Rinoplastia: o uso de ácido tranexâmico pode ser um aliado no controle do sangramento?
A rinoplastia é uma cirurgia plástica realizada na maioria das vezes para melhorar a estética facial e a capacidade respiratória do paciente.
A rinoplastia é uma cirurgia plástica realizada na maioria das vezes para melhorar a estética facial e a capacidade respiratória do paciente. Durante o procedimento, rotineiramente ocorre a necessidade da realização de fratura do osso nasal com lesão dos vasos angulares.
Isso, somado a dificuldade de realização de hemostasia, pode levar a complicações intra e pós-operatórias, como sangramento, que aumenta o tempo cirúrgico, tempo de hospitalização e a morbimortalidade, como também edema palpebral e equimose periorbital. Essas alterações oculares ocasionam uma diminuição da acuidade visual transitória, além de promover hiperpigmentação da região, levando a um resultado cosmético tardio insatisfatório para o paciente.
Muitas técnicas são realizadas para tentar diminuir o sangramento intraoperatório e o edema palpebral durante a rinoplastia, como, por exemplo, a realização de hipotensão induzida, resfriamento do paciente, uso da cabeceira elevada, administração de drogas como corticosteroides, remifentanil em infusão contínua, metropolol no pré-anestésico, desmopressina venosa ou infiltração local com lidocaína associada a vasopressor.
Alguns estudos vem evidenciando também o uso de ácido tranexâmico (AT) como grande aliado para o controle do sangramento intraoperatório.
Ácido tranexâmico na rinoplastia
O AT é um agente antifibrinolítico que age bloqueando os receptores de lisina no plasminogênio, impedindo a degradação da fibrina pela plasmina. O seu uso tem demonstrado bastante significância em cirurgias ortopédicas, cardíacas, de coluna e odontológicas, sem apresentar efeitos adversos de tromboembolismo, como infarto agudo do miocárdio, trombose venosa profunda ou trombose pulmonar. Muitos estudos e revisões de artigos demonstram o benefício do uso de AT em cirurgias de rinoplastia.
O AT também possui uma ação anti-inflamatória, promovendo a diminuição da interleucina-6 e das proteínas da fase aguda inflamatória, levando a uma diminuição do edema peripalpebral na primeira semana de pós-operatório. Além disso, a supressão dos produtos de degradação da fibrina, da creatina-quinase e da proteína-C reativa, levam a uma diminuição da fibrinólise com diminuição do sangramento intraoperatório e posterior formação de equimose periorbitária.
Em relação à via de administração, estudos vêm revelando que o AT realizado por via oral na dose de 1 g, 2 horas antes da cirurgia é mais efetivo em relação a diminuição do sangramento intraoperatório do que administrado por via endovenosa na dose de 10 mg/kg durante o procedimento cirúrgico. Esse fato se dá pela diferença de concentração plasmática entre as duas vias.
O pico de concentração plasmático ocorre em torno de 2 a 4 horas após a sua administração, sendo que após 6 horas os níveis plasmáticos de AT administrados por via venosa encontram-se em valores subterapêuticos, enquanto que por via oral, após esse período, ainda permanecem acima dos níveis mínimos efetivos. Além disso, o AT oral tem um custo financeiro bem mais em conta para paciente.
Em relação ao uso de corticosteroides para diminuir o processo inflamatório e prevenir náuseas e vômitos no pós-operatório, estudos comprovam que uma única dose de corticoide, realizada no início do procedimento, não é suficiente para diminuir o edema de face no período pós-operatório em comparação com o uso de AT.
Em se tratando de desencadeamento de eventos tromboembólicos, não foi relatado nenhuma ocorrência durante a primeira semana pós-procedimento com o uso de AT, evidenciando uma segurança razoável na sua utilização em rinoplastias.
Conclusão
Como conclusão da análise de vários estudos atualmente disponíveis, podemos dizer que o uso de AT, tanto por via oral como endovenosa, promove uma diminuição clinicamente significativa no sangramento intraoperatório, além de contribuir para uma diminuição de edema e equimose periorbitária com segurança, tornando seu uso efetivo também em cirurgias de rinoplastia.
Referências bibliográficas:
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- Gausden EB, Qudsi R, Boone MD, OʼGara B, Ruzbarsky JJ, Lorich DG. Tranexamic acid in orthopaedic trauma surgery: a meta-analysis. J Orthop Trauma. 2017;31(10):513-519.
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