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Clínica Médica5 janeiro 2025

A mortalidade de trabalhadores imigrantes é a mesma que a de trabalhadores locais?

Estudo buscou sintetizar evidências globais sobre o risco de mortalidade de trabalhadores migrantes e identificar determinantes sociais
Por Renato Bergallo

A migração para fins laborais é um fenômeno crescente, com estimativas apontando para uma população de 170 milhões de trabalhadores imigrantes em todo o mundo, representando cerca de 5% da força de trabalho global. Apesar de desempenharem papéis fundamentais em diversos setores essenciais, esses trabalhadores frequentemente enfrentam condições de trabalho insalubres e perigosas, estando mais sujeitos a acidentes ocupacionais e abusos trabalhistas. Um estudo publicado na The Lancet Public Health, em novembro de 2024, intitulado Workplace mortality risk and social determinants among migrant workers: a systematic review and meta-analysis, buscou esclarecer se os trabalhadores imigrantes possuem um risco aumentado de mortalidade em comparação aos trabalhadores locais, além de identificar possíveis determinantes sociais associados a esse desfecho.

Os pesquisadores conduziram uma revisão sistemática e meta-análise de estudos quantitativos publicados entre 2000 e 2023. Foram incluídos 44 estudos, abrangendo dados de 16 países, predominantemente de alta renda. Os participantes eram trabalhadores imigrantes de diversos setores, como construção, agricultura, mineração e serviços. O desfecho primário analisado foi a mortalidade, incluindo mortalidade geral, causas específicas, suicídio, homicídio e lesões ocupacionais fatais. A análise utilizou modelos de efeitos aleatórios para calcular estimativas agrupadas, com avaliação da heterogeneidade estatística.

Resultados

Com relação a lesões ocupacionais fatais, o estudo encontrou que trabalhadores imigrantes apresentaram um risco 71% maior de morte por este tipo de lesão em comparação aos trabalhadores locais (RR: 1,71; IC 95%: 1,22–2,38). Os setores em que isso se mostrou de maneira mais aparente foram agricultura, construção e manufatura.

Apesar do risco aumentado de lesões ocupacionais fatais, os trabalhadores imigrantes apresentaram uma menor mortalidade geral, com risco 6% menor em relação aos trabalhadores locais (RR: 0,94; IC 95%: 0,88–0,99). No entanto, os imigrantes foram mais propensos a morrer por causas externas, como quedas (RR: 1,85; IC 95%: 1,30–2,62) e agressões (RR: 1,92; IC 95%: 1,45–2,85), do que por causas internas, como doenças respiratórias e digestivas. Homicídios relacionados com trabalho se mostraram mais comuns em setores como varejo e entre profissionais do sexo.

Os resultados destacaram alguns fatores estruturais que se mostraram associados à mortalidade, como precariedade do emprego, baixa proficiência linguística e status migratório irregular. Além disso, políticas de desregulamentação econômica e condições inseguras de trabalho também se apresentaram como exacerbadores desses riscos.

Os achados da análise parecem corroborar com estudos anteriores que indicam taxas elevadas de lesões não fatais entre trabalhadores imigrantes, como fraturas e traumas oculares. Além disso, apontam em uma direção divergente à tese do “efeito do migrante saudável”, que indicaria que imigrantes geralmente apresentam melhores indicadores de saúde devido a uma natural seleção de indivíduos mais saudáveis para migração e todo o desgaste envolvido no processo.

Conclusões: mortalidade de trabalhadores imigrantes

O estudo destaca a urgência de intervenções que promovam segurança e saúde ocupacional, especialmente para trabalhadores imigrantes em setores de alto risco. Entre elas estão:

  • Implementação de treinamentos de segurança adaptados ao idioma e à cultura dos imigrantes;
  • Extensão de leis de proteção trabalhista para incluir trabalhadores imigrantes;
  • Monitoramento sistemático de indicadores de saúde ocupacional desagregados por status migratório, conforme preconizado pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). 

Embora os trabalhadores imigrantes demonstrem uma vantagem geral de mortalidade, eles enfrentam riscos substancialmente maiores de lesões ocupacionais fatais, destacando uma iniquidade relacionada à saúde cuja abordagem é essencial. Intervenções focadas em fatores estruturais e individuais parecem ser caminhos para reduzir essas desigualdades. Estudos futuros devem explorar soluções para aumentar a inclusão de imigrantes em sistemas nacionais de segurança e saúde ocupacional.

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Referências bibliográficas

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