A vacinação contra covid-19 aumenta o risco de reativação das doenças autoimunes?
Pesquisadores desenvolveram um trabalho com o objetivo de avaliar a associação entre a vacinação contra a covid-19 e a ocorrência de flares das DRIM.
As doenças reumáticas imunomediadas (DRIM) estão associadas com um risco aumentado de hospitalização e morte pela covid-19. Apesar disso, apenas 54% dos pacientes com DRIM que participaram do estudo VAXICOV estavam dispostos a se vacinar contra a doença.
Os principais receios estavam relacionados às novas tecnologias empregadas e ao risco de reativação da doença de base. Segundo dados publicados, 5-15% dos pacientes autorrelataram reativação da DRIM após a vacinação. O estudo COVAX avaliou o risco de flares das DRIM e encontrou que eles ocorriam, na média, 6 dias após a vacinação. No entanto, este estudo não possuía grupo controle, o que aumenta o grau de incerteza quanto aos seus resultados.
Por esse motivo, Nakafero et al. desenvolveram um trabalho com o objetivo de avaliar a associação entre a vacinação contra a covid-19 e a ocorrência de flares das DRIM.
Métodos
Trata-se de uma série de casos autocontrolados, no qual um paciente foi controle dele mesmo. Foram utilizados dados do CPRD, um banco de dados eletrônico que contém informações de mais de 19 milhões de pacientes de 738 clínicas gerais.
Foram incluídos pacientes com 18 anos ou mais, com uma ou mais consultas por DRIM, que fizeram uso de pelo menos um DMARD sintético convencional antes de dezembro/2020 e receberam pelo menos uma dose de alguma vacina contra a covid-19. O período de estudo foi de 01/12/2020 a 31/12/2021. As vacinas analisadas foram a da Pfizer, da Astrazeneca e da Moderna.
O desfecho de interesse foi a ocorrência de flares das DRIM, que foi definida como uma consulta no seu médico da atenção primária que foi finalizada com um código de uma DRIM, seguida de prescrição para tratamento de flare no mesmo dia da consulta ou no dia seguinte. Cada paciente poderia contribuir com múltiplos flares, desde que fossem separados por 14 dias de intervalo entre eles.
Os períodos de seguimento foram divididos em pré-vacinação (7 dias antes), período de exposição (até 21 dias após) e período sem exposição (todo o restante).
Resultados
Foram incluídos 3554 casos, com idade média de 65 anos, predomínio do sexo feminino. Quase 70% dos pacientes eram portadores de artrite reumatoide (AR); a segunda doença mais frequente foi polimialgia reumática/arterite de células gigantes (15,7%), seguida das espondiloartrites (7,7%) e doenças difusas do tecido conjuntivo/vasculites de pequenos vasos (8,4%). A maioria recebeu Astrazeneca (57,9%), seguida da Pfizer (42%) e, por último, Moderna (0,1%).
Curiosamente, os pacientes apresentaram menor risco de flare no período após exposição à vacina (até 21 dias), com razão de taxa de incidência ajustada de 0,89 (IC95% 0,80 a 0,98). Mesmo após diversas análises (tipo de DRIM, vacina aplicada, infecção prévia pelo SARS-CoV-2), os resultados foram consistentes.
Comentários
Os autores concluíram que a vacinação contra a covid-19 não se associou com um risco aumentado de reativação das DRIM, independente da análise realizada.
Esse dado reforça ainda mais a segurança das vacinas e pode ser útil no convencimento para que pacientes portadores de DRIM se vacinem contra essa doença potencialmente grave.
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