiva do vírus humano. Logo, não há evidências de que a exposição ao coronavírus felino seja capaz de proteger contra a covid-19 em humanos. 

Conclusão e mensagem prática 

Houve reação cruzada de anticorpos humanos e felinos contra um epítopo conservado do SARS-CoV-2, mas esses anticorpos não neutralizam de forma eficaz o vírus humano. Isso sugere que exposição prévia a coronavírus de animais ou humanos pode gerar reconhecimento parcial, mas não proteção real contra covid-19. 

Relatos de médicos veterinários expostos a gatos com coronavírus felino que possuíam alta concentração de anticorpos no sangue contra a covid-19 podem ser explicados de duas maneiras: 

  1. A detecção em testes sorológicos para anticorpos do SARS-CoV-2 poderiam reagir de forma cruzada com anticorpos de outros coronavírus, gerando um resultado positivo mesmo que a pessoa nunca tenha sido infectada pelo SARS-CoV-2 e que, portanto, embora os anticorpos possam se ligar ao SARS-CoV-2, eles podem não impedir a infecção e não serem verdadeiramente protetores. 
  1. Médicos veterinários expostos a gatos podem ter anticorpos parcialmente reativos ao SARS-CoV-2 devido a similaridade entre os coronavírus humano e felino. 

Isso explicaria alguns estudos que sugerem que. entre médicos veterinários, a maioria dos casos de covid-19 foi leve ou assintomática, mas que não se pode afirmar a casualidade entre os dados. Porém, explica os achados de sorologia positiva antes da vacinação ou da infecção. 

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Referências bibliográficas

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