A cirurgia minimamente invasiva (CMI), tanto por videolaparoscopia quanto por via robótica, vem ganhando cada vez mais espaço. Com algumas vantagens sobre a tradicional cirurgia aberta, a CMI proporciona recuperação cirúrgica mais rápida, menor tempo de internação, menores taxas de deiscência de ferida e de infecção.
A despeito de várias técnicas já padronizadas na CMI, o fechamento dos portais ainda é uma questão a se definir. Em relação a pele, pode-se usar suturas (SU), grampeadores cirúrgicos (GC) ou colas teciduais (CT) a depender da preferência do cirurgião e da disponibilidade de materiais na instituição.
Um estudo irlandês publicado em janeiro de 2025 teve por objetivo comparar 3 métodos distintos para fechamento de pele – SU (com fios absorvíveis), GC e CT – visando estabelecer o método ideal de fechamento da ferida operatória em videolaparoscopias.
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Métodos
Trata-se de um ensaio clínico multicêntrico, randomizado, que avaliou 147 pacientes submetidos a cirurgia abdominal eletiva por videolaparoscopia entre agosto de 2020 e julho de 2021.
O objetivo primário do estudo foi a avaliação do resultado estético entre os três diferentes métodos de fechamento de pele. Os desfechos secundários foram taxa de complicações da ferida operatória, tempo gasto no fechamento, custo-efetividade e sustentabilidade cirúrgica. As complicações foram acompanhadas pelo cirurgião assistente por um período de 3 meses.
Os locais de extração da peça cirúrgica não entraram na avaliação do estudo devido a características peculiares como feridas maiores e contaminação como nas cirurgias colorretais.
Resultados
Dos 147 pacientes inicialmente recrutados e randomizados, 9 (6,1%) perderam seguimento e, dessa forma, 138 (93,9%) foram incluídos na análise final. Desses, 48 pacientes pertenciam ao grupo SU, 63 ao grupo GC e 27 ao grupo CT.
A avaliação do desfecho primário revelou superioridade da SU em relação aos outros 2 métodos. A avaliação desse desfecho foi realizada por escores do ponto de vista do paciente (Scar score – PSS) e do cirurgião (Observer Scar Score – OSS) em que, quanto menor a pontuação, melhor o resultado. As feridas fechadas por SU apresentaram menor vascularização (2,5 vs 3,2 para GC e 3,9 para TG, p= 0,001), menor pigmentação (2,6 vs. 2,8 para GC e 3,7 para CT, p = 0,006), menor espessura (1,8 vs. 2,6 para GC e 2,9 para CT, p < 0,001), menor relevo (1,7 vs. 2,4 para GC e 2,5 para CT, p = 0,003) e menor flexibilidade (1,7 vs. 2,2 para GC e 2,7 para CT, p < 0,001).
No que se refere aos desfechos secundários, 12 (8,7%) pacientes apresentaram complicações cirúrgicas, que corresponderam a 8 infecções do sítio cirúrgico e 4 deiscências de ferida operatória. Não houve diferença estatisticamente significativa entre os 3 métodos de fechamento de ferida em relação a complicações.
Entretanto, o tempo médio de fechamento de feridas foi menor pelo método GC (média de 1,8 minutos) em comparação com CT (média de 5,5 minutos) e SU (média de 6,1 min), com diferença estatisticamente significativa entre GC e os outros 2 métodos (p< 0,001).
Em relação ao custo-efetividade, o método SU foi superior em relação aos outros 2, com significância estatística (p < 0,001 e valores registrados de € 4,22 por paciente. Os custos por paciente do GC e CT foram € 21,10 e € 71,97, respectivamente.
O que podemos levar para casa?
O presente estudo revelou que a sutura absorvível tem melhor resultado estético e menor custo em relação ao grampo cirúrgico e cola tecidual. A única vantagem dos outros métodos foi do GC com menor tempo.
Além disso, no Brasil, o método mais amplamente disponível nas instituições, tanto públicas como privadas, é a sutura. Dessa forma, a sutura, além de ser um método com menor custo, apresenta melhor resultado estético e o menor tempo apresentado pelo GC não consegue superar essas duas vantagens, principalmente quando se considera o tempo total de cirurgia.
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