Diante da sensibilidade das inúmeras demandas que se fazem necessárias uma abordagem nova em tratamentos de dor e regeneração, a capacidade de se extrair do próprio sangue periférico células-tronco pluripotentes sem a necessidade de recorrer a técnicas complexas como gradientes de densidade ou reagentes para lise de eritrócitos, este método se mostrou extremamente eficiente, prático e, o mais importante, acessível.
Entre as principais causas de dor crônica, estão esforço repetitivo, lesões ou sobrecarga mecânica continuada. Isso nos remete a pacientes que são submetidos desde tratamentos agressivos com cirurgias ou uso prolongado de medicações até abordagens conservadoras como fisioterapia, uso de anti-inflamatórios nao esteroidais e corticoides. Embora todos esses tratamentos possam trazer algum alívio momentâneo ou acalmar a “tempestade” inflamatória, muitos permanecerão com dor incapacitante associado a traumas psicológicos gerados pela dor e a colaterais indesejados que algumas medicações podem trazer.
O que são as pequenas células pluripotentes (SBSCs)?
As Small Blood-derived Stem Cells (SBSCs) são um tipo de células-tronco muito pequenas (< 6 micrômetros) que podem ser isoladas do sangue periférico humano. Diferentemnte de outras células-tronco, elas são pluripotentes (carregam marcadores embrionários como Nanog, OCT-4, SOX-2, KLF4 e c-Myc), o que confere a elas a capacidade de se diferenciar em diversos tipos de celulas. T ambém apresentam marcadores mesenquimais e hematopoiéticos, sugerindo que são versáteis — capazes tanto de regenerar tecidos musculoesqueléticos quanto de modular inflamação.
Estudo
O artigo a ser analisado foi publicado na revista Biomedicines em março de 2023 e mostra que existe um método simplificado de isolamento direto do sangue periférico, tornando a coleta menos invasiva e mais prática do que fontes tradicionais como medula óssea ou tecido adiposo.
A metodologia consistiu na extração de sangue periférico de voluntários saudáveis entre 20 e 30 anos de idade, utilização de duas etapas de centrifugação e filtração do sangue integral fresco, dispensando métodos feitos anteriormente que limitavam o rendimento. O processo resultou em uma população abundante de células pequenas com características de pluripotência, nomeadas SBSCs.
Relevância e aplicabilidade clínica
Podem se diferenciar em cartilagem, osso, tendão, musculo e até células neuronais. Abre caminho para tratar condições como: osteoartrire , tendinopatias crônicas ou neuropatias dolorosas. Terapia alternativa menos invasiva, personalizada e autóloga, promissora quando tratamentos convencionais falham.
O baixo risco de rejeição também é um ponto interessante e o fato de que podem ser obtidos com menos custo e menor complexidade. A pluripotência com potencial regenerativo sugere que SBSCs podem se diferenciar em múltiplas linhagens celulares – essencial para regeneração de tecidos lesados que causam dor crônica (como cartilagem, nervos e tendões).
Populaçãoao celular heterogênea com múltiplas aplicações mostrando coexpressão de marcadores mesenquimais e hematopoiéticas fazendo com que o SBSCs tenham versatilidade no que diz respeito a processos de reparo e modulação inflamatória, que é fundamental em condições dolorosas crônicas.
Método viável, eficiente e de baixo custo com boa aplicabilidade e facilidade no entendimento da técnica para que seja possível realizá-lo em clínicas simples e assim gerando uma ampla contribuição no tratamento da dor.
Expressam marcadores embrionários de pluripotência, como Nanog e SSEA-3, além dos fatores de Yamanaka (OCT-4, SOX-2, KLF4, c-Myc). Uma parcela dessas células também coexpressa marcadores hematopoiéticos (CD45, CD90) e mesenquimais (CD29, CD105, PTH1R), indicando uma população mista e potencialmente versátil. A proteômica quantitativa detectou proteínas relacionadas à manutenção e autorrenovação das células, como CD9, ITGA6, STAT3, HSPB1, HSPA4, além de fatores regulatórios (STAT5B, ANXA2, ATF6, CAMK1).
Comparativos do que já existe no mercado da medicina regenerativa
Característica |
SBSCs (pequenas células pluripotentes do sangue) |
PRP (plasma rico em plaquetas) |
MSCs (céulas-tronco mesenquimais) |
Origem |
Sangue periférico (coleta simples, não invasiva) |
Sangue periférico (centrifugação) |
Medula óssea ou tecido adiposo (coleta invasiva) |
Natureza celular |
Células-tronco pluripotentes, capazes de se diferenciar em vários tecidos |
Plasma com plaquetas e fatores de crescimento, não contém células-tronco |
Células-tronco multipotentes, com capacidade de diferenciação (osso, cartilagem, músculo e tendão) |
Mecanismo principal |
Regeneração tecidual + modulação inflamatória + liberação de fatores bioativos |
Estímulo da cicatrização e regeneração via fatores de crescimento (sem diferenciação celular) |
Diferenciação celular + secreção de fatores imunomoduladores e regenerativos |
Aplicabilidade clínica para dor cronica |
Potencial futuro em osteoartrite, tendinopatias, neuropatias dolorosas, reparo de tecidos degenerados |
Já usado em tendinopatias, osteoartrite, dor musculoesquelética refrataria |
Usado em osteoartrite grave, degeneração discal, lesões articulares cronicas |
Nivel de evidencia atual |
Pré-clínico/ experimental ainda em fase inicial de pesquisa |
Moderado a alto- Já há RCTs mostrando eficácia em dor musculoesquelética |
Moderado-crescente número de ensaios clínicos, mas custo alto e uso limitado |
Complexidade do preparo |
Baixa a moderada (novo metodo simples descrito em 2023) |
Baixa (centrifugação simples, já disponível em muitas clínicas) |
Alta (exige coleta invasiva, processamento em laboratório especializado) |
Invasividade do procedimento |
Baixa (apenas coleta de sangue periférico) |
Baixa (apenas coleta de sangue periférico) |
Alta (punção de medula ou lipoaspiração) |
Custo estimado |
Potencialmente baixo (ainda experimental, sem padronização de mercado) |
Moderado (já acessível em muitos países) |
Alto (processo complexo e infraestrutura especializada) |
Segurança |
Potencialmente alta, por ser autóloga; ainda faltam dados clínicos |
Alta (autólogo, raros efeitos adversos) |
Alta, mas risco maior pela coleta invasiva e manipulação extensa |
Tempo de resposta |
Desconhecido- depende de estudos futuros. |
3 a 12 meses de efeito (alguns estudos mostram melhora até 24 meses) |
Resultados mais prolongados em degenerações graves, mas ainda em estudo |
Em suma:
- PRP → Já é realidade clínica hoje, eficaz em dor crônica musculoesquelética de tendões e articulações, fácil de aplicar.
- MSCs → promissoras para casos graves de degeneração (ex.: osteoartrite avançada, dor discogênica), mas são caras e de difícil acesso.
- SBSCs → representam o futuro da medicina regenerativa, com potencial de combinar facilidade do PRP com a capacidade regenerativa das MSCs. Ainda carecem de ensaios clínicos, mas podem revolucionar o tratamento da dor crônica nos próximos anos.
Conclusão e mensagem prática
As SBSCs são células-tronco pluripotentes presentes no sangue periférico e podem ser isoladas por um método simples. Elas apresentam tanto características mesenquimais quanto hematopoéticas e também expressam marcadores de pluripotência. Embora seu papel funcional ainda não esteja totalmente esclarecido, essas células demonstram grande potencial para aplicações em medicina regenerativa. No futuro, podem representar uma importante fonte autóloga para diagnósticos e tratamentos personalizados, com a vantagem de não gerar rejeição imunológica.
Porém, a maior parte das evidências está em fase laboratorial ou pré-clínica. Ainda são necessários ensaios clínicos robustos para comprovar segurança, eficácia e protocolos ideais de aplicação, especialmente sobre dose, via de administração (intra-articular, intratendínea, perineural), frequência e resultados de longo prazo precisam ser estabelecidas.
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