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Cirurgia21 julho 2025

Toxina botulínica para tratamento de dor miofascial

Estudo compara técnicas de aplicação de toxina botulínica no masseter para dor miofascial. Veja qual método mostrou melhores resultados.

Dor miofascial é a mais prevalente na face após dor de origem dental e se caracteriza pela presença de pontos gatilhos dolorosos (TrP) ativos ou latentes com áreas de rigidez muscular, fraqueza local e limitação de amplitude de movimentos da face e pescoço. 

A infiltração de toxina botulínica tipo A(BoTA), em pontos-gatilho miofasciais (TrP) tem demonstrado eficácia analgésica e boa tolerabilidade clínica. Seu mecanismo de ação consiste na clivagem da proteína SNAP-25, impedindo a liberação de neurotransmissores nas terminações nervosas. Esse bloqueio impede a liberação de acetilcolina na junção neuromuscular, responsável pela contração muscular. Adicionalmente, a toxina exerce efeito analgésico por modular a liberação de neuropeptídeos e interferir em múltiplas vias de modulação da dor. 

Um estudo publicado em 2021 avaliou a eficácia da injeção de BoTA em TrP associados à dor miofascial do músculo masseter (MM), os resultados não foram significativos e com recorrência precoce da dor. Esses achados foram atribuídos à anatomia do MM, que dificultaria a distribuição homogênea do material injetado entre as suas diferentes porções, causando um abaulamento paradoxal do músculo, resultante de contrações assimétricas entre seus feixes musculares. 

O objetivo do presente estudo, publicado em 2024, foi avaliar e comparar a eficácia de duas técnicas de infiltração de BoTA em pontos-gatilhos miofasciais do MM guiada por ultrassonografia (USG) — as técnicas intraoral e transcutânea extraoral — e análise de diferentes variáveis de desfecho clínico. 

toxina botulinica

Materiais e Métodos 

Estudo prospectivo, randomizado, cego, realizado entre setembro de 2022 e dezembro de 2023 na Universidade Fayoum, Egito, envolvendo pacientes com diagnóstico de dor miofascial e presença TrP no MM, unilateral ou bilateral, associados à limitação de abertura oral. 

Os pacientes foram alocados em dois grupos distintos de intervenção, cada um com 21 indivíduos: Injeção Intraoral (IIO) e Injeção Extraoral (IEO) e o tempo de seguimento pós-procedimento foi de 6 meses. 

A intervenção consistiu na identificação dos TrP no MM por meio de avaliação clínica e ultrassonográfica, seguida da administração de 0,1ml toxina botulínica A em dose única. No grupo IIO a agulha foi inserida lateralmente à borda anterior do ramo da mandíbula no MM e a profundidade de inserção foi guiada por ultrassonografia. No grupo IEO a injeção foi realizada através da pele, à uma distância de 1 a 2 cm do TrP, com a agulha formando ângulo de 30º com a superfície cutânea. 

Todos os pacientes foram avaliados nos momentos pré-procedimento e aos 1, 3 e 6 meses pós-procedimento. Os desfechos incluíram: intensidade de dor, mensurada por escala visual analógica de dor (EVA); máxima abertura bucal (MAB) determinada pela distância interincisivos e impacto na qualidade de vida avaliado por meio do questionário validado Oral Health Impact Profile – 14 (OHIP-14). 

Resultados e Discussão 

O estudo incluiu 42 pacientes, igualmente distribuídos entre dois grupos de intervenção (21 pacientes por grupo), idade média 35,8 anos no grupo IIO e 33,8 no grupo IEO. Houve predomínio de mulheres, representando 80,9% dos participantes. Não ocorreu de perda de seguimento ao longo do estudo, reações adversas à toxina botulínica ou quaisquer complicações relacionadas ao procedimento. 

Em relação aos desfechos analisados a intensidade da dor, avaliada pela EVA, foi significativamente maior na avaliação pré-procedimento e apresentou queda importante já no primeiro mês pós-procedimento para ambos os grupos. Os valores de intensidade de dor foram menores para o grupo IIO em todos os intervalos avaliados pós procedimento, com diferenças estatisticamente significantes em1 mês (p= 0,005), 3 meses (p=0,008) e 6 meses (p=0,008) em comparação ao grupo IEO. 

A MAB apresentou o seu menor valor na avaliação pré-procedimento e aumentou após a intervenção em ambos os grupos. O grupo IIO apresentou valores superiores de MAB nos períodos 1 e 3 meses, com significância estatística (p=0,002 e p=0,004 respectivamente) e sem diferença significativa aos 6 meses (p=0,927). 

Quanto à qualidade de vida, mensurada pelo questionário OHIP-14, não houve diferença estatisticamente significativa entre os grupos na avaliação basal e no primeiro mês pós-procedimento. Entretanto, os escores do OHIP-14 foram significativamente menores no grupo IIO aos 3 e 6 meses (p=0,001 e p=0,007, respectivamente), sugerindo uma melhora progressiva e sustentada na qualidade de vida dos pacientes submetidos à abordagem intraoral em comparação à extraoral. 

Mensagem prática 

Os resultados do estudo, com mérito por ser randomizado, prospectivo e com avaliação de desfechos pertinentes à assistência desses pacientes, evidenciam benefícios em relação à diminuição da intensidade de dor, melhora amplitude de abertura de boca e da qualidade de vida e superioridade em comparação à técnica de injeção extraoral.  

A IIO permite uma precisa aplicação da toxina botulínica nas porções mais profundas do músculo masseter, local onde alguns autores relacionam à existência de mais pontos gatilhos e terminações nervosas, tornado mais efetivo os efeitos da toxina botulínica e evitando complicações como disseminação para estruturas adjacentes da face ocasionando paralisias faciais e xerostomia. 

Veja também: Toxina Botulínica além da estética: quais os tratamentos?

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Referências bibliográficas

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