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Cirurgia3 maio 2022

Utilização das células-tronco mesenquimais na regeneração tecidual

Células-tronco mesenquimais são células multipotentes diferenciadas, com capacidade de originar apenas um limitado número de tipos teciduais.

Por Úrsula Neves

As células-tronco sempre despertaram grande interesse na comunidade científica por conta de suas características biológicas peculiares que as tornam possíveis ferramentas clínicas em diversas áreas biomédicas. Já as células-tronco mesenquimais (CTMs), por sua vez, são células multipotentes, um pouco mais diferenciadas, presentes no indivíduo adulto, com capacidade de originar apenas um limitado número de tipos teciduais. Essas células são designadas de acordo com o órgão do qual derivam e podem originar somente células deste órgão, possibilitando a regeneração tecidual local

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Ainda não há um marcador específico para a caracterização das CTMs. A expressão variável de muitos dos marcadores superficiais pode ser explicada não somente pelos diferentes protocolos utilizados para o isolamento celular e caracterização do cultivo, mas também pela variação na fonte ou tipo de tecido de onde são obtidas as células, assim como, a idade e o sexo do paciente.

As principais fontes de obtenção das CTMs atualmente são a medula óssea, o cordão umbilical, o tecido adiposo, o líquido amniótico e a polpa dentária.

Nestas últimas décadas, muitos estudos clínicos investigam o uso terapêutico das CTMs no tratamento da osteoporose, no reparo de tendões, na doença renal, de fígado e no infarto do miocárdio. Os resultados evidenciam que as CTMs da medula óssea e do tecido adiposo — tanto alogênicas como autólogas — são seguras, simples e efetivas para o tratamento de doenças autoimunes e inflamatórias crônicas, como a diabetes mellitus tipo 1 e o glaucoma avançado.

Outras pesquisas estão avaliando se as células-tronco mesenquimais (CTMs) aplicadas na derme em feridas operatórias recentes possuirão capacidade de favorecer o processo regenerativo da derme lesada cirurgicamente, gerando cicatrizes menores, delgadas, estéticas e/ou ausentes após seis meses a um ano de reparo tecidual.

Em um desses estudos em andamento participa o médico Alexei Gama de Albuquerque Cavalcanti, que vem de uma família de cirurgiões-dentistas.

“Como dentista, trabalhei com implantodontia e cirurgias orais, onde enxertos ósseos poderiam contar com tecnologias associadas, como a do plasma rico em plaquetas (PRP), utilizada para acelerar o processo de cicatrização e a regeneração óssea após procedimentos cirúrgicos, e o da fibrina, rica em plaquetas e leucócitos (L-PRF), uma alternativa para a regeneração de tecidos moles e tecidos duros, mas foi na medicina que comecei minha pesquisa sobre regeneração tecidual”, contou o diretor-técnico da Clínica Vitruviana e residente de cirurgia plástica, no Hospital da Plástica, no Rio de Janeiro, em entrevista ao Portal PEBMED.

Utilização das células-tronco mesenquimais na regeneração tecidual

Regeneração da pele

O trabalho em andamento citado visa entender a aplicação das células-tronco durante o ato operatório em regiões onde aconteceram as incisões cirúrgicas para que seja formada uma cicatriz menos intensa, menos perceptível e que a regeneração local seja mais próxima possível do natural após seis meses a um ano de reparo tecidual.

“Pela padronização do estudo, vamos realizar ensaios com as abdominoplastias, pois trata-se de uma cicatriz muito longa, de ilíaco a ilíaco, que pega toda a região da cintura. Então, é mais fácil de padronizar em termos de centímetros e de quantidade nas áreas de aplicação das células. Isso está em desenvolvimento em parceria com a R-Crio, primeiro centro especializado na técnica de isolamento, expansão e armazenamento de células-tronco do dente, tecido adiposo e periósteo do palato do país, com sede em Campinas, no interior de São Paulo. Aliás, estamos abertos para parcerias com empresas ou universidades que queiram compartilhar ou somar ideias, investimentos ou pessoas para o desenvolvimento dessa área de pesquisa”, revelou Alexei Gama.

A criopreservação é um meio de paralisar a idade das células, permitindo que o indivíduo em questão tenha acesso às suas células jovens para o resto da vida. Com isso é possível aproveitar da qualidade mais interessante das células-tronco: a sua capacidade de diferenciação.

As células-tronco mesenquimais, mais especificamente, são capazes de se transformarem, em condições adequadas, em diversas outras células do corpo, como células de ossos, músculos, pele, cartilagem, tecido nervoso, células produtoras de insulina, vasos sanguíneos, entre muitos outros tipos.

E assim, o tratamento, e até mesmo a cura, de enfermidades que hoje são consideradas incuráveis tornou-se cada vez mais próximo e real.

Outras utilizações das CTMs

Outro ponto importante dentro da utilização das células-tronco mesenquimais, obtida da gordura do próprio corpo do paciente, é que elas podem servir também para fins estéticos, trazendo um resultado muito natural em procedimentos, como o rejuvenescimento da pele, o preenchimento de sulcos, o clareamento de olheiras e de manchas provocadas pelo sol. As células-tronco mesenquimais (CTMs) podem substituir com sucesso os estimuladores de colágeno e ainda os preenchedores injetáveis, por exemplo.

“Há uma área de pesquisa muito forte na cosmiatria que utiliza as células-tronco junto aos enxertos adiposos para preenchimentos, tanto para pacientes com doenças — congênitas ou adquiridas — onde há perda de tecido adiposo, quanto para preenchimentos estéticos. Isso porque o tecido adiposo, sem as células-tronco, tem uma instabilidade muito grande e tende a se reabsorver de uma forma imprevisível. Por esse motivo, a cosmiatria sempre buscou outros materiais um pouco mais previsíveis no tempo de reabsorção. O tecido adiposo é uma fonte fantástica de células-tronco e, enriquecido com células-tronco cultivadas no laboratório, o enxerto, no caso do tecido adiposo, tem uma previsibilidade de sucesso e de manutenção muito maior. São muitos os trabalhos nesse sentido! É uma linha que, futuramente, quero trabalhar”, relatou Alexei Gama.

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Para o médico e cirurgião-dentista, o principal desafio nesta área para os profissionais de saúde está no desenvolvimento desses protocolos de calibração para saber qual a dose correta de células-tronco para que a mesma seja aplicada da melhor maneira em cada condição ou enfermidade que necessite de tratamento.

“Eu não tenho dúvidas que as células-tronco são um dos caminhos para o futuro da medicina. E é muito importante que a comunidade médica se abra mais para esse tipo de conhecimento, além de encontrarmos mais empresas e hospitais que invistam em programas de biotecnologia para apoiar pesquisas neste campo tão promissor”, concluiu Alexei Gama.

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Referências bibliográficas

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