Introdução
Único meio potencialmente curativo nos tumores periampulares, a duodenopancreatectomia (cirurgia de Whipple) é um procedimento complexo e com índices de morbidade e de mortalidade elevados associados ao grande porte cirúrgico e complicações pós-operatórias como fístulas, deiscências, infecções, dentre outros.
O entendimento das complicações inerentes a duodenopancreatectomia é fundamental para que sejam tomadas medidas para minimizar os riscos. No entanto, um levantamento das complicações depende do olhar do especialiasta que conduz a avaliação. Baseado nisso O International Study Group for Pancreatic Surgery (ISGPS), um grupo formado por especialistas em cirurgia do pâncreas, conduziu um estudo com a finalidade de avaliar a variabilidade entre observadores em relação a complicações cirúrgicas após duodenopancreatectomia.
Metodologia
O ISGPS conduziu um estudo multicêntrico transversal internacional que envolveu oito países em três continentes distintos, englobando ao todo 390 pacientes submetidos a duodenopancreatectomia no período entre 2020-2021, em 13 instituições médicas com alto volume nesse tipo de cirurgia.
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Resultados e Discussão
A cirurgia é o único meio potencialmente curativo para pacientes portadores de tumores periampulares, que envolvem cabeça do pâncreas, ampola de Vater, 2ª porção duodenal e tumores distais das vias biliares. A duodenopancreatectomia, também conhecida como cirurgia de Whipple, possui um índice elevado de complicações pós-operatórias, com índices estimados entre 26% a 40%.
O ISGPS avaliou a variabilidade interobservador para cinco complicações pós-duodenopancreatectomia: fístula pancreática, hemorragia, estase gástrica, fístula biliar e acúmulo de fluído linfático (quilo). As complicações foram classificadas em Graus A, B e C e as pontuações em duas categorias: pontuação dupla (sem complicação/complicação Grau A vs Grau B) e pontuação tripla (sem complicação/ Grau A vs Grau B vs Grau C).
Os resultados do estudo revelaram uma variabilidade considerável interobservador entre as diferentes instituições. No pontuação dupla, a taxa de concordância foi de 68% entre as instituições e foi classificada como moderada. Já na pontuação tripla, a concordância foi razoável, com taxa de 55%. Isso significa que a classificação das complicações em diferentes níveis de gravidade variou muito entre os centros. Como exemplo, o artigo citou a avaliação de um cirurgião como grau C em uma determinada complicação e, na maioria das outras instituições, essa mesma complicação foi classificada como grau B.
No entanto, entre especialistas de uma mesma instituição, onde foram avaliados em média 30 pacientes em cada centro, a variabilidade interobservador foi aceitável. A concordância foi classificada como substancial, com taxas de 84%.
Afinal, o que esses resultados representam?
A grande variabilidade interobservador identificada no estudo elaborado pelo ISGPS demonstra que não há um padrão para classificação das complicações cirúrgicas entre diferentes instituições. Essa falta de padronização implica em prejuízos para estudos científicos que possam trazer benefícios e melhorias na qualidade do atendimento. A classificação correta das complicações cirúrgicas fornecem uma estrutura segura para pesquisa de resultados e permite que os especialistas envolvidos usem uma linguagem comum para avaliação e comparação de resultados entre diferentes instituições.
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