A diverticulose é uma condição clínica muito frequente e sua incidência vem aumentando em todo o mundo ocidental e oriental. Uma minoria da população que apresenta essa condição pode desenvolver um quadro de diverticulite aguda e até complicações tais como abscessos, perfurações, entre outras.
Em virtude desta doença ser mais frequente no cólon sigmoide, não há na literatura atual dados que indicam qual o melhor tratamento a ser empregado, podendo esse ser cirúrgico (sigmoidectomia por videolaparoscopia) ou conservador.
Foi realizado então um estudo com o objetivo de comparar a melhor forma de tratamento em pacientes pós-diverticulite (conservador versus cirúrgico), analisando a qualidade de vida, complicações e recorrência da doença.

Métodos
Foi realizado um ensaio clínico randomizado, denominado LASER (Laparoscopic Elective Sigmoid Resection Following Diverticulitis), multicêntrico, de grupos paralelos.
O estudo foi conduzido em 6 hospitais na Finlândia, entre 2014 e 2018, com 90 pacientes, sendo a maioria mulheres, com idades entre 18 e 75 anos.
Os pacientes, após preencherem os critérios diagnósticos de diverticulite aguda, com ou sem complicações, foram alocados em 2 grupos de forma aleatória, sendo 45 pacientes submetidos ao tratamento cirúrgico (sigmoidectomia por videlaparoscopia em até 3 meses) e 45 pacientes submetidos ao tratamento conservador (orientações dietéticas e suplementação de fibras).
Foram analisados escores de qualidade de vida gastrointestinal imediatamente e 6 meses após a terapia emprega entre os grupos, baseados em tratamentos intencionais inicialmente e depois ajustados por protocolos.
Esses pacientes obtiveram um acompanhamento pós-terapêutico em até 4 anos. Um valor de p < 0,05 foi considerado como relevância estatística. As análises estatísticas foram feitas como o software SPSS versão 25.
Resultados
Após a análise dos dados, verificamos que um terço (32%) dos pacientes randomizados para o grupo conservador falharam ao tratamento, com piora na qualidade de vida e necessitaram de abordagem cirúrgica.
Evidenciou-se ainda que pacientes submetidos ao tratamento cirúrgico inicialmente, apresentaram menor recorrência (10% versus 90%) de episódios de diverticulite aguda em comparação ao grupo conservador (p < 0,001).
Acompanhado a isso, notou-se que a qualidade de vida gastrointestinal também foi mais alta no grupo cirúrgico (115,31 versus 109,78 em tratamentos iniciais; 116,25 versus 111,38 após ajustes por protocolos), porém não houve relevância estatística (p = 0,31). Não houve diferença estatística em relação às complicações pós-operatórias.
Discussão
A diverticulite aguda é uma condição clínica frequente nos pronto-atendimentos e a melhor conduta a ser realizada deve ser individualizada.
De acordo com o estudo apresentado, pacientes que foram submetidos ao tratamento eletivo de sigmoidectomia por videolaparoscopia não apresentaram melhora significativa da qualidade de vida nesse acompanhamento de 4 anos, apesar de diminuir recorrências das crises e redução discreta das complicações.
O tratamento conservador pode ser optado em quadros iniciais, onde não há uma alteração da qualidade de vida. Em contrapartida, os pacientes que tomaram essa decisão pelo tratamento conservador e falharam nesses 4 anos necessitando de intervenção cirúrgica, apresentaram maior índice de complicações. Portanto, a indicação da melhor abordagem deve ser discutida entre a equipe médica e o paciente.
Mensagem prática:
1 – O tratamento da diverticulite aguda deve ser individualizado e requer uma abordagem multidisciplinar.
2 – A abordagem cirúrgica reduz a recorrência de episódios de diverticulite aguda, porém não interfere na qualidade de vida e nem na redução de complicações.
3 – Pacientes que falham à abordagem conservadora e necessitam de tratamento cirúrgico apresentam maior número de complicações.
Autoria

Rodolfo Kalil de Novaes Santos
Graduado em Medicina pelo Instituto Metropolitano de Ensino Superior (IMES), em Ipatinga (MG), no ano de 2017. Residência Médica em Cirurgia Geral no ano de 2020 pela Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte (MG) e Residência Médica em Cirurgia do Aparelho Digestivo no ano de 2024 pelo Hospital Governador Israel Pinheiro - IPSEMG. • Cirurgião geral na Casa de Caridade Hospital São Paulo; Casa de Saúde Santa Lúcia e Prontocor. Docente da disciplina de anatomia II da Faculdade de Minas (FAMINAS) de Muriaé (MG).
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